ROMA ANTIGA PARTE I - A FORMAÇÃO E A MONARQUIA
A formação da Roma antiga
ü Localização geográfica: Península Itálica (Rio Tibre)
a) Origem Histórica:
ü Séc. X a.C. – italiotas (povos de origem indo-europeia) ocuparam a região centro-norte da península. Eles se dividiam em diversos grupos ou tribos, como os sabinos, os latinos.
ü Ao norte viviam, na Etrúria, habitavam os etruscos, que constantemente atacavam as aldeias das tribos italiotas.
ü Séc. VIII a.C. – Latinos se uniram e construíram uma fortificação para se defender de ataques dos Etruscos.
b) Origem Lendária:
Lenda de Rômulo e Remo (gêmeos que foram amamentados por uma loba)
Diz a lenda que quando Tróia caiu, o príncipe troiano Enéias conseguiu salvar-se. Após uma longa peregrinação, chegou ao Lácio. O filho de Enéias fundou a cidade de Alba Longa. Os descendentes de Enéias reinavam em Alba. Um deles, foi Numitor, que tinha uma filha Réia Silvia. Silvia foi seduzida pelo deus grego Ares (para os romanos Marte) ficando então grávida de gêmios.
Numitor tinha um irmão, Amúlio. Este desejava o trono de Alba Longa deu um golpe de estado, apoderou-se da coroa e fez Numitor seu prisioneiro. Réia Sílvia foi entregue ao colégio de Vestais. Amúlio ao saber que Sílvia teria dado a luz a gêmeos, para que Numitor não tivesse descendentes, colocou as crianças em um cesto e os lançou no rio Tibre. A correnteza jogou o cesto para a margem. Os dois irmãos foram salvos por uma loba enviada por Marte, que os amamentou e os protegeu.
Os dois irmãos foram achados pelo pastor Fáustulo, ele os recolheu, deu-lhes os nomes de Rômulo e Remo e confiou-os a Aca Larência, sua esposa. Já adulto, Remo envolveu-se numa rixa com alguns pastores, foi preso e conduzido a Amúlio. Informado por Fáustulo das circunstâncias do seu nascimento, Rómulo dirigiu-se ao palácio e libertou o irmão. A seguir, matou Amúlio, restabelecendo no trono a seu avô Numitor.
Numitor, agradecido, deu-lhes o direito para fundar uma cidade às margens do Tibre. Para saberem o local onde seria mais propícia a sua edificação, seguiram os presságios, como era de costume na época. Remo dirigiu-se ao Aventino e viu seis abutres sobrevoarem o monte. Indo até o Palatino, Rômulo viu doze aves. Então, Favorecido pelos augúrios, Rômulo fez um sulco em volta da colina, demarcando o pomerium, recinto sagrado da nova cidade. Enciumado por não ter sido escolhido pelos presságios, Remo escarneceu do irmão, afirmando que o local era mal protegido; num salto, atravessou o sulco. Os dois se lançaram em um briga e Remo foi morto por Rômulo, que o enterrou sob o Aventino.
Após a fundação da cidade, Rómulo preocupou-se em povoá-la. Criou um Capitólio para refúgio de todos os banidos, devedores e assassinos da redondeza. Como faltavam mulheres, durante uma festa, os novos habitantes raptaram todas as jovens do povo vizinho, os sabinos. Estes, reunidos sob o comando de Tito Tácio, atacaram Roma. Com a ajuda de Tarpéia, conseguiram penetrar no Capitólio. Entretanto, graças à intervenção pacificadora das mulheres, romanos e sabinos assinaram um tratado de paz. Tito Tácio e Rómulo passaram a governar em conjunto. Depois da morte de Tito Tácio, Rómulo reinou sozinho durante 33 anos.
A influência etrusca e grega
É certo que os etruscos influenciaram muitos costumes romanos e chegaram a dominar Roma durante vários anos.
ü Hábito de vestir túnica,
ü A prática religiosa de interpretar a vontade divina pela observação das vísceras de animais
ü Culto a Júpiter (deus romano do dia, comumente identificado com o deus grego Zeus) e Minerva (deusa romana das artes e da sabedoria, correspondente à grega Atena).
ü Roma cresceu com a presença dos etruscos: o comércio aumentou, canais de drenagem foram construídos para secar os pântanos nas planícies e a área onde ficava o fórum tornou-se o centro da cidade, local de mercado e de assembleias políticas.
I. MONÁRQUIA (753 A.C. - 509 A.C.)
Organização Social
Nesse período, a sociedade romana dividia-se basicamente em quatro grandes grupos:
a) PATRÍCIOS
(do latim patres, pais, chefes de família) consideravam-se descendentes dos fundadores de Roma. E, assim, justificavam o fato de se-rem os únicos a possuir todos os direitos políticos. Formavam a aristocracia, eram os mais ricos, possuíam a maior parte do gado e das terras e ocupavam altos postos no exército.
b) PLEBEUS
(de plebes, multidão) formavam a maioria da população. Pobres, viviam como camponeses, artesãos, comerciantes, faziam parte do exército romano em épocas de guera e, geralmente, trabalhavam para os patrícios. Alguns plebeus eram pequenos proprietários de terra. A maioria dos plebeus era livre, mas sem direitos políticos, o que os impedia de participar do governo da cidade. Mesmo quando enriqueciam, continuavam sem ter o direito de participar das decisões que envolviam a vida de Roma. Muitos plebeus eram convocados para a guerra em plena época de plantio e colheita. Quando voltavam, viam-se obrigados a contrair empréstimos, usando sua propriedade como garantia (hipoteca). Quando não conseguiam pagar as dívidas, perdiam a propriedade e a liberdade, tornando-se escravos.
c) CLIENTES
Grupo intermediário entre os patrícios e os plebeus –, que eram servidores ou protegidos dos nobres. Esse grupo era constituído, em geral, por pessoas pobres, escravos libertos, estrangeiros que enriqueceram por meio do comércio, ou por filhos ilegítimos, que dependiam da proteção de um patrício para sobreviver.
d) ESCRAVOS
A maioria da população escrava era composta de indivíduos vencidos em guerra. Não possuíam nenhum direito, eram considerados instrumentos de trabalho e recebiam castigos pesados.
Organização Política:
a) O REI
Concentrava o poder, acumulando várias funções. Além dele, a cidade era administrada pelo
b) SENADO
Instituição formada por representantes das famílias mais importantes de Roma. O Senado era responsável pela escolha do rei, preparava uma lista de três candidatos e a apresentava à Assembleia das Cúrias
c) ASSEMBLEIA DAS CÚRIAS
A Comitia Curiata compunha-se de cidadãos agrupados em cúrias. Todas integradas por guerreiros com até 45 anos. Função era Eleger altos funcionários, Aprovar ou rejeitar leis e Aclamar o rei. No entanto, os poderes eram limitados: devia ouvir a opinião do Senado em todas as questões relativas à cidade e também dependia das assembleias para garantir seu poder.
O fim da Monarquia em Roma
No final do século VI a.C, os reis etruscos foram responsáveis por vários problemas: desrespeito as tradições romanas, entre elas o respeito às decisões do Senado; eram extremamente autoritários, o que dificultava sua relação com os aristocratas de Roma; além disso, viram seu poder enfraquecer devido às frequentes guerras. Tal situação favoreceu a oposição e o levante dos patrícios, que acabaram por expulsar os etruscos em 509 a.C., no governo de Tarquínio Soberbo, dando início ao período da história romana conhecido como República.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
Projeto Araribá: História – 6º ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6º ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
Fonte: Histo é História.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
O Show de Truman/ O Show da Vida: Comparações entre o mundo "real" e "virtual".
Texto retirado do Blog "A Casa de Vidro" que enfatiza os "reality shows", fenômenos da cultura de massa contemporânea, e podemos também colocar as redes sociais nesse circulo. Baseado no filme "O Show de Truman" (Truman traduzido literalmente como "o homem de verdade") essa obra-prima do diretor australiano Peter Weir (o mesmo de Sociedade dos Poetas Mortos) tem que ser entendida e interpretada para o momento "virtual" em que vivemos nesse dias atuais...
Texto escrito por Eduardo Carli de Moraes.
A Caverna de Platão, reinventada na era hi-tech da indústria cultural: eis o que The Truman Show concretiza frente a nossos olhos. A febre televisiva dos reality shows – fenômeno da cultura de massa que se tornou uma epidemia com a proliferação de Big Brothers e similares – é o tema do filme de 1998 realizado pelo cineastra australiano Peter Weir (o mesmo de Sociedade dos Poetas Mortos).
A ironia começa no título: The Truman Show seria mais apropriadamente traduzido como “O Show do Homem de Verdade”, o espetáculo “honesto” do true man. Só que o programa de TV em questão exorbita em falsidade, artificialidade, sendo claramente percebido pelo espectador como um mundo fake, como uma pseudo-realidade. Estamos diante de alguém que parece-nos preso numa cidade-de-brinquedo, numa vila artificial como estas que se fabrica nos jogos à la Simcity.
Neste Simcity-real que é Hollywood, por exemplo, edificam-se cidades cenográficas inteiras, fabricam-se pirotecnias e efeitos especiais mil, para poder criar um produto midiático cuja conexão com a realidade muitas vezes se perdeu tão amplamente que vemos diante dos olhos um carrossel de mentiras filmadas. Com o terreno todo minado pelas iscas do merchandising.
O personagem interpretado por Jim Carrey é o prisioneiro de uma Caverna similar àquela descrita por Platão em seu diálogo A República, só que agora numa versão atualizada para a era digital e cibernética. Assim como na Caverna estavam acorrentados os prisioneiros, que nada viam além das imagens fantasmáticas projetadas na parede de seu cárcere, Truman é o prisioneiro de uma ilha, gerida pela indústria do entretenimento, onde ele é tratado sempre, desde o princípio de seus dias, como uma marionete, um títere a ser manipulado, um peão a mexer no tabuleiro de xadrez do Espetáculo, sempre com o fim de maximizar os Ibopes e os lucros…
Todas as táticas astuciosas do merchandising estão sendo ironicamente criticadas pelo filme: Truman é muitas vezes coagido, pelas pessoas com quem “convive” na cidade cenográfica de que é um prisioneiro iludido, a postar-se diante dos anúncios publicitários. Empurram Truman para um cenário urbano onde, no segundo plano, vê-se um outdoor seduzindo para as delícias de um frango frito vendido nas junkfoodarias ao estilo McDonald’s e KFC. Enquanto joga golfe no asfalto, com seu falso amigo (na verdade um ator…), Truman é interpelado pela ideologia subliminar do consumismo: olhando para as câmeras com o rosto de quem está deliciosamente embriagado, mostrando claramente para a lente a marca da cerveja, o “amigo” obriga Truman a ouvir repetidas vezes: “Meu caro, não há cerveja mais deliciosa do que esta!” (Na real, o interlocutor não é Truman, de verdade, mas o imenso público de telespectadores que precisam ser convencidos a comprar o produto da marca Y…).
De modo similar, sua esposa está frequentemente conversando com Truman ao modo de um anúncio ambulante de gadgets à disposição no supermercado: reclama com o maridão que a grama está muito mal cortada, para em seguida recomendar que cumpre comprar uma máquina nova, melhor, mais charmosa, à venda no WalMart, em promoção imperdível, proclamada nos slogans como revolucionária invenção da maravilhosa e humanitária empresa X…
A mesma “estrutura narrativa” do mito da Caverna platônico também é utilizada no filme de Weir, que descreve como Truman de certo modo vai buscando libertar-se de sua prisão, passando a questionar a veracidade do mundo que rodeia seus sentidos. A descoberta de sua condição de escravo manipulado pela indústria do entretenimento é o que constitui a verdade aventura do filme. Truman vai “despertando” para sua real condição: a de alguém que foi desde o princípio ludibriado.
Quando começa a descobrir-se como alguém que foi enganado, alguém que foi encerrado na prisão – literal e mental – de uma Caverna que Marx & Engels analisarão sob o conceito de ideologia. Truman é prisioneiro da caverna ideológica no sentido de que foi. por 10.000 dias. o funcionário exemplar da maquinaria do Espetáculo, trabalhando sorridente para o lucro e o deleite dos empresários midiáticos, que enriqueciam suas contas bancárias com a venda de mercadorias nos tele-mercados altamente capitalizados.
O filme, porém, descreve uma crise, que se passa aproximadamente no dia 10.000 do programa (uma longevidade impressionante, mas que não é inteiramente irrealista: vejam quanto tempo de duração no ar tiveram shows televisivos como Seinfeld, Friends, Chaves, Trapalhões, Jô Soares etc.). Todo o cenário destinado a ludibriar Truman começa a desabar como um castelo de cartas na ventania. O prisioneiro começa a se debater contra aquilo que o acorrenta à Caverna, aquilo que o prende a esta ilha de enganações impostas por autoridades invisíveis.
Truman, se um dia pôde engolir direitinho a lorota ideológica, que lhe inculcou o pensamento de que ele vivia num dos lugares mais maravilhosos da terra, a ilha de Seahaven, no decorrer do filme vai rebelando-se contra a cidade. Vai tornando-se, de cidadão respeitador da lei e da ordem, em anárquico subversor de limites e regras.
Além do mais, se Truman pode escapar às teias totalitárias do sistema que o rodeia com suas câmeras de onivigilância, é também porque seu mundo subjetivo não é totalmente domável pelo poder. Não se controla tão facilmente a “vida afetiva” de um ser humano como se faz com um robô programado a responder aos comandos de um controle remoto. Vejam, por exemplo, esta “cena” chave do quebra-cabeças: para os empresários de TV, foi apenas uma bela cena, um ótimo produto da teledramaturgia, quando Truman, em sua infância, velejando no mar com seu pai, enfrentou uma tempestade (artificalmente induzida, é claro!), e na qual seu pai supostamente morreu afogado e foi sepultado no chão do oceano, para nunca ter seu cadáver encontrado. Pode-se imaginar os magnatas da mídia celebrando os milhões de dólares provindos dos picos de audiência. Para Truman, porém, aquilo não é “cena”, é vivência; e torna-se, é evidente, um trauma.
Cedo no filme nos damos conta do caráter neurótico de Truman, que cedo se manifesta no seu sintoma da fobia à água. Em seu trabalho, mandam-lhe realizar um serviço em outra ilha, que exige uma viagem de balsa (ferryboat), mas Truman, ao encaminhar-se ao barco, é acossado e possuído pelo trauma, pelo retorno da experiência antiga e amarga. Sua fobia o impede de seguir viagem. A fobia de Truman é o que prende-o a Seahaven e o que, no filme, ele terá o empenho heróico de superar.
A neurose que lhe restou como legado de suas vivências como prisioneiro da indústria cultural de espetáculos lucrativos é também a raiz de sua insatisfação existencial, inseparável esta de sua rebeldia. A tensão dramática impressionante do filme tem a ver com o conflito interior que toma conta do personagem enquanto ele vê digladiarem-se, em seu peito, o “conservadorismo”/conformismo daquele que adapta-se e não questiona, de um lado, e o ímpeto de rasgar o véu de Maya e saber de fato o que está ocorrendo, de outro.
Se, por um lado, o peso do passado lhe legou o imobilismo e a fobia, ou seja, a incapacidade psicológica e física de escapar pelo mar, por outro lado Seahaven vai tornando-se tão mais insuportável quanto mais Truman vai desvelando sua verdadeira natureza: a de uma prisão. Da prisão da ideologia só podemos nos libertar quando tivermos plena consciência de sermos prisioneiros! Rosa Luxemburgo dizia que “quem não se move não sente as correntes que o prendem”. Truman, conforme o filme progride, sente cada vez melhor as correntes que o prendem, e esta consciência da servidão, a insatisfação diante desta condição servil, são aquilo que dá força à seu ímpeto rebelde, disruptivo.
Não sei se concordam comigo, mas para o meu gosto o filme fica bom mesmo quando Truman vai virando a ovelha negra, o caso-de-polícia, o perigoso subversivo. Pois o filme versa também sobre o fracasso, em última instância, do poder controlador e manipulador que procura seu domínio através da vigilância e do policiamento mais invasivos. Temos no filme Truman Show, pois, uma prefiguração de toda a temática que veio à tona com as revelações de Edward Snowden e as práticas cotidianas, nos EUA, da NSA (National Surveillance Agency). Certas forças políticas acabaram por acreditar que 1984, o clássico romance-denúncia de George Orwell, era um manual de instruções (!), ao invés de uma contundente porrada dada nos totalitarismos de ambições dominadoras.
A Sociedade do Espetáculo revelou-se como a era dos control freaks, com a proliferação de um complexo industrial carcerário e policial que atinge, em especial nos EUA (mas também no Brasil, na Rússia, na China e em tantas outras regiões) a dimensão de uma epidemia bastante triste onde o aprisionamento em massa, para punir os pobres, encontra-se articulado com uma indústria cultural destinada a perpetuar ideologias de sistemas econômicos e políticos que são justamente os responsáveis pelo militarismo, pelo belicismo, pelo frenesi carcerário. Truman é “prisioneiro de luxo”, é claro, e sua condição nem de perto lembra a condição execrável em que são condenados a viver os “condenados” pela Justiça, lançados ao sistema carcerário hoje dominante…
A teia de mentiras, tecida ao redor de Truman, começa a colapsar quando ele revê seu pai, que ele pensava morto, reaparecer em cena como um mendigo. Para economizar uns trocados, a empresa de TV provavelmente resolveu utilizar o mesmo ator para personagens diferentes, o que é o estopim para a onda de ceticismo que toma conta de Truman. Desconfiando ele desperta. É duvidando da veracidade do sistema à sua volta que ele começa, mexendo-se, a sentir as correntes que o prendem. Sua insurgência, é claro, nasce de modo instintivo e um tanto caótico.
Como um bicho feroz numa jaula pequena, começa a sonhar em ir para a ilha de Fiji – que é exatamente do outro lado do mundo, o lugar mais longínquo que existe para ele. Que Truman queira vazar para o mais longe possível de Seahaven é um sinal de sua insatisfação com sua condição. O filme de Peter Weir vai convertendo-se aos poucos em um jailbreak, uma aventura de fuga-da-prisão, mas bem mais alegórica do que os enredos realistas de filmes como Fuga de Alcatraz, Papillon, Um Sonho de Liberdade.
O sistema organizou-se ao seu redor no sentido de amedrontá-lo diante da perspectiva de viajar, de partir. Ele tenta comprar uma passagem de avião para Fiji, mas é óbvio que não conseguirá do sistema tão fácil o seu tíquete de fuga. Tudo fazem os “donos do jogo” para dissuadir Truman de escapar de sua jaula dourada. Como uma mosca aprisionada na teia do poder, Truman tenta escapar dos controles, mas tem a experiência reiterada de que o poderio dessa entidade controladora é muito extenso. Com seus tentáculos, que parecem estar em toda parte, o grande polvo do “poder” tenta impedir todas as rotas de fuga de Truman. Suas tentativas de escapar devem apenas gerar boas cenas de ação, aumentos nos picos de audiência, mas devem mantê-lo preso ao labirinto, como um rato de laboratório.
Com o carro, Truman tenta se dirigir a Atlantic City, depois a New Orleans, mas o polvo do poder não cessa de interpor obstáculos em seu caminho, fabricando trânsito congestionado, botando fogo em estradas ou simulando uma contaminação radioativa que impede o tráfego na via. É como se uma divindade transcendente se manifestasse em atos ao redor de Truman. Mas não se trata de um deus, mas sim do personagem de Ed Harris, o “coordenador” daquela peça complexa de teledramaturgia…
O Ed Harris encarna a figura do manipulador-mor, do mestre-de-títeres; para ele, Truman, apesar de um homem de carne-e-osso, é tratado como marionete, como boneco. Provocar emoções intensas em sua cobaia, o Truman que é seu rato-de-laboratório-midiático, é a função desta figura cheia de poderio. Ele “orquestra” não apenas um programa de TV, mas todo um sistema de doutrinação social, toda uma máquina difusora de ideologia.
Um exemplo muito concreto: o Titereiro Christof (Ed Harris) conduz sua cobaia (O Truman, Jim Carey) de experiência traumática (a suposta morte do pai) a re-encontro triunfal – e o Ibope bomba! Truman descobre que seu pai não morreu de fato naquela noite fatídica, mas que sobreviveu e re-aparece agora em cena, em boa hora, para fornecer à telenovela a possibilidade de um lucrativo melodrama sobre a reunião de pai e filho. “Grande show!”, comemoram os produtores do Truman Show, quando o títere de carne-e-osso Truman abraça-se com seu pai, como se estivesse aplaudindo a transcendência divina que intercedeu a seu favor.
Truman é sobretudo um Frankenstein da indústria cultural globalizada, uma criatura disfuncional e estranha do sistema que o incubou. A ideia era realizar um reality show realmente global – 1.7 bilhões de pessoas assistem pela TV ao nascimento de Truman; 220 países estão ligados em suas aventuras e desventuras… – mas que acaba revelando a própria máquina de produzir psicose que é todo esse o sistema Capitalista-Espetacular.
As câmeras escondidas (um enxame delas!) vigia e transmite a vida de Truman sem parar – ele está sempre no ar… – e isso lhe dá a impressão alucinante de que o mundo gira ao seu redor. A psicopatologia de Truman é pior que um narcisismo, que um antropocentrismo patológico, é uma espécie de egocentrismo com elefantíase. E difícil é decidir qual dos dois tem o ego mais elefântico, se Truman ou se Cristof. Na verdade, no filme Cristof é quem “brinca de Deus”, realmente; Truman é sua vítima, seu títere, seu Frankenstein. A noção de divindade se aplica aqui porque a Truman, os poderes de Cristof parecem de fato como emanados de um “poder superior”: aquele poder, que na realidade concreta mantêm Truman num cárcere, num imenso bunker de metal, situado em Hollywood, California.
Truman não tem idéia e não toma consciência com facilidade do fato de que ele não está em “Seahaven”, a ilha, porra nenhuma; ele está aprisionado dentro de um artifício, dentro de um bunker que foi isolado do real. Não é permitido a Truman que saiba de sua condição de cidadão de Hollywood – ele tem que prosseguir cego, preso à lorota de que ele de fato vive numa inventada terra de ficção, uma fantasia armada em concreto.
A questão que fica é: caso tiremos Truman desta sua prisão-bolha, deste seu bunker de artificialidade, o que ele faria depois de viver um tempo “no real”? Talvez sentisse uma saudade imensa de sua Ítaca, a Seahaven onde “tudo gira ao seu redor”. O narcisismo de Truman é um construto da condição social em que se encontra, na posição de uma espécie de escravo da indústria cultural. Cristof, o pequeno deus deste micromundo onivigiado e onicontrolador, o tirano-mor deste totalitarismo em microcosmo, é o megalômano dos megalômanos. No filme, Cristof é figura meio Prometeica, que quer rivalizar com o poder de deus, e que por isso acaba tratando outro ser-humano como coisa – peão de xadrez, marionete de um teatro de Ibopes…
Para Truman, existe também um “Dark Side Of The Moon”, um lado escuro da Lua, e é literalmente o fato de que a Lua em seu céu é uma fake-Moon, uma construção humana, e nela escondido está o “olho” do Poder, o Panopticon da trupe de Cristof, essa figura que é celebrada na TV como um “televisionary”. Ou seja, o “televisionário”, o visionário da mídia, soube criar toda uma teia de artificialidade dentro do qual manipula sua cobaias humanas, instigando-os às situações e aos afetos que dão boa audiência e aumentam a venda de mercadorias… O importante é que o Truman Show continue “vendendo”, e pra isso a cobaia-Truman deve levada a extremos, mesmo que isso destrave comportamentos excêntricos e imprevisíveis.
No fim das contas, Cristof vende seu supostamente “revolucionário” produto-midiático como uma grande inovação pois é um show sem script pré-definido, um show que vai se escrevendo conforme acompanha a “aventura de formação” de seu protagonista entre o berço e o seu 10.000 dia… A crise destravada neste limite transposto do 10.000 dias tem a ver com uma série de irrupções de estranhezas no cotidiano de Truman, a começar por aquele cena, bem no inicío, quando um holofote de luz despenca do céu como se fosse uma estrela cadente e espatifa-se no asfalto, para assombro de Truman, que não sabia que holofotes podiam chover das nuvens… Que estranho mundo, digno da imaginação de um Lewis Carroll, o cinema de Peter Weir soube realizar com este neo-clássico do sci-fi!
A crise de Truman impulsiona-o ao jailbreak, o que faz com que ele escape, pela primeira vez, ao radar do poder, furtando-se aos tentáculos do polvo onipresente. Cristof, quando seu Frankeintein desaparece, como se escapulisse de sua coleira, brinca de deus em modo hard e apela pesado: ordena que, no meio da madrugada, faça-se nascer um sol… C0m a luz do sol artificial, chamado a raiar antes da hora pelo teledramaturgo em seu jogo de “Master of Puppets”, Christof manifesta-se enfim com a arbitrariedade que se espera de uma boa divindade. Chuta o pau da barroaca e ousa penetrar na “normalidade instituída” do “cosmos” de Truman e subverter as regras do jogo. Truman, diante disso, pensará estar diante de um milagre? Ou já raiará nele a noção de estar preso dentro de um grande estúdio, dum pequeno theathrum mundi, onde a Verdade lhe foi vedade?
Quando Truman tenta escapar das garras deste mundo imundo e seu deus arbitrário e onicontrolador, Chrisof se irrita e sua psicose se manifesta. Truman é, para Cristof, uma espécie de posse, de propriedade, que ele não tolera perder. Truman tenta navegar para longe de seu cárcere, mas seu carcereiro Cristof destrava os temporais relampejantes, ainda que sob ameaça de virar seu barco e lançá-lo a uma possível morte por afogamento. Ao vivo, um magnata da mídia pratica uma tentativa de homicídio, ao vivo e a cores, justificando-se assim: “Truman nasceu diante das câmeras, por que não poderia morrer diante dela?”
Truman embarca em sentido inverso ao de Ulisses na Odisséia: este queria sair das tormentas do mar para retornar ao lar e à sua Penélope em Ítaca. Já Truman quer deixar o porto seguro de Seahaven para enfrentar as tormentas que o enviem ao coração do desconhecido, ao cerne da descoberta. É aí que Truman realmente vira herói de um filme quase contracultural: quando escolhe encarar o risco e tentar sua fuga, custe o que custar. Ele quer intensamente libertar-se de seu “deus” perseguidor, sempre vigilante, sempre interventor.
Seu último ato, que põe um the end no programa de TV mais longevo e mais lucrativo da história da teledramaturgia (isso no mundo fictício tão bem bolado pelo roteiro de Andrew Nicol), sugere a escolha de Truman por um “salto no escuro”: ele prefere a independência à escravidão, o controlar-se como ser autônomo ao invés de prosseguir marionete de um Master of Puppets. Para relembrar uma imagem icônica da chamada Geração X, ainda carecemos do aprendizado necessário para, ao invés de ficar nadando atrás da isca do dólar, como o bebê na capa do Nevermind, nadarmos em direção à saída do aquário onde estamos encerrados…
Batendo de frente com a parede onde o céu estava pintado – aquele céu, que visto de longe, lá das margens de Seaheaven, parecia de fato um real horizonte sem fim! – Truman chega ao estopim final da crise revolucionária que o transformou e transtornou. Ele bate de frente com o horizonte limitado, com as barras de ferro de sua jaula, que ele confundia com o céu aberto.
Custe o que custar, a verdade ele quer degustar. Truman abre a porta e deixa o recinto, abandona a farsa, vaza da Caverna, põe um ponto final à manipulação sem fim. O que ocorre depois o filme deixa no escuro. Quem ficou aguardando uma continuação, esperou em vão. É bom que seja assim: é deixada à imaginação do espectador o que ocorre com Truman no “mundo real”, onde ele sem dúvida fará muitas desagradáveis descobertas
A vida do prisioneiro após sair de sua platônica Caverna, ou melhor, como é estar com a consciência desperta após livrar-se das correntes e miragens ideológicas, tudo isso, que Peter Weir relega ao escuro que segue o “The End”, está aí para cada um descobrir – basta, para isso, mover-se para sentir as correntes que nos prendem, e em seguida cortá-las, para viver na pele o que é, após ter sido condenado a estar preso, imitando estereótipos, descobrir como é estar condenado a ser livre, forjador autônomo de percurso próprio…
Texto escrito por Eduardo Carli de Moraes.
A Caverna de Platão, reinventada na era hi-tech da indústria cultural: eis o que The Truman Show concretiza frente a nossos olhos. A febre televisiva dos reality shows – fenômeno da cultura de massa que se tornou uma epidemia com a proliferação de Big Brothers e similares – é o tema do filme de 1998 realizado pelo cineastra australiano Peter Weir (o mesmo de Sociedade dos Poetas Mortos).
A ironia começa no título: The Truman Show seria mais apropriadamente traduzido como “O Show do Homem de Verdade”, o espetáculo “honesto” do true man. Só que o programa de TV em questão exorbita em falsidade, artificialidade, sendo claramente percebido pelo espectador como um mundo fake, como uma pseudo-realidade. Estamos diante de alguém que parece-nos preso numa cidade-de-brinquedo, numa vila artificial como estas que se fabrica nos jogos à la Simcity.
Neste Simcity-real que é Hollywood, por exemplo, edificam-se cidades cenográficas inteiras, fabricam-se pirotecnias e efeitos especiais mil, para poder criar um produto midiático cuja conexão com a realidade muitas vezes se perdeu tão amplamente que vemos diante dos olhos um carrossel de mentiras filmadas. Com o terreno todo minado pelas iscas do merchandising.
O personagem interpretado por Jim Carrey é o prisioneiro de uma Caverna similar àquela descrita por Platão em seu diálogo A República, só que agora numa versão atualizada para a era digital e cibernética. Assim como na Caverna estavam acorrentados os prisioneiros, que nada viam além das imagens fantasmáticas projetadas na parede de seu cárcere, Truman é o prisioneiro de uma ilha, gerida pela indústria do entretenimento, onde ele é tratado sempre, desde o princípio de seus dias, como uma marionete, um títere a ser manipulado, um peão a mexer no tabuleiro de xadrez do Espetáculo, sempre com o fim de maximizar os Ibopes e os lucros…
Todas as táticas astuciosas do merchandising estão sendo ironicamente criticadas pelo filme: Truman é muitas vezes coagido, pelas pessoas com quem “convive” na cidade cenográfica de que é um prisioneiro iludido, a postar-se diante dos anúncios publicitários. Empurram Truman para um cenário urbano onde, no segundo plano, vê-se um outdoor seduzindo para as delícias de um frango frito vendido nas junkfoodarias ao estilo McDonald’s e KFC. Enquanto joga golfe no asfalto, com seu falso amigo (na verdade um ator…), Truman é interpelado pela ideologia subliminar do consumismo: olhando para as câmeras com o rosto de quem está deliciosamente embriagado, mostrando claramente para a lente a marca da cerveja, o “amigo” obriga Truman a ouvir repetidas vezes: “Meu caro, não há cerveja mais deliciosa do que esta!” (Na real, o interlocutor não é Truman, de verdade, mas o imenso público de telespectadores que precisam ser convencidos a comprar o produto da marca Y…).
De modo similar, sua esposa está frequentemente conversando com Truman ao modo de um anúncio ambulante de gadgets à disposição no supermercado: reclama com o maridão que a grama está muito mal cortada, para em seguida recomendar que cumpre comprar uma máquina nova, melhor, mais charmosa, à venda no WalMart, em promoção imperdível, proclamada nos slogans como revolucionária invenção da maravilhosa e humanitária empresa X…
A mesma “estrutura narrativa” do mito da Caverna platônico também é utilizada no filme de Weir, que descreve como Truman de certo modo vai buscando libertar-se de sua prisão, passando a questionar a veracidade do mundo que rodeia seus sentidos. A descoberta de sua condição de escravo manipulado pela indústria do entretenimento é o que constitui a verdade aventura do filme. Truman vai “despertando” para sua real condição: a de alguém que foi desde o princípio ludibriado.
Quando começa a descobrir-se como alguém que foi enganado, alguém que foi encerrado na prisão – literal e mental – de uma Caverna que Marx & Engels analisarão sob o conceito de ideologia. Truman é prisioneiro da caverna ideológica no sentido de que foi. por 10.000 dias. o funcionário exemplar da maquinaria do Espetáculo, trabalhando sorridente para o lucro e o deleite dos empresários midiáticos, que enriqueciam suas contas bancárias com a venda de mercadorias nos tele-mercados altamente capitalizados.
O filme, porém, descreve uma crise, que se passa aproximadamente no dia 10.000 do programa (uma longevidade impressionante, mas que não é inteiramente irrealista: vejam quanto tempo de duração no ar tiveram shows televisivos como Seinfeld, Friends, Chaves, Trapalhões, Jô Soares etc.). Todo o cenário destinado a ludibriar Truman começa a desabar como um castelo de cartas na ventania. O prisioneiro começa a se debater contra aquilo que o acorrenta à Caverna, aquilo que o prende a esta ilha de enganações impostas por autoridades invisíveis.
Truman, se um dia pôde engolir direitinho a lorota ideológica, que lhe inculcou o pensamento de que ele vivia num dos lugares mais maravilhosos da terra, a ilha de Seahaven, no decorrer do filme vai rebelando-se contra a cidade. Vai tornando-se, de cidadão respeitador da lei e da ordem, em anárquico subversor de limites e regras.
Além do mais, se Truman pode escapar às teias totalitárias do sistema que o rodeia com suas câmeras de onivigilância, é também porque seu mundo subjetivo não é totalmente domável pelo poder. Não se controla tão facilmente a “vida afetiva” de um ser humano como se faz com um robô programado a responder aos comandos de um controle remoto. Vejam, por exemplo, esta “cena” chave do quebra-cabeças: para os empresários de TV, foi apenas uma bela cena, um ótimo produto da teledramaturgia, quando Truman, em sua infância, velejando no mar com seu pai, enfrentou uma tempestade (artificalmente induzida, é claro!), e na qual seu pai supostamente morreu afogado e foi sepultado no chão do oceano, para nunca ter seu cadáver encontrado. Pode-se imaginar os magnatas da mídia celebrando os milhões de dólares provindos dos picos de audiência. Para Truman, porém, aquilo não é “cena”, é vivência; e torna-se, é evidente, um trauma.
Cedo no filme nos damos conta do caráter neurótico de Truman, que cedo se manifesta no seu sintoma da fobia à água. Em seu trabalho, mandam-lhe realizar um serviço em outra ilha, que exige uma viagem de balsa (ferryboat), mas Truman, ao encaminhar-se ao barco, é acossado e possuído pelo trauma, pelo retorno da experiência antiga e amarga. Sua fobia o impede de seguir viagem. A fobia de Truman é o que prende-o a Seahaven e o que, no filme, ele terá o empenho heróico de superar.
A neurose que lhe restou como legado de suas vivências como prisioneiro da indústria cultural de espetáculos lucrativos é também a raiz de sua insatisfação existencial, inseparável esta de sua rebeldia. A tensão dramática impressionante do filme tem a ver com o conflito interior que toma conta do personagem enquanto ele vê digladiarem-se, em seu peito, o “conservadorismo”/conformismo daquele que adapta-se e não questiona, de um lado, e o ímpeto de rasgar o véu de Maya e saber de fato o que está ocorrendo, de outro.
Se, por um lado, o peso do passado lhe legou o imobilismo e a fobia, ou seja, a incapacidade psicológica e física de escapar pelo mar, por outro lado Seahaven vai tornando-se tão mais insuportável quanto mais Truman vai desvelando sua verdadeira natureza: a de uma prisão. Da prisão da ideologia só podemos nos libertar quando tivermos plena consciência de sermos prisioneiros! Rosa Luxemburgo dizia que “quem não se move não sente as correntes que o prendem”. Truman, conforme o filme progride, sente cada vez melhor as correntes que o prendem, e esta consciência da servidão, a insatisfação diante desta condição servil, são aquilo que dá força à seu ímpeto rebelde, disruptivo.
Não sei se concordam comigo, mas para o meu gosto o filme fica bom mesmo quando Truman vai virando a ovelha negra, o caso-de-polícia, o perigoso subversivo. Pois o filme versa também sobre o fracasso, em última instância, do poder controlador e manipulador que procura seu domínio através da vigilância e do policiamento mais invasivos. Temos no filme Truman Show, pois, uma prefiguração de toda a temática que veio à tona com as revelações de Edward Snowden e as práticas cotidianas, nos EUA, da NSA (National Surveillance Agency). Certas forças políticas acabaram por acreditar que 1984, o clássico romance-denúncia de George Orwell, era um manual de instruções (!), ao invés de uma contundente porrada dada nos totalitarismos de ambições dominadoras.
A Sociedade do Espetáculo revelou-se como a era dos control freaks, com a proliferação de um complexo industrial carcerário e policial que atinge, em especial nos EUA (mas também no Brasil, na Rússia, na China e em tantas outras regiões) a dimensão de uma epidemia bastante triste onde o aprisionamento em massa, para punir os pobres, encontra-se articulado com uma indústria cultural destinada a perpetuar ideologias de sistemas econômicos e políticos que são justamente os responsáveis pelo militarismo, pelo belicismo, pelo frenesi carcerário. Truman é “prisioneiro de luxo”, é claro, e sua condição nem de perto lembra a condição execrável em que são condenados a viver os “condenados” pela Justiça, lançados ao sistema carcerário hoje dominante…
A teia de mentiras, tecida ao redor de Truman, começa a colapsar quando ele revê seu pai, que ele pensava morto, reaparecer em cena como um mendigo. Para economizar uns trocados, a empresa de TV provavelmente resolveu utilizar o mesmo ator para personagens diferentes, o que é o estopim para a onda de ceticismo que toma conta de Truman. Desconfiando ele desperta. É duvidando da veracidade do sistema à sua volta que ele começa, mexendo-se, a sentir as correntes que o prendem. Sua insurgência, é claro, nasce de modo instintivo e um tanto caótico.
Como um bicho feroz numa jaula pequena, começa a sonhar em ir para a ilha de Fiji – que é exatamente do outro lado do mundo, o lugar mais longínquo que existe para ele. Que Truman queira vazar para o mais longe possível de Seahaven é um sinal de sua insatisfação com sua condição. O filme de Peter Weir vai convertendo-se aos poucos em um jailbreak, uma aventura de fuga-da-prisão, mas bem mais alegórica do que os enredos realistas de filmes como Fuga de Alcatraz, Papillon, Um Sonho de Liberdade.
O sistema organizou-se ao seu redor no sentido de amedrontá-lo diante da perspectiva de viajar, de partir. Ele tenta comprar uma passagem de avião para Fiji, mas é óbvio que não conseguirá do sistema tão fácil o seu tíquete de fuga. Tudo fazem os “donos do jogo” para dissuadir Truman de escapar de sua jaula dourada. Como uma mosca aprisionada na teia do poder, Truman tenta escapar dos controles, mas tem a experiência reiterada de que o poderio dessa entidade controladora é muito extenso. Com seus tentáculos, que parecem estar em toda parte, o grande polvo do “poder” tenta impedir todas as rotas de fuga de Truman. Suas tentativas de escapar devem apenas gerar boas cenas de ação, aumentos nos picos de audiência, mas devem mantê-lo preso ao labirinto, como um rato de laboratório.
Com o carro, Truman tenta se dirigir a Atlantic City, depois a New Orleans, mas o polvo do poder não cessa de interpor obstáculos em seu caminho, fabricando trânsito congestionado, botando fogo em estradas ou simulando uma contaminação radioativa que impede o tráfego na via. É como se uma divindade transcendente se manifestasse em atos ao redor de Truman. Mas não se trata de um deus, mas sim do personagem de Ed Harris, o “coordenador” daquela peça complexa de teledramaturgia…
O Ed Harris encarna a figura do manipulador-mor, do mestre-de-títeres; para ele, Truman, apesar de um homem de carne-e-osso, é tratado como marionete, como boneco. Provocar emoções intensas em sua cobaia, o Truman que é seu rato-de-laboratório-midiático, é a função desta figura cheia de poderio. Ele “orquestra” não apenas um programa de TV, mas todo um sistema de doutrinação social, toda uma máquina difusora de ideologia.
Um exemplo muito concreto: o Titereiro Christof (Ed Harris) conduz sua cobaia (O Truman, Jim Carey) de experiência traumática (a suposta morte do pai) a re-encontro triunfal – e o Ibope bomba! Truman descobre que seu pai não morreu de fato naquela noite fatídica, mas que sobreviveu e re-aparece agora em cena, em boa hora, para fornecer à telenovela a possibilidade de um lucrativo melodrama sobre a reunião de pai e filho. “Grande show!”, comemoram os produtores do Truman Show, quando o títere de carne-e-osso Truman abraça-se com seu pai, como se estivesse aplaudindo a transcendência divina que intercedeu a seu favor.
Truman é sobretudo um Frankenstein da indústria cultural globalizada, uma criatura disfuncional e estranha do sistema que o incubou. A ideia era realizar um reality show realmente global – 1.7 bilhões de pessoas assistem pela TV ao nascimento de Truman; 220 países estão ligados em suas aventuras e desventuras… – mas que acaba revelando a própria máquina de produzir psicose que é todo esse o sistema Capitalista-Espetacular.
As câmeras escondidas (um enxame delas!) vigia e transmite a vida de Truman sem parar – ele está sempre no ar… – e isso lhe dá a impressão alucinante de que o mundo gira ao seu redor. A psicopatologia de Truman é pior que um narcisismo, que um antropocentrismo patológico, é uma espécie de egocentrismo com elefantíase. E difícil é decidir qual dos dois tem o ego mais elefântico, se Truman ou se Cristof. Na verdade, no filme Cristof é quem “brinca de Deus”, realmente; Truman é sua vítima, seu títere, seu Frankenstein. A noção de divindade se aplica aqui porque a Truman, os poderes de Cristof parecem de fato como emanados de um “poder superior”: aquele poder, que na realidade concreta mantêm Truman num cárcere, num imenso bunker de metal, situado em Hollywood, California.
Truman não tem idéia e não toma consciência com facilidade do fato de que ele não está em “Seahaven”, a ilha, porra nenhuma; ele está aprisionado dentro de um artifício, dentro de um bunker que foi isolado do real. Não é permitido a Truman que saiba de sua condição de cidadão de Hollywood – ele tem que prosseguir cego, preso à lorota de que ele de fato vive numa inventada terra de ficção, uma fantasia armada em concreto.
A questão que fica é: caso tiremos Truman desta sua prisão-bolha, deste seu bunker de artificialidade, o que ele faria depois de viver um tempo “no real”? Talvez sentisse uma saudade imensa de sua Ítaca, a Seahaven onde “tudo gira ao seu redor”. O narcisismo de Truman é um construto da condição social em que se encontra, na posição de uma espécie de escravo da indústria cultural. Cristof, o pequeno deus deste micromundo onivigiado e onicontrolador, o tirano-mor deste totalitarismo em microcosmo, é o megalômano dos megalômanos. No filme, Cristof é figura meio Prometeica, que quer rivalizar com o poder de deus, e que por isso acaba tratando outro ser-humano como coisa – peão de xadrez, marionete de um teatro de Ibopes…
Para Truman, existe também um “Dark Side Of The Moon”, um lado escuro da Lua, e é literalmente o fato de que a Lua em seu céu é uma fake-Moon, uma construção humana, e nela escondido está o “olho” do Poder, o Panopticon da trupe de Cristof, essa figura que é celebrada na TV como um “televisionary”. Ou seja, o “televisionário”, o visionário da mídia, soube criar toda uma teia de artificialidade dentro do qual manipula sua cobaias humanas, instigando-os às situações e aos afetos que dão boa audiência e aumentam a venda de mercadorias… O importante é que o Truman Show continue “vendendo”, e pra isso a cobaia-Truman deve levada a extremos, mesmo que isso destrave comportamentos excêntricos e imprevisíveis.
No fim das contas, Cristof vende seu supostamente “revolucionário” produto-midiático como uma grande inovação pois é um show sem script pré-definido, um show que vai se escrevendo conforme acompanha a “aventura de formação” de seu protagonista entre o berço e o seu 10.000 dia… A crise destravada neste limite transposto do 10.000 dias tem a ver com uma série de irrupções de estranhezas no cotidiano de Truman, a começar por aquele cena, bem no inicío, quando um holofote de luz despenca do céu como se fosse uma estrela cadente e espatifa-se no asfalto, para assombro de Truman, que não sabia que holofotes podiam chover das nuvens… Que estranho mundo, digno da imaginação de um Lewis Carroll, o cinema de Peter Weir soube realizar com este neo-clássico do sci-fi!
A crise de Truman impulsiona-o ao jailbreak, o que faz com que ele escape, pela primeira vez, ao radar do poder, furtando-se aos tentáculos do polvo onipresente. Cristof, quando seu Frankeintein desaparece, como se escapulisse de sua coleira, brinca de deus em modo hard e apela pesado: ordena que, no meio da madrugada, faça-se nascer um sol… C0m a luz do sol artificial, chamado a raiar antes da hora pelo teledramaturgo em seu jogo de “Master of Puppets”, Christof manifesta-se enfim com a arbitrariedade que se espera de uma boa divindade. Chuta o pau da barroaca e ousa penetrar na “normalidade instituída” do “cosmos” de Truman e subverter as regras do jogo. Truman, diante disso, pensará estar diante de um milagre? Ou já raiará nele a noção de estar preso dentro de um grande estúdio, dum pequeno theathrum mundi, onde a Verdade lhe foi vedade?
Quando Truman tenta escapar das garras deste mundo imundo e seu deus arbitrário e onicontrolador, Chrisof se irrita e sua psicose se manifesta. Truman é, para Cristof, uma espécie de posse, de propriedade, que ele não tolera perder. Truman tenta navegar para longe de seu cárcere, mas seu carcereiro Cristof destrava os temporais relampejantes, ainda que sob ameaça de virar seu barco e lançá-lo a uma possível morte por afogamento. Ao vivo, um magnata da mídia pratica uma tentativa de homicídio, ao vivo e a cores, justificando-se assim: “Truman nasceu diante das câmeras, por que não poderia morrer diante dela?”
Truman embarca em sentido inverso ao de Ulisses na Odisséia: este queria sair das tormentas do mar para retornar ao lar e à sua Penélope em Ítaca. Já Truman quer deixar o porto seguro de Seahaven para enfrentar as tormentas que o enviem ao coração do desconhecido, ao cerne da descoberta. É aí que Truman realmente vira herói de um filme quase contracultural: quando escolhe encarar o risco e tentar sua fuga, custe o que custar. Ele quer intensamente libertar-se de seu “deus” perseguidor, sempre vigilante, sempre interventor.
Seu último ato, que põe um the end no programa de TV mais longevo e mais lucrativo da história da teledramaturgia (isso no mundo fictício tão bem bolado pelo roteiro de Andrew Nicol), sugere a escolha de Truman por um “salto no escuro”: ele prefere a independência à escravidão, o controlar-se como ser autônomo ao invés de prosseguir marionete de um Master of Puppets. Para relembrar uma imagem icônica da chamada Geração X, ainda carecemos do aprendizado necessário para, ao invés de ficar nadando atrás da isca do dólar, como o bebê na capa do Nevermind, nadarmos em direção à saída do aquário onde estamos encerrados…
Batendo de frente com a parede onde o céu estava pintado – aquele céu, que visto de longe, lá das margens de Seaheaven, parecia de fato um real horizonte sem fim! – Truman chega ao estopim final da crise revolucionária que o transformou e transtornou. Ele bate de frente com o horizonte limitado, com as barras de ferro de sua jaula, que ele confundia com o céu aberto.
Custe o que custar, a verdade ele quer degustar. Truman abre a porta e deixa o recinto, abandona a farsa, vaza da Caverna, põe um ponto final à manipulação sem fim. O que ocorre depois o filme deixa no escuro. Quem ficou aguardando uma continuação, esperou em vão. É bom que seja assim: é deixada à imaginação do espectador o que ocorre com Truman no “mundo real”, onde ele sem dúvida fará muitas desagradáveis descobertas
A vida do prisioneiro após sair de sua platônica Caverna, ou melhor, como é estar com a consciência desperta após livrar-se das correntes e miragens ideológicas, tudo isso, que Peter Weir relega ao escuro que segue o “The End”, está aí para cada um descobrir – basta, para isso, mover-se para sentir as correntes que nos prendem, e em seguida cortá-las, para viver na pele o que é, após ter sido condenado a estar preso, imitando estereótipos, descobrir como é estar condenado a ser livre, forjador autônomo de percurso próprio…
domingo, 4 de outubro de 2015
Anacronismo o que é?
O anacronismo consiste em utilizar os conceitos e ideias de uma época para analisar os fatos de outro tempo. Ele deve ser evitado em qualquer pesquisa.
Por um lado, os historiadores, no desafio diário de suas pesquisas, tentam sempre escapar do problema do anacronismo. Esse seria um “erro mortal” a ser evitado em toda e qualquer pesquisa séria e bem executada. Ao contrário do que possa parecer, esse problema não só atinge os profissionais da História, mas também é encontrado no dia a dia das salas de aula. De forma geral, muitos alunos costumam tecer comentários sobre o passado com base nos seus próprios valores.
É comum vermos os alunos reclamarem sobre como os portugueses conseguiam, mesmo sendo minoria, dominarem a imensa população de escravos do Brasil. Outros se questionam sobre como a Igreja tinha tanto poder durante a Idade Média. Ao estudarem a democracia em Atenas, não acreditam como os atenienses reconheciam como democrático um regime que excluía as mulheres e estrangeiros das questões políticas.
Ao fazerem esse tipo de crítica não percebem que os conceitos de igualdade, razão e democracia por eles utilizados foram concebidos tempos depois das experiências aqui exemplificadas. Desse modo, desconsideram as idéias e conceitos que deveras poderiam justificar os hábitos no Brasil Colônia, na Idade Média ou na Antiguidade Clássica. Ao mesmo tempo, não levam em conta que o homem interpreta o passado e dessa maneira acaba criando uma nova compreensão do mesmo.
Um dos mais amplos exemplos desse tipo de prática é percebido no século XVIII, no auge do pensamento iluminista. Elegendo a razão como a melhor das ferramentas do intelecto humano, os iluministas consideravam a religiosidade como um grande entrave ao conhecimento e o saber. Dessa maneira, interpretava-se a Idade Média como a “idade das trevas”, onde a crença e a religiosidade obscureciam a visão do homem.
No entanto, ao desmerecerem o passado medieval, os iluministas ignoravam toda a contribuição dos filósofos medievais e o fato de que as primeiras universidades da Europa surgem nessa mesma ”idade das trevas”. Nessa perspectiva, podemos considerar também que o iluminismo, na ânsia de seu racionalismo, deixava de olhar de forma mais compreensiva para as características próprias da Idade Medieval.
Detectando essa falha interpretativa poderíamos concluir que o anacronismo deve ser complemente banido da História. No entanto, seria impossível então olhar o passado com os valores do nosso presente? Provavelmente não. Se por um lado não podemos cometer o erro do anacronismo, também nunca conseguiríamos saber literalmente como pensavam os indivíduos de uma determinada época. Dessa forma, como evitar o anacronismo?
O anacronismo não pode ser considerado um “fantasma” que persegue estudantes e historiadores. Antes disso, devemos colocar os valores do nosso tempo como um ponto de referência pelo qual poderíamos entender melhor o passado. Comparando as diferenças entre os conceitos de dois tempos históricos diferentes, podemos estabelecer o diálogo das nossas expectativas para com o passado sem desconsiderar os valores do mesmo. Assim, o anacronismo deixa de ser uma armadilha e transforma-se em uma importante ferramenta para a compreensão histórica.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
História - Brasil Escola
sábado, 26 de setembro de 2015
Grécia Antiga: Atenas
a) Localização: região da Ática.
b) Formação: fundada pelos jônios por volta do século X a.C. (Bem próxima do litoral, Atenas possuía o porto de Pireu, que favoreceu o comércio marítimo. Estabelecida numa planície fértil, a cidade contava também com áreas para a agricultura e era protegida por montanhas.
c) Aspectos sociais:
I. Cidadãos – tinha direito de participar da vida política da cidade e possuir terras. Os cidadãos atenienses que se dedicavam às atividades comerciais e bancárias eram malvistos pela sociedade. Por essa razão, os estrangeiros e os escravos predominavam nesse tipo de trabalho. Para os atenienses, o conceito de cidadania estava ligado ao de liberdade e ao de origem. Somente os homens adultos, filhos de pais atenienses, eram cidadãos e podiam votar e ser votados nas assembleias, além de se tornarem magistrados. Os cidadãos mais ricos eram em geral os grandes proprietários de terras. Eles viviam principalmente nas cidades, onde se dedicavam à política, às artes, à filosofia e praticavam exercícios físicos. Os cidadãos menos ricos podiam ser donos de uma pequena oficina, onde trabalhavam com a ajuda da família e de poucos escravos. Podiam ser ainda donos de pequenos lotes agrícolas. Havia também cidadãos mais pobres que trabalhavam em troca de salário. Mulheres, escravos e estrangeiros não tinham direito à cidadania. Eram excluídos da vida política.
II. Os estrangeiros, ou metecos - não podiam se casar com cidadãos da pólis, mas eram obrigados a prestar serviço militar e a pagar um imposto pessoal. Seus descendentes não podiam possuir terras dentro da cidade. Muitos deles trabalhavam no comércio, no artesanato e no empréstimo de dinheiro a juros. Mas havia metecos donos de grandes fortunas e outros que trabalhavam em troca de salário.
III. Escravos - tinham várias origens, podiam ser comprados dos povos orientais, ser prisioneiros de guerra ou ainda homens livres que se tornavam escravos quando devedores. Esse era o caso do pequeno camponês que fazia empréstimos para comprar sementes ou alimento e não conseguia pagar suas dívidas. O fato de não cumprir um dever – o pagamento da dívida – tornava-o um cidadão indigno de sua cidadania, e a escravidão era vista como o único jeito de puni-lo. Os escravos não possuíam nenhum direito nem podiam, pelo menos no início, se libertar. Eram considerados bens, instrumentos de trabalho, mercadorias que pertenciam aos cidadãos gregos. Faziam todo o trabalho pesado nos campos, trabalhavam também com artesanato, em lojas, em barcos e na mineração. Para os gregos, o escravo era aquele que, privado de sua liberdade, era obrigado a trabalhar sob o domínio de outra pessoa. Eles eram, em grande parte, os responsáveis pelo funcionamento da vida dos cidadãos em Atenas, já que estes, com escravos para trabalhar, podiam se dedicar a atividades políticas e militares, pois entre os gregos havia uma noção geral de que todas as atividades que fossem voltadas a atender às necessidades físicas do corpo impediriam o pleno exercício da liberdade. E aqueles que não participavam da vida política de uma cidade, que não eram cidadãos, portanto, mereciam a condição de escravos.
d) Aspectos econômicos: destacou-se no artesanato e no comércio. Os artesãos trabalhavam em pequenas oficinas, que produziam cerâmicas, armas, tecidos etc. Os vasos gregos eram, em geral, pintados com cenas míticas ou ilustrações da vida cotidiana. Os comerciantes navegavam pelo mar Mediterrâneo vendendo produtos atenienses e comprando alimentos, madeira e cobre. Os gregos usavam moedas de prata como pagamento. No campo, os agricultores cultivavam a uva e a oliva, matérias-primas para a fabricação do vinho e do azeite. O trigo, produto mais importante da alimentação ateniense e matéria-prima do pão, vinha sobretudo de colônias espalhadas pelo Mediterrâneo.
O enriquecimento da cidade
A colonização de novas terras possibilitou:
ü Que o comércio entre as cidades crescesse e a riqueza fosse distribuída para indivíduos fora das elites.
ü Os proprietários tornavam-se cada vez mais ricos, assim como os comerciantes. Estes começaram a exigir participação política, uma vez que tinham cada vez mais dinheiro e contribuíam para o crescimento da cidade. No entanto, isso era impensável, uma vez que, para os atenienses, um estrangeiro nunca poderia ser cidadão e participar da política.
ü Com o enriquecimento da cidade também crescia o número de escravos, insatisfeitos com sua condição de vida.
Isso contribuiu para aumentar as tensões sociais e econômicas em Atenas.
Constituição da democracia ateniense
A partir do final do século VII, legisladores e tiranos procuraram resolver as tensões entre os cidadãos e os não cidadãos:
Drácon – 620 a.C.
ü Elaborou um código de leis escrito. (A legislação previa penas extremamente rigorosas para quem as violasse. Drácon apenas registrou os costumes tradicionais. Assim, as tensões permaneceram).
Sólon – 594 a.C.
ü Aboliu a escravidão por dívidas, que afetava muitos camponeses pobres,
ü substituiu o critério de nascimento pelo de riqueza para o acesso a cargos públicos, dando assim maior poder para a aristocracia, dividiu os cidadãos em quatro classes de proprietários, conforme o padrão de renda.
ü Estabeleceu também que indivíduos mais pobres pudessem votar na assembleia popular – a ekklésia –, que escolhia os magistrados.
ü Criou ainda a boulé, conselho composto de 400 membros escolhidos pela ekklésia (Esse conselho elaborava as leis a serem votadas pela ekklésia).
As reformas de Sólon não satisfizeram a todos, permitindo a ascensão de tiranos.
Pisístrato – 560 a.C.
ü Limitou os poderes da aristocracia.
ü Instituiu também o crédito para o pequeno camponês.
Pisístrato foi sucedido por seus filhos.
Hípias e Hiparco
Não deram prosseguimento às reformas do pai, gerando insatisfação popular.
Clístenes – 510 a.C.
ü Estabeleceu o regime democrático baseado na isonomia, ou seja, na igualdade dos cidadãos perante a lei.
ü Dividiu os cidadãos atenienses em dez grupos, misturando pessoas de condições diferentes. Formavam-se assim os demos, as unidades administrativas que cuidavam da cidade, e serviram principalmente para quebrar o poder da aristocracia.
ü Aumentou o número de participantes da boulé para 500 membros, o que tornou a participação política mais abrangente e possibilitou que os cidadãos mais pobres também fossem parte ativa da vida política. Desse modo, qualquer indivíduo, rico ou pobre, podia ser magistrado. Daí o nome desse tipo de governo: democracia (demos, o povo; kratos, poder).
No entanto, essa democracia não era um sistema político que admitia a participação de todos os habitantes. Os cidadãos que gozavam de completa liberdade e participavam das decisões políticas eram atenienses ricos e pobres (que eram incentivados a participar da política), nunca estrangeiros, mulheres ou escravos. O governo de Clístenes, porém, trouxe para os cidadãos estabilidade social e expansão econômica.
Péricles – 446 a.C.
O regime democrático em Atenas atingiu seu auge sob a liderança de Péricles por volta do ano 446 a.C.
ü Instituiu um pagamento para aqueles que exerciam funções públicas, os membros da boulé, e para os juízes. As pessoas mais pobres podiam servir à pólis sem que se prejudicassem financeiramente.
ü Consolidou a hegemonia de Atenas e incentivou a expansão das colônias gregas pelo mar Egeu. Intensificou também a construção naval. Seu governo imprimiu tanto desenvolvimento político, econômico e cultural a Atenas que o período ficou conhecido como “o século de Péricles”.
Instituições políticas de Atenas:
Eklesia
ü Assembléia de todos os cidadãos que escolhia os magistrados;
ü Responsáveis pela aprovação de leis que eram criadas pela Boulé;
Boulé
ü Conselho composto por 500 membros escolhidos pela Eklesia;
ü Responsáveis por criar as leis que eram votadas pelas Eklesia.
Helieia
ü Instituição composta por 6000 juízes;
ü Funcionava como um tribunal supremo de Atenas;
ü Responsáveis por julgar os crimes;
ü Tribunal era composto de 6.000 membros, escolhidos localmente por sorteio entre todos os cidadãos com mais de 30 anos de idade
Magistrados:
Estrategos
ü Chefes militares e políticos.
Arcontes
ü Exerciam função religiosa e também judicial.
Areópago
ü Composto por antigos arcontes.
ü Julgava crimes graves.
Helieu
ü Composto por 6000 membros.
ü Responsáveis por julgar os crimes mais vulgares.
Os conflitos da época clássica
O século V a.C. – da democracia ateniense, das artes e das ciências que se desenvolveram e do comércio entre as cidades-Estado – é considerado o período clássico da história grega. Mas esse século também foi marcado por muitos conflitos. No início do século V a.C., os persas, que dominavam um vasto império no Oriente Médio, ameaçaram a independência das cidades-Estado gregas. Estas se aliaram para conter o avanço inimigo. O objetivo dos persas era conquistar as terras gregas com saída para o mar, de forma a dominar o comércio no mar Egeu. Expandindo-se em direção à Europa, eles conquistaram Mileto, Éfeso, Samos e outras colônias gregas da Ásia Menor. O conflito com os persas resultou em guerras que se prolongaram por mais de quatro décadas e ficaram conhecidas como Guerras Médicas (de 490 a.C. a 448 a.C.). Os persas foram expulsos de todos os territórios gregos em 448 a.C. foi a vitória da pólis grega, das cidades-Estado independentes, sobre o império bárbaro.
A vitória grega e a hegemonia de Atenas
Durante as Guerras Médicas, Atenas, uma das cidades que mais contribuíram para a derrota e expulsão dos persas, formou sob seu comando uma liga defensiva com as cidades do mar Egeu e da Ásia Menor: a Liga de Delos. As cidades membro dessa liga deviam fornecer navios, soldados e dinheiro (guardado no templo da ilha de Delos) para se defender dos ataques estrangeiros. No entanto, Atenas passou a usar o tesouro da liga em benefício próprio. Com os fundos arrecadados, Atenas construiu uma grande frota que lhe permitiu controlar todo o mar Egeu. Também com o dinheiro dos fundos, Péricles mandou reconstruir o Parthenon na acrópole para substituir o antigo templo, destruído pelos persas. Esse templo serviu também para guardar as moedas e os metais preciosos que vinham da ilha de Delos. Péricles reuniu arquitetos, escultores, pintores, carpinteiros, operários e outros profissionais para reconstruir a cidade. Além de embelezar a pólis, fortificou Atenas e o porto de Pireu com muralhas. As contribuições das outras cidades acabaram se transformando em uma obrigação, ou seja, em impostos. Atenas tornou-se próspera e poderosa, impondo sua hegemonia ao mundo grego, o que aumentou a rivalidade entre espartanos e atenienses. Essa tensão desencadeou aGuerra do Peloponeso, que durou vários anos e envolveu quase todo o mundo grego.
A Guerra do Peloponeso (de 431 a.C. a 404 a.C.)
A ação imperialista de Atenas provocou a reação das cidades aliadas. Entre 431 a.C. e 430 a.C., no tempo das colheitas, Atenas foi atacada quatro vezes por Esparta, apoiada pela maior parte das cidades-Estado gregas. Com isso, eles pretendiam desabastecer os atenienses, forçando-os a abandonar a segurança das muralhas da pólis. Mesmo assim, as frotas atenienses conseguiram evitar a tomada da cidade. As lutas prosseguiram até 421 a.C., quando foi assinado um tratado de paz entre Atenas e Esparta conhecido como a Paz de Nícias. Entre 415 a.C. e 413 a.C., Esparta voltou a enfrentar os atenienses, que tiveram seu exército e sua frota destruídos. A cidade resistiu por mais algum tempo. Finalmente, entre 406 a.C. e 404 a.C., as muralhas atenienses vieram abaixo, e a cidade foi obrigada a aceitar os termos de paz impostos por Esparta. Terminava, assim, a hegemonia de Atenas no mundo grego, dando lugar ao predomínio de Esparta.
Hegemonias: Esparta e Tebas
Terminada a Guerra do Peloponeso, Esparta submeteu algumas das cidades Estado gregas, antes aliadas de Atenas, aliando-se com os persas nesses confrontos. Em 371 a.C., a pólis de Tebas, cidade do golfo de Corinto localizada a 60 quilômetros de Atenas, venceu a batalha de Leuctras contra Esparta, dando fim ao domínio espartano. Foi o começo da hegemonia tebana, que durou de 371 a.C. a 363 a.C. Porém, Esparta e Atenas, descontentes, aliaram-se e atacaram os tebanos em 362 a.C., na batalha de Mantineia. Apesar da vitória de Tebas, foi assinado um acordo de paz pelo qual nenhuma cidade-estado tentaria impor seu domínio sobre as outras. Encerrou-se assim a hegemonia de Tebas. No entanto, todas essas lutas e hegemonias causaram a morte de milhares de pessoas, provocando o enfraquecimento econômico e político das cidades-Estado gregas. O comércio com o exterior estava paralisado, assim como a produção artesanal e a agricultura. Muitos escravos aproveitaram essa desorganização para fugir. Isso proporcionou a um povo que vivia ao norte da Grécia, os macedô-nios, a conquista do mundo grego, acabando com a independência das pólis.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 6° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
b) Formação: fundada pelos jônios por volta do século X a.C. (Bem próxima do litoral, Atenas possuía o porto de Pireu, que favoreceu o comércio marítimo. Estabelecida numa planície fértil, a cidade contava também com áreas para a agricultura e era protegida por montanhas.
c) Aspectos sociais:
I. Cidadãos – tinha direito de participar da vida política da cidade e possuir terras. Os cidadãos atenienses que se dedicavam às atividades comerciais e bancárias eram malvistos pela sociedade. Por essa razão, os estrangeiros e os escravos predominavam nesse tipo de trabalho. Para os atenienses, o conceito de cidadania estava ligado ao de liberdade e ao de origem. Somente os homens adultos, filhos de pais atenienses, eram cidadãos e podiam votar e ser votados nas assembleias, além de se tornarem magistrados. Os cidadãos mais ricos eram em geral os grandes proprietários de terras. Eles viviam principalmente nas cidades, onde se dedicavam à política, às artes, à filosofia e praticavam exercícios físicos. Os cidadãos menos ricos podiam ser donos de uma pequena oficina, onde trabalhavam com a ajuda da família e de poucos escravos. Podiam ser ainda donos de pequenos lotes agrícolas. Havia também cidadãos mais pobres que trabalhavam em troca de salário. Mulheres, escravos e estrangeiros não tinham direito à cidadania. Eram excluídos da vida política.
II. Os estrangeiros, ou metecos - não podiam se casar com cidadãos da pólis, mas eram obrigados a prestar serviço militar e a pagar um imposto pessoal. Seus descendentes não podiam possuir terras dentro da cidade. Muitos deles trabalhavam no comércio, no artesanato e no empréstimo de dinheiro a juros. Mas havia metecos donos de grandes fortunas e outros que trabalhavam em troca de salário.
III. Escravos - tinham várias origens, podiam ser comprados dos povos orientais, ser prisioneiros de guerra ou ainda homens livres que se tornavam escravos quando devedores. Esse era o caso do pequeno camponês que fazia empréstimos para comprar sementes ou alimento e não conseguia pagar suas dívidas. O fato de não cumprir um dever – o pagamento da dívida – tornava-o um cidadão indigno de sua cidadania, e a escravidão era vista como o único jeito de puni-lo. Os escravos não possuíam nenhum direito nem podiam, pelo menos no início, se libertar. Eram considerados bens, instrumentos de trabalho, mercadorias que pertenciam aos cidadãos gregos. Faziam todo o trabalho pesado nos campos, trabalhavam também com artesanato, em lojas, em barcos e na mineração. Para os gregos, o escravo era aquele que, privado de sua liberdade, era obrigado a trabalhar sob o domínio de outra pessoa. Eles eram, em grande parte, os responsáveis pelo funcionamento da vida dos cidadãos em Atenas, já que estes, com escravos para trabalhar, podiam se dedicar a atividades políticas e militares, pois entre os gregos havia uma noção geral de que todas as atividades que fossem voltadas a atender às necessidades físicas do corpo impediriam o pleno exercício da liberdade. E aqueles que não participavam da vida política de uma cidade, que não eram cidadãos, portanto, mereciam a condição de escravos.
d) Aspectos econômicos: destacou-se no artesanato e no comércio. Os artesãos trabalhavam em pequenas oficinas, que produziam cerâmicas, armas, tecidos etc. Os vasos gregos eram, em geral, pintados com cenas míticas ou ilustrações da vida cotidiana. Os comerciantes navegavam pelo mar Mediterrâneo vendendo produtos atenienses e comprando alimentos, madeira e cobre. Os gregos usavam moedas de prata como pagamento. No campo, os agricultores cultivavam a uva e a oliva, matérias-primas para a fabricação do vinho e do azeite. O trigo, produto mais importante da alimentação ateniense e matéria-prima do pão, vinha sobretudo de colônias espalhadas pelo Mediterrâneo.
O enriquecimento da cidade
A colonização de novas terras possibilitou:
ü Que o comércio entre as cidades crescesse e a riqueza fosse distribuída para indivíduos fora das elites.
ü Os proprietários tornavam-se cada vez mais ricos, assim como os comerciantes. Estes começaram a exigir participação política, uma vez que tinham cada vez mais dinheiro e contribuíam para o crescimento da cidade. No entanto, isso era impensável, uma vez que, para os atenienses, um estrangeiro nunca poderia ser cidadão e participar da política.
ü Com o enriquecimento da cidade também crescia o número de escravos, insatisfeitos com sua condição de vida.
Isso contribuiu para aumentar as tensões sociais e econômicas em Atenas.
Constituição da democracia ateniense
A partir do final do século VII, legisladores e tiranos procuraram resolver as tensões entre os cidadãos e os não cidadãos:
Drácon – 620 a.C.
ü Elaborou um código de leis escrito. (A legislação previa penas extremamente rigorosas para quem as violasse. Drácon apenas registrou os costumes tradicionais. Assim, as tensões permaneceram).
Sólon – 594 a.C.
ü Aboliu a escravidão por dívidas, que afetava muitos camponeses pobres,
ü substituiu o critério de nascimento pelo de riqueza para o acesso a cargos públicos, dando assim maior poder para a aristocracia, dividiu os cidadãos em quatro classes de proprietários, conforme o padrão de renda.
ü Estabeleceu também que indivíduos mais pobres pudessem votar na assembleia popular – a ekklésia –, que escolhia os magistrados.
ü Criou ainda a boulé, conselho composto de 400 membros escolhidos pela ekklésia (Esse conselho elaborava as leis a serem votadas pela ekklésia).
As reformas de Sólon não satisfizeram a todos, permitindo a ascensão de tiranos.
Pisístrato – 560 a.C.
ü Limitou os poderes da aristocracia.
ü Instituiu também o crédito para o pequeno camponês.
Pisístrato foi sucedido por seus filhos.
Hípias e Hiparco
Não deram prosseguimento às reformas do pai, gerando insatisfação popular.
Clístenes – 510 a.C.
ü Estabeleceu o regime democrático baseado na isonomia, ou seja, na igualdade dos cidadãos perante a lei.
ü Dividiu os cidadãos atenienses em dez grupos, misturando pessoas de condições diferentes. Formavam-se assim os demos, as unidades administrativas que cuidavam da cidade, e serviram principalmente para quebrar o poder da aristocracia.
ü Aumentou o número de participantes da boulé para 500 membros, o que tornou a participação política mais abrangente e possibilitou que os cidadãos mais pobres também fossem parte ativa da vida política. Desse modo, qualquer indivíduo, rico ou pobre, podia ser magistrado. Daí o nome desse tipo de governo: democracia (demos, o povo; kratos, poder).
No entanto, essa democracia não era um sistema político que admitia a participação de todos os habitantes. Os cidadãos que gozavam de completa liberdade e participavam das decisões políticas eram atenienses ricos e pobres (que eram incentivados a participar da política), nunca estrangeiros, mulheres ou escravos. O governo de Clístenes, porém, trouxe para os cidadãos estabilidade social e expansão econômica.
Péricles – 446 a.C.
O regime democrático em Atenas atingiu seu auge sob a liderança de Péricles por volta do ano 446 a.C.
ü Instituiu um pagamento para aqueles que exerciam funções públicas, os membros da boulé, e para os juízes. As pessoas mais pobres podiam servir à pólis sem que se prejudicassem financeiramente.
ü Consolidou a hegemonia de Atenas e incentivou a expansão das colônias gregas pelo mar Egeu. Intensificou também a construção naval. Seu governo imprimiu tanto desenvolvimento político, econômico e cultural a Atenas que o período ficou conhecido como “o século de Péricles”.
Instituições políticas de Atenas:
Eklesia
ü Assembléia de todos os cidadãos que escolhia os magistrados;
ü Responsáveis pela aprovação de leis que eram criadas pela Boulé;
Boulé
ü Conselho composto por 500 membros escolhidos pela Eklesia;
ü Responsáveis por criar as leis que eram votadas pelas Eklesia.
Helieia
ü Instituição composta por 6000 juízes;
ü Funcionava como um tribunal supremo de Atenas;
ü Responsáveis por julgar os crimes;
ü Tribunal era composto de 6.000 membros, escolhidos localmente por sorteio entre todos os cidadãos com mais de 30 anos de idade
Magistrados:
Estrategos
ü Chefes militares e políticos.
Arcontes
ü Exerciam função religiosa e também judicial.
Areópago
ü Composto por antigos arcontes.
ü Julgava crimes graves.
Helieu
ü Composto por 6000 membros.
ü Responsáveis por julgar os crimes mais vulgares.
Os conflitos da época clássica
O século V a.C. – da democracia ateniense, das artes e das ciências que se desenvolveram e do comércio entre as cidades-Estado – é considerado o período clássico da história grega. Mas esse século também foi marcado por muitos conflitos. No início do século V a.C., os persas, que dominavam um vasto império no Oriente Médio, ameaçaram a independência das cidades-Estado gregas. Estas se aliaram para conter o avanço inimigo. O objetivo dos persas era conquistar as terras gregas com saída para o mar, de forma a dominar o comércio no mar Egeu. Expandindo-se em direção à Europa, eles conquistaram Mileto, Éfeso, Samos e outras colônias gregas da Ásia Menor. O conflito com os persas resultou em guerras que se prolongaram por mais de quatro décadas e ficaram conhecidas como Guerras Médicas (de 490 a.C. a 448 a.C.). Os persas foram expulsos de todos os territórios gregos em 448 a.C. foi a vitória da pólis grega, das cidades-Estado independentes, sobre o império bárbaro.
A vitória grega e a hegemonia de Atenas
Durante as Guerras Médicas, Atenas, uma das cidades que mais contribuíram para a derrota e expulsão dos persas, formou sob seu comando uma liga defensiva com as cidades do mar Egeu e da Ásia Menor: a Liga de Delos. As cidades membro dessa liga deviam fornecer navios, soldados e dinheiro (guardado no templo da ilha de Delos) para se defender dos ataques estrangeiros. No entanto, Atenas passou a usar o tesouro da liga em benefício próprio. Com os fundos arrecadados, Atenas construiu uma grande frota que lhe permitiu controlar todo o mar Egeu. Também com o dinheiro dos fundos, Péricles mandou reconstruir o Parthenon na acrópole para substituir o antigo templo, destruído pelos persas. Esse templo serviu também para guardar as moedas e os metais preciosos que vinham da ilha de Delos. Péricles reuniu arquitetos, escultores, pintores, carpinteiros, operários e outros profissionais para reconstruir a cidade. Além de embelezar a pólis, fortificou Atenas e o porto de Pireu com muralhas. As contribuições das outras cidades acabaram se transformando em uma obrigação, ou seja, em impostos. Atenas tornou-se próspera e poderosa, impondo sua hegemonia ao mundo grego, o que aumentou a rivalidade entre espartanos e atenienses. Essa tensão desencadeou aGuerra do Peloponeso, que durou vários anos e envolveu quase todo o mundo grego.
A Guerra do Peloponeso (de 431 a.C. a 404 a.C.)
A ação imperialista de Atenas provocou a reação das cidades aliadas. Entre 431 a.C. e 430 a.C., no tempo das colheitas, Atenas foi atacada quatro vezes por Esparta, apoiada pela maior parte das cidades-Estado gregas. Com isso, eles pretendiam desabastecer os atenienses, forçando-os a abandonar a segurança das muralhas da pólis. Mesmo assim, as frotas atenienses conseguiram evitar a tomada da cidade. As lutas prosseguiram até 421 a.C., quando foi assinado um tratado de paz entre Atenas e Esparta conhecido como a Paz de Nícias. Entre 415 a.C. e 413 a.C., Esparta voltou a enfrentar os atenienses, que tiveram seu exército e sua frota destruídos. A cidade resistiu por mais algum tempo. Finalmente, entre 406 a.C. e 404 a.C., as muralhas atenienses vieram abaixo, e a cidade foi obrigada a aceitar os termos de paz impostos por Esparta. Terminava, assim, a hegemonia de Atenas no mundo grego, dando lugar ao predomínio de Esparta.
Hegemonias: Esparta e Tebas
Terminada a Guerra do Peloponeso, Esparta submeteu algumas das cidades Estado gregas, antes aliadas de Atenas, aliando-se com os persas nesses confrontos. Em 371 a.C., a pólis de Tebas, cidade do golfo de Corinto localizada a 60 quilômetros de Atenas, venceu a batalha de Leuctras contra Esparta, dando fim ao domínio espartano. Foi o começo da hegemonia tebana, que durou de 371 a.C. a 363 a.C. Porém, Esparta e Atenas, descontentes, aliaram-se e atacaram os tebanos em 362 a.C., na batalha de Mantineia. Apesar da vitória de Tebas, foi assinado um acordo de paz pelo qual nenhuma cidade-estado tentaria impor seu domínio sobre as outras. Encerrou-se assim a hegemonia de Tebas. No entanto, todas essas lutas e hegemonias causaram a morte de milhares de pessoas, provocando o enfraquecimento econômico e político das cidades-Estado gregas. O comércio com o exterior estava paralisado, assim como a produção artesanal e a agricultura. Muitos escravos aproveitaram essa desorganização para fugir. Isso proporcionou a um povo que vivia ao norte da Grécia, os macedô-nios, a conquista do mundo grego, acabando com a independência das pólis.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 6° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
Grécia Antiga: Esparta
a) Localização: sudoeste do Peloponeso, na região da Lacônia, cercada por montanhas e sem saída para o mar.
b) Formação: Por volta do século XII a.C., foi conquistada pelos dórios, povo guerreiro que deu à cidade suas principais características.
c) Aspectos Sociais:
I. Cidadãos, espartanos ou espartíatas - eram descendentes dos antigos dórios e formavam a classe dos iguais: aaristocracia. Só eles podiam participar da vida política da cidade, em uma assembleia chamada ápela.
II. Periecos - descendiam dos povos que se submeteram aos dórios. Eram homens livres que se dedicavam ao comércio e ao artesanato ou possuíam pequenas propriedades agrícolas, mas eram obrigados a cultivar um lote especial de sua propriedade para os reis espartanos. Em época de guerra, os periecos também participavam do exército.
III. Hilotas - população servil, descendente de povos que resistiram ao domínio dos dórios, sendo privados de seus bens e da liberdade. Formavam a maior parte da população. Eram obrigados a trabalhar nas terras do Estado e dos cidadãos espartanos e não podiam abandonar as terras. Como consequência disso, houve muitos conflitos entre espartanos e hilotas.
d) Aspectos Políticos:
Ø Diarquia - o poder era exercido por dois reis, que acumulavam funções militares e religiosas.
Ø Ápela - era mais uma reunião de soldados do que um lugar de debate político.
Ø Gerúsia - era uma espécie de conselho formado por 28 anciãos com mais de 60 anos, membros das famílias mais ricas. Sua função era a de elaborar as leis.
Ø Eforato - era formado por cinco membros, os éforos, que executavam as decisões da gerúsia. Eles eram eleitos pela assembleia de todos os cidadãos guerreiros.
Governo Oligárquico - A maior parte dos habitantes de Esparta não tinha nenhum tipo de participação política, pois vinham quase sempre de cidades conquistadas pelos espartanos, o que os levava a serem considerados inferiores. Por isso, o governo espartano era oligárquico, ou seja, exercido por uma minoria.
e) A educação dos espartanos e a formação dos cidadãos
Ø Quando nascia - A criança era levada ao lugar onde se reuniam os mais velhos, que a examinavam. Caso apresentasse alguma deformidade, o recém-nascido era morto. Se o considerassem saudável, ficava sob os cuidados da mãe. As crianças dedicavam-se ao exercício militar e habituavam-se a suportar o frio, o cansaço, a fome e uma disciplina bastante rigorosa.
Ø As meninas também praticavam atividades físicas, mas com o objetivo de gerar filhos fortes e saudáveis.
Ø Aos 7 anos - Os meninos espartanos eram levados para um tipo de quartel ou acampamento nas montanhas onde ficava aos cuidados do polemarco. Lá, eles aprendiam a ler, a contar e a escrever, além de estudar literatura e música. Também praticavam exercícios físicos para crescerem fortes e prontos para a guerra. Sua instrução incluía o manejo de armas, corridas, saltos, lançamentos de disco e de dardos, além de esgrima. Viviam descalços e com poucas roupas, em casernas sem conforto, para habituarem o corpo às dificuldades e às privações.
Ø Aos 16 anos - Os meninos também passavam por várias provas de iniciação era a críptia: à noite, eles deveriam buscar alimentos sem serem pegos. O objetivo mais importante da prova era fortalecer o caráter do jovem, que deveria saber como traçar estratégias para não ser capturado. Os que não fossem considerados aptos para a guerra caíam numa condição inferior dentro do grupo de espartanos. Depois de receber essa formação, era considerado cidadão com direito a participar da ápela.
Criptéia (Consistia numa matança periódica de hilotas. à noite, eles deveriam buscar alimentos sem serem pegos. O objetivo mais importante da prova era fortalecer o caráter do jovem, que deveria saber como traçar estratégias para não ser capturado. O medo presente entre os espartanos de uma grande rebelião dos hilotas, assim era importante controlar o seu crescimento populacional eliminando de tempos em tempos uma parcela. As kríptias também teriam uma grande importância na formação do soldado, já que através delas, Os jovens aprendizes poderiam viver a experiência de matar homens, necessidade constante de qualquer sociedade belicosa).
Ø Aos 18 anos - Voltavam para Esparta era considerado um soldado.
Ø Aos 20 anos - O jovem ingressava no exército.
Ø aos 30 anos - Recebia permissão para casar, mas visitava a esposa secretamente. Recebia de presente uma área de terra e alguns hilotas. Ficava proibido por lei de praticar outra atividade que não fosse a militar: todo espartíata era essencialmente guerreiro. Esparta possuía o exército mais poderoso da Grécia. Contava com 30 mil homens de infantaria (hoplitas) e 500 de cavalaria, sempre prontos para a guerra. Voltados para o combate, os cidadãos espartanos sobreviviam basicamente de produtos cultivados pelos hilotas.
Valores espartanos:
ü Guerra e preparação militar - Praticamente todas as atividades promovidas pelo Estado e pelos espartanos estavam direta ou indiretamente ligados a guerra, o ambiente era sempre marcado por jogos, exercícios, treinamentos e preparação para os confrontos. Morrer em uma guerra era uma honra para um espartano. Morrer de velhice ou de doença era desonroso. (Hoplita era, o soldado de infantaria pesada. Seu nome provém do grande escudo levado para as batalhas: o hóplon).
ü Patriotismo - O mais alto valor para um espartano deveria ser Esparta, sua pátria.
ü Xenofobia (aversão ao estrangeiro) - Poucos estrangeiros circulavam pela cidade e não eram vistos com bons olhos pelos espartanos que receavam a espionagem.
ü Eugênia - Os espartanos tinham uma preocupação muito grande com a qualidade da “raça”. Para que tivessem um exército forte era necessário a união material humano de primeira linha, dessa maneira, mantinham um acompanhamento cuidadoso a gravidez de suas mulheres que eram levadas a fazer exercícios para uma melhor gestação, ao nascer a criança era avaliada por uma comissão de anciãos que procuravam observar se o recém-nascido apresentava saúde perfeita, caso contrário, seriam executados (infanticídio).
ü Laconismo - Ao contrário dos atenienses, que desde muito cedo estudavam retórica e eloquência, objetivando o aprimoramento de seu discurso, em Esparta os soldados caracterizavam-se pelo hábito de falar pouco.
A mulher espartana
No mundo antigo, de um modo geral, as mulheres eram percebidas como inferiores aos homens, permanecendo sujeitas a sua vontade do nascimento até a morte.Em Esparta, especificamente, o gênero feminino apresentava pequenas regalias em relação ao restante da Grécia. Por ser responsável pela procriação - fornecimento de novos soldados, portanto -, a mulher de um cidadão era tratada com diversos cuidados durante sua gestação, praticando inúmeros exercícios físicos e recebendo o acompanhamento adequado.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 6° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
b) Formação: Por volta do século XII a.C., foi conquistada pelos dórios, povo guerreiro que deu à cidade suas principais características.
c) Aspectos Sociais:
I. Cidadãos, espartanos ou espartíatas - eram descendentes dos antigos dórios e formavam a classe dos iguais: aaristocracia. Só eles podiam participar da vida política da cidade, em uma assembleia chamada ápela.
II. Periecos - descendiam dos povos que se submeteram aos dórios. Eram homens livres que se dedicavam ao comércio e ao artesanato ou possuíam pequenas propriedades agrícolas, mas eram obrigados a cultivar um lote especial de sua propriedade para os reis espartanos. Em época de guerra, os periecos também participavam do exército.
III. Hilotas - população servil, descendente de povos que resistiram ao domínio dos dórios, sendo privados de seus bens e da liberdade. Formavam a maior parte da população. Eram obrigados a trabalhar nas terras do Estado e dos cidadãos espartanos e não podiam abandonar as terras. Como consequência disso, houve muitos conflitos entre espartanos e hilotas.
d) Aspectos Políticos:
Ø Diarquia - o poder era exercido por dois reis, que acumulavam funções militares e religiosas.
Ø Ápela - era mais uma reunião de soldados do que um lugar de debate político.
Ø Gerúsia - era uma espécie de conselho formado por 28 anciãos com mais de 60 anos, membros das famílias mais ricas. Sua função era a de elaborar as leis.
Ø Eforato - era formado por cinco membros, os éforos, que executavam as decisões da gerúsia. Eles eram eleitos pela assembleia de todos os cidadãos guerreiros.
Governo Oligárquico - A maior parte dos habitantes de Esparta não tinha nenhum tipo de participação política, pois vinham quase sempre de cidades conquistadas pelos espartanos, o que os levava a serem considerados inferiores. Por isso, o governo espartano era oligárquico, ou seja, exercido por uma minoria.
e) A educação dos espartanos e a formação dos cidadãos
Ø Quando nascia - A criança era levada ao lugar onde se reuniam os mais velhos, que a examinavam. Caso apresentasse alguma deformidade, o recém-nascido era morto. Se o considerassem saudável, ficava sob os cuidados da mãe. As crianças dedicavam-se ao exercício militar e habituavam-se a suportar o frio, o cansaço, a fome e uma disciplina bastante rigorosa.
Ø As meninas também praticavam atividades físicas, mas com o objetivo de gerar filhos fortes e saudáveis.
Ø Aos 7 anos - Os meninos espartanos eram levados para um tipo de quartel ou acampamento nas montanhas onde ficava aos cuidados do polemarco. Lá, eles aprendiam a ler, a contar e a escrever, além de estudar literatura e música. Também praticavam exercícios físicos para crescerem fortes e prontos para a guerra. Sua instrução incluía o manejo de armas, corridas, saltos, lançamentos de disco e de dardos, além de esgrima. Viviam descalços e com poucas roupas, em casernas sem conforto, para habituarem o corpo às dificuldades e às privações.
Ø Aos 16 anos - Os meninos também passavam por várias provas de iniciação era a críptia: à noite, eles deveriam buscar alimentos sem serem pegos. O objetivo mais importante da prova era fortalecer o caráter do jovem, que deveria saber como traçar estratégias para não ser capturado. Os que não fossem considerados aptos para a guerra caíam numa condição inferior dentro do grupo de espartanos. Depois de receber essa formação, era considerado cidadão com direito a participar da ápela.
Criptéia (Consistia numa matança periódica de hilotas. à noite, eles deveriam buscar alimentos sem serem pegos. O objetivo mais importante da prova era fortalecer o caráter do jovem, que deveria saber como traçar estratégias para não ser capturado. O medo presente entre os espartanos de uma grande rebelião dos hilotas, assim era importante controlar o seu crescimento populacional eliminando de tempos em tempos uma parcela. As kríptias também teriam uma grande importância na formação do soldado, já que através delas, Os jovens aprendizes poderiam viver a experiência de matar homens, necessidade constante de qualquer sociedade belicosa).
Ø Aos 18 anos - Voltavam para Esparta era considerado um soldado.
Ø Aos 20 anos - O jovem ingressava no exército.
Ø aos 30 anos - Recebia permissão para casar, mas visitava a esposa secretamente. Recebia de presente uma área de terra e alguns hilotas. Ficava proibido por lei de praticar outra atividade que não fosse a militar: todo espartíata era essencialmente guerreiro. Esparta possuía o exército mais poderoso da Grécia. Contava com 30 mil homens de infantaria (hoplitas) e 500 de cavalaria, sempre prontos para a guerra. Voltados para o combate, os cidadãos espartanos sobreviviam basicamente de produtos cultivados pelos hilotas.
Valores espartanos:
ü Guerra e preparação militar - Praticamente todas as atividades promovidas pelo Estado e pelos espartanos estavam direta ou indiretamente ligados a guerra, o ambiente era sempre marcado por jogos, exercícios, treinamentos e preparação para os confrontos. Morrer em uma guerra era uma honra para um espartano. Morrer de velhice ou de doença era desonroso. (Hoplita era, o soldado de infantaria pesada. Seu nome provém do grande escudo levado para as batalhas: o hóplon).
ü Patriotismo - O mais alto valor para um espartano deveria ser Esparta, sua pátria.
ü Xenofobia (aversão ao estrangeiro) - Poucos estrangeiros circulavam pela cidade e não eram vistos com bons olhos pelos espartanos que receavam a espionagem.
ü Eugênia - Os espartanos tinham uma preocupação muito grande com a qualidade da “raça”. Para que tivessem um exército forte era necessário a união material humano de primeira linha, dessa maneira, mantinham um acompanhamento cuidadoso a gravidez de suas mulheres que eram levadas a fazer exercícios para uma melhor gestação, ao nascer a criança era avaliada por uma comissão de anciãos que procuravam observar se o recém-nascido apresentava saúde perfeita, caso contrário, seriam executados (infanticídio).
ü Laconismo - Ao contrário dos atenienses, que desde muito cedo estudavam retórica e eloquência, objetivando o aprimoramento de seu discurso, em Esparta os soldados caracterizavam-se pelo hábito de falar pouco.
A mulher espartana
No mundo antigo, de um modo geral, as mulheres eram percebidas como inferiores aos homens, permanecendo sujeitas a sua vontade do nascimento até a morte.Em Esparta, especificamente, o gênero feminino apresentava pequenas regalias em relação ao restante da Grécia. Por ser responsável pela procriação - fornecimento de novos soldados, portanto -, a mulher de um cidadão era tratada com diversos cuidados durante sua gestação, praticando inúmeros exercícios físicos e recebendo o acompanhamento adequado.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 6° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 6° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 6° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
Os Jesuítas no Brasil
São Miguel das Missões (RS) |
O governo português e a Igreja eram aliados na empreitada de expandir a fé católica pelo mundo.
Ø Padroado - Dava ao rei o direito de exercer várias funções próprias da Igreja:
· Cobrar o dízimo dos colonos
· Pagar o salário dos padres, que se tornavam praticamente funcionários do governo;
· Garantir a difusão e a consolidação do catolicismo por todo o Império Português;
· Construir e conservar igrejas;
· Organizar dioceses e nomear bispos.
OS JESUÍTAS NA AMÉRICA
Companhia de Jesus foi criada no contexto das Contra Reformas (século XVI).
Ø Fundada em 1534 por Inácio de Loiola.
Objetivos dos jesuítas:
ü Levar o catolicismo para as regiões recém descobertas Índia, China e África, principalmente à América. Conter o avanço do protestantismo nestas regiões;
ü Catequizar os índios americanos, transmitindo-lhes a língua portuguesa e espanhola, os costumes europeus e a religião católica;
ü Construir escolas católicas em diversas regiões do mundo;
A) Os Jesuítas no Brasil colonial:
ü Atuaram na conversão das populações indígenas ao catolicismo.
ü Contribuíram para a ocupação do território com a fundação de vilas, como a Vila de Piratininga, atual cidade de São Paulo, fundada em 1554 pelos padres Manoel da Nóbregae José de Anchieta.
ü Criação de colégios em Salvador, Natal, Olinda, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente, São Paulo, Paranaguá e Laguna.
B) As missões e os conflitos com os colonos
ü As missões, reduções ou aldeamentos eram comunidades indígenas organizadas pelos religiosos jesuítas.
ü Tinha por objetivo centralizar as tribos indígenas em um só local com o objetivo principal de torná-los cristãos.
C) A Catequese
Os índios nas missões eram obrigados a abandonarem seus valores culturais como:
· Politeísmo;
· Antropofagia;
· Cerimônias dirigidas pelos pajés;
· Poligamia;
· Nomadismo;
· Idioma substituído pelo latim das orações católicas;
· O ritmo de vida dos indígenas, em favor dos horários rígidos;
D) A educação jesuíta
Os colégios criados pela Companhia de Jesus na América portuguesa ensinavam:
· Retórica,
· Humanidades,
· Gramáticas grega e latina.
Os jesuítas também aprenderam a língua tupi, instrumento fundamental para que pudessem ensinar e catequizar a população nativa.
Os padres jesuítas sistematizaram por escrito a gramática tupi. Com esse esforço, foi possível preservar o patrimônio linguístico do tupi, ainda que a população indígena tenha sido dizimada ao longo da história.
E) Atividades nas missões
ü Realizavam trabalhos agrícolas e artesanais voltados à subsistência e ao comércio com diferentes regiões da colônia.
ü Criavam animais (bois, cavalos, porcos e galinhas).
ü Praticavam a agricultura seguindo o modelo europeu e o extrativismo vegetal.
As riquezas obtidas com a venda desses produtos destinavam-se à manutenção das despesas da ordem religiosa responsável pela aldeia.
F) O confronto entre padres e colonos
Ø Padres afirmavam que os gentios possuíam alma e deveriam ser salvos pela evangelização.
Ø Colonos defendiam o apresamento, pois sua venda como escravos era um negócio bastante lucrativo. Por isso, eram frequentes a invasão e a destruição de missões com o objetivo de saquear suas riquezas e escravizar os nativos.
G) A “guerra justa” e o “resgate”
“Guerra justa” - era autorizada somente a captura de indígenas que realizassem ataques às vilas e às missões jesuíticas, que praticassem a antropofagia e que recusassem a catequização.
“Resgate” - estabeleceu que os índios já escravizados de outras aldeias, por terem sido capturados em conflitos intertribais, podiam ser resgatados pelos portugueses e deveriam permanecer como escravos nas propriedades.
H) As visitações na América portuguesa
Igreja católica procurou aumentar o controle sobre as crenças e práticas religiosas dos colonos por meio do Tribunal do Santo Ofício durante a Contrarreforma. Toda e qualquer manifestação religiosa que não fosse católica poderia ser considerada idolatria ou heresia, e seria severamente punida.
Visitações - visitas realizadas pelos representantes da Inquisição.
ü Objetivo: era identificar aqueles que realizavam cultos pagãos ou professavam outras religiões, como os judeus e os muçulmanos, e encaminhá-los para a metrópole, onde seriam julgados e punidos.
ü As punições - para os hereges eram diversas e variavam de acordo com a prática:
· Multas em dinheiro;
· Flagelações;
· Degredo;
· Confisco parcial ou total de bens;
· Morte pela fogueira;
A ação da Inquisição nos primeiros séculos da colonização contribuiu para a destruição de culturas indígenas e africanas.
I) A expulsão dos jesuítas
Ao longo do período colonial, os jesuítas foram protagonistas de vários conflitos.
Ø Divergirem dos colonos sobre a escravização dos indígenas, o governo português acusava a ordem religiosa de alimentar projetos políticos contrários aos interesses da Coroa.
Ø O poder, a riqueza e a liberdade de ação da Companhia de Jesus eram tão amplos que ela chegava a ser comparada a um verdadeiro Estado.
Em 1759, o primeiro-ministro de Portugal, o marquês de Pombal, ordenou a expulsão dos jesuítas de todos os territórios portugueses. Segundo o marquês, era preciso separar os interesses do Estado dos objetivos religiosos.
Ø As instituições de ensino jesuítas foram então extintas, e o governo assumiu a responsabilidade pela educação na colônia.
Ø Não havia, porém um projeto educacional para substituir aquele utilizado pelos jesuítas. O Estado precisou recorrer aos padres de outras ordens religiosas e mesmo a pessoas formadas pelas escolas da Companhia de Jesus.
REFERÊNCIAS:
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. Projeto Teláris: história 7° ano. São Paulo: Ática, 1º ed., 2012.
CAPELLARI, Marcos Alexandre; NOGUEIRA, Fausto Henrique Gomes. História: ser protagonista - Volume único. Ensino Médio. 1ª Ed. São Paulo: SM. 2010.
COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. Volume Único. Ensino Médio. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva 2005.
MOZER, Sônia & TELLES, Vera. Descobrindo a História. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudico. História & Vida Integrada. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Projeto Araribá: História – 7° ano. /Obra coletiva/ São Paulo: Editora Moderna, 2010. Editora Responsável: Maria Raquel Apolinário Melani.
Uno: Sistema de Ensino – História – 7° ano. São Paulo: Grupo Santillana, 2011. Editor Responsável: Angélica Pizzutto Pozzani.
VICENTINO, Cláudio. Viver a História: Ensino Fundamental. São Paulo: Ed. Scipione, 2002.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Resumo e Esquema: Independência do Brasil 8° Ano
Resumo em esquema de tópicos
* O Primeiro Reinado é a fase da História do Brasil que corresponde ao governo de D. Pedro I. Tem início em 7 de setembro de 1822, com a Independência do Brasil e termina em 7 de abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro I.
-> Reações ao processo de Independência
* Em algumas províncias do Norte e Nordeste do Brasil, militares e políticos, ligados a Portugal, não queriam reconhecer o novo governo de D. Pedro I. Nestas regiões ocorreram muitos protestos e reações políticas.
* Nas províncias do Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Bahia ocorreram conflitos armados entre tropas locais e oficiais.
-> Constituição de 1824
* Em 1823, durante a elaboração da primeira Constituição brasileira, os políticos tentaram limitar os poderes do imperador. Foi uma reação política a forma autoritária de governar do imperador.
* Neste mesmo ano, o imperador, insatisfeito com a Assembléia Constituinte, ordenou que as forças armadas fechassem a Assembléia. Alguns deputados foram presos.
* D.Pedro I escolheu dez pessoas de sua confiança para elaborar a nova Constituição. Esta foi outorgada em 25 de março de 1824 e apresentou todos os interesses autoritários do imperador.
* Além de definir os três poderes (legislativo, executivo e judiciário), criou o poder Moderador, exclusivo do imperador, que lhe concedia diversos poderes políticos.
* A Constituição de 1824 também definiu leis para o processo eleitoral no país. De acordo com ela, só poderiam votar os grandes proprietários de terras, do sexo masculino e com mais de 25 anos.
* Para ser candidato também era necessário comprovar alta renda (400.000 réis por ano para deputado federal e 800.000 réis para senador).
-> Guerra da Cisplatina
* Este foi outro fato que contribuiu para aumentar o descontentamento e a oposição ao governo de D.Pedro I. Entre 1825 e 1828.
* O Brasil se envolveu na Guerra da Cisplatina, conflito pelo qual esta província brasileira (atual Uruguai) reivindicava a independência.
* A guerra gerou muitas mortes e gastos financeiros para o império.
* Derrotado, o Brasil teve que reconhecer a independência da Cisplatina que passou a se chamar República Oriental do Uruguai.
-> Confederação do Equador
* As províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará formaram, em 1824 a Confederação do Equador.
* A insatisfação popular com as condições sociais do país e o descontentamento político da classe média e fazendeiros da região com o autoritarismo de D.Pedro I foram as principais causas deste movimento.
* Em 1824, Manuel de Carvalho Pais de Andrade tornou-se líder do movimento separatista e declarou guerra ao governo imperial.
* O governo central reagiu rapidamente e com todos as forças contra as províncias separatistas. Muitos revoltosos foram presos, sendo que dezenove foram condenados a morte.
* A confederação foi desfeita, porém a insatisfação com o governo de D.Pedro I só aumentou.
-> Desgaste e crise do governo de D.Pedro I
* Nove anos após a Independência do Brasil, a governo de D.Pedro I estava extremamente desgastado.
* O descontentamento popular com a situação social do país era grande.
* O autoritarismo do imperador deixava grande parte da elite política descontente.
* A derrota na Guerra da Cisplatina só gerou prejuízos financeiros e sofrimento para as famílias dos soldados mortos. Além disso, as revoltas e movimentos sociais de oposição foram desgastando, aos poucos, o governo imperial.
* Outro fato que pesou contra o imperador foi o assassinato do jornalista Libero Badaró. Forte crítico do governo imperial, Badaró foi assassinado no final de 1830.
* A polícia não encontrou o assassino, porém a desconfiança popular caiu sobre homens ligados ao governo imperial.
* Em março de 1831, após retornar de Minas Gerais, D.Pedro I foi recebido no Rio de Janeiro com atos de protestos de opositores. Alguns mais exaltados chegaram a jogar garrafas no imperador, conflito que ficou conhecido como “A Noite das Garrafadas”.
* Os comerciantes portugueses, que apoiavam D.Pedro I entraram em conflitos de rua com os opositores.
-> Abdicação
* Sentindo a forte oposição ao seu governo e o crescente descontentamento popular, D.Pedro percebeu que não tinha mais autoridade e forças políticas para se manter no poder.
* Em 7 de abril de 1831, D.Pedro I abdicou em favor de seu filho Pedro de Alcântara, então com apenas 5 anos de idade. Logo ao deixar o poder viajou para a Europa.
Assinar:
Postagens (Atom)