terça-feira, 21 de julho de 2015
Reaproximação EUA e Cuba
O dia 17 de dezembro de 2014, os Estados Unidos da América (EUA) e Cuba tornaram públicas suas intenções de reaproximação diplomática. O anúncio desse começo de abertura de relações políticas entre os dois países veio acompanhado de negociações para libertação do americano Alan Gross, em Cuba, bem como a libertação de três cubanos na Flórida (EUA), acusados de espionagem. Tanto o líder cubano, Raúl Castro, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, discursaram sobre o fato da libertação desses indivíduos e assinalaram a perspectiva de uma nova fase entre os dois países.
Esse acontecimento tem uma relevância notória (e, por isso mesmo, vem sendo amplamente noticiado na imprensa internacional) exatamente por terem sido publicamente declaradas as intenções de reaproximação. Contudo, a história da relação entre Cuba e EUA, desde os anos 1960 até agora, é marcada por várias contradições, tanto de um lado quanto de outro. As contradições começam logo com as investidas revolucionárias do grupo liderado por Fidel Castro, na década de 1950, contra o governo de Fulgêncio Baptista. Há já um longo debate historiográfico que esmiúça, nesse contexto, a participação dos EUA tanto em apoio às forças de Baptista quanto em eventuais auxílios aos guerrilheiros.
Ademais, no contexto da Guerra Fria, a Revolução Cubana só representou, de fato, um ícone do comunismo na América Latina quando começou a estreitar relações com a União Soviética no início dos anos de 1960. Até 1959, quando os revolucionários ocuparam Havana e empossaram Manuel Urrutia Lléo presidente — um advogado com tendências ideológicas liberais —, os rumos de uma “Cuba comunista” e de uma “luta contra o imperialismo Ianque” ainda não haviam sido plenamente traçados. Essa perspectiva só se definiu quando os irmãos Castro assumiram de fato o controle da ilha, tanto político quanto econômico e militarmente, optando pelo apoio ao bloco soviético.
Essa opção de Cuba implicava, naturalmente, rechaçar a estrutura econômica americana que havia na ilha há décadas. As “plantations” e os demais investimentos americanos em Cuba foram desapropriados ou expropriados pelo Estado comandado pelos Castro. A institucionalização de uma burocracia gerenciadora do país, estatizante e profundamente dependente da URSS, valendo-se da retórica revolucionária socialista, provocou a reação do bloco ocidental, sobretudo dos EUA, que, a partir de 1961, romperam relações diplomáticas com Cuba após o episódio da invasão da Baía dos Porcos. O momento mais crítico e tenso da Guerra Fria no que se refere à relação EUA-Cuba foi o da Crise dos Mísseis.
Com a queda do bloco soviético em 1989 e as reformas estruturais na Rússia e nos demais países, as relações entre Estados Unidos e Cuba passaram a tomar outro rumo. Cuba foi submetida à pressão de embargos econômicos na forma de duas leis principais: A Lei Torricelli, de 1992, e a Lei Helms-Burton, de 1996. Essas leis dificultavam a articulação econômica de empresas que tinham ou queriam estabelecer negócios em Cuba, já que esse país não contava mais com o auxílio soviético. Além disso, há ainda a posição dos emigrados cubanos que vivem nos EUA. Essa comunidade cubano-americana possui opiniões bastantes diversas e contundentes com relação aos embargos. Enquanto uns apoiam o seu fim, outros defendem a sua manutenção como forma de pressão para a ruína do regime instalado pelos Castro.
A partir dos anos 2000, houve uma maior flexibilidade com relação às parcerias econômicas entre Cuba e diversos outros países, incluindo o Brasil e os EUA. Recentemente, o financiamento do Porto de Mariel em Cuba pelo governo brasileiro repercutiu enormemente, sobretudo por conta de acusações em torno da obscuridade na prestação de contas de tal empreendimento. Mas o fato é que Cuba tem buscado manter-se “de pé” politicamente, segurando a moldura de um regime autoritário, ao mesmo tempo em que se articula economicamente como pode e com quem pode. A renúncia de Fidel Castro trouxe mais uma reviravolta a esse cenário, e seu irmão, que sempre foi considerado mais radical e mais ligado ao núcleo duro das Forças Armadas cubanas, vem demostrando, contraditoriamente, essa perspectiva de abertura. Essa postura talvez seja influenciada por uma articulação política que leva em conta a idade avançada tanto de Fidel quanto do próprio Raúl Castro e dos demais membros da elite dirigente de Cuba. O regime precisará ser reformado nos próximos anos; e ao que tudo indica, Raúl Castro deve estar preparando uma nova elite para isso, como acentua o pesquisador Maurício Santoro, no trecho a seguir:
“Expectativas moderadas e uma clara noção dos limites do possível podem levar à melhoria expressiva das relações entre Estados Unidos e Cuba, abrindo possibilidades positivas para o futuro imprevisível após a morte dos irmãos Castro. A ausência de uma figura pública com legitimidade comparável à dos líderes revolucionários pode criar um perigoso vácuo político, com o risco de disputas violentas pelo poder. Nesse contexto, faz sentido que Washington aposte na construção de vínculos de confiança com altos funcionários do governo cubano, nas esferas diplomática, militar e econômica, que seriam de grande valia num cenário turbulento como esse.” (SANTORO, Maurício. Cuba após a Guerra Fria: mudanças econômicas, nova agenda diplomática e o limitado diálogo com os EUA. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 53, n. 1, July, 2010. p. 138)
Ademais, é preciso ficar atento à situação atual de Cuba, às principais reivindicações da população cubana, aos motivos de haver tanta evasão do país e ao interesse que a comunidade econômica internacional, incluindo o Brasil, tem na ilha.
FONTE.:
http://vestibular.brasilescola.com
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Jogos Históricos #1: A Série TOTAL WAR
"Total War" é uma série de jogos com o gênero de estratégia virtual, ação e aventura. Todos os 8 games da franquia foram desenvolvidos pela "The Creative Assembly", sendo publicados primeiramente pela "Eletronic Arts", depois com dois jogos seguintes pela "Activision", passando a bola ainda hoje para a "Sega". A série iniciou seus trabalhos em 2000 e continua na ativa até hoje.
A franquia inteira é focada em diversos períodos da história da humanidade. Sendo assim, o que podemos ver nos games, sendo eles de um gênero de estratégia, são curtas computações gráficas que aparecem na 'intro' e mais algumas outras partes durante a jogatina, seguindo ou não a verdadeira situação histórica ocorrida, dependendo do seu modo de jogo. Ou seja, isso não tira o valor da série nesse ponto, até porque a grande maioria dos jogos do gênero usam este mesmo estilo de 'gameplay'.
Assim como qualquer outra famosa franquia de games, que começou a estrear seus jogos já antigamente, nós nunca podemos comparar o fator dos gráficos dos títulos atuais da série aos antigos remanescentes. Queremos que isso sempre fique claro para todos. Pois bem, "Total War" tem concorrentes de peso na disputa estratégica, dentre eles "Sim City" e o glorioso "Civilization". Mesmo assim, ao menos na característica gráfica, "Total War" ganhava dos seus vizinhos.
A série, assim como as outras citadas, prefere não encher a jogatina com várias 'cutscenes', e isso pode agradar alguns como pode afastar outros. De qualquer modo, não podemos negar, as poucas computações gráficas que a série sempre mostra em seus jogos são lindíssimas. Mas saindo delas, ainda vemos imensa qualidade nas ambientações do mapa de campanha, e claro, nas batalhas que entramos a todo momento.
Sem dúvida a característica alternativa mais admirável e revolucionária dos games "Total War", são as jogabilidades dos títulos. Obviamente, a cada ano os produtores melhoram mais e mais a qualidade nesse aspecto. Porém, falando sobre isso, o que logo vem a cabeça sobre a série seria as batalhas, e não podemos pensar diferente. Mas, como essa característica é tão única na série, resolvemos falar sobre ela separadamente na análise, ou seja, aguardem mais a frente.
Nesse ponto, podemos dizer que a série é dividida em duas diferentes categorias: estratégia por turnos, que estão presentes na campanha, e batalhas em tempo real, que também fazem parte da campanha pessoal de cada jogador, mas novamente podem ser jogadas pelo modo de "Batalhas Históricas". Todos os fatores comentados nesse parágrafo, serão melhor aperfeiçoados a frente na análise.
Campanha Viciante:
As "batalhas", tanto em terra, quanto navais, são realmente o auge de entretenimento e exclusividade da série, mas isso não quer dizer que a campanha básica dos jogos não seja divertida. Muito ao contrário, o sistema de estratégia por turnos é divertido, onde não só devemos determinar a posição dos nossos exércitos, mas também administrar as nossas cidades, controlando o nível de ordem populacional e entrada de alimentos que entra e saí, tudo isso para não criar um caos para as suas províncias.
O que talvez poderia ser melhorado nesse aspecto, seria a lentidão no qual ele acontece. Todas as ações que você efetua demoram rodadas e mais rodadas até ficarem prontas, do jeito que você quer. Apesar disso, a campanha em turnos ainda continua sendo muito divertida e viciante.
Ambientações Incríveis:
Se no fator de gráficos, os jogos "Total War" ganham de seus concorrentes, é basicamente óbvio que as ambientações não são diferentes. No mapa de campanha, onde controlamos a representação dos nossos exércitos e desenvolvemos as nossas cidades, os cenários não são como foco, estão ali funcionando como um GPS. Aonde realmente nôs sentimos em casa, é novamente nos momentos das batalhas em tempo real.
O interessante é que, um pouco antes da tela de carregamento acabar, você não sabe que cenário estará a sua frente. Você não sabe se a cidade que está sendo invadida possuí um grande ou pequeno espaço determinante. E caí entre nós, isso é muito legal. Os cenários envolventes das batalhas são os mais espetaculares hoje em dia, e com "Rome II", conseguimos ver, com a força de um bom PC, o quão bem trabalhado são essas ambientações, desde árvores no meio de diversos campos, até o excelente trabalho das texturas das águas, vistas lindamente com as batalhas navais.
Shogun - o Marco Revolucionário:
Podemos considerar, que foi sim com "Shogun", que a característica revolucionária de batalhas em tempo real, teve o seu maior destaque. Na época de lançamento, esse fator que o game apresentava era impressionante, mesmo hoje em dia sendo algo já tão ultrapassado, ao menos, falando graficamente. Com uma jogabilidade excelente para a época e gráficos realmente bons, "Shogun" ainda continua sendo um dos títulos preferidos dos fãs.
Medieval - A Sequência Bem Sucedida:
O segundo capítulo da franquia causava medo aos fãs do excelente primeiro jogo, aquela sensação de preocupação envolvendo sequências. Mas, para a nossa sorte, não tínhamos com que nôs preocupar. Assim como o título deixa claro, o novo capítulo da franquia se passava no período medieval, favorito por muitos fãs do gênero. A estratégia foi muito inteligente da empresa, que se provava que gostava de alterar seus palcos a cada jogo lançado.
Em relação a qualidade de jogo, o período histórico foi novamente bem retratado, sendo as batalhas com espadas, machados, e etc... A jogabilidade do game estava bem parecida com a do título anterior, mas isso não desfez o bom trabalho. Os gráficos talvez eram o maior salto se comparado a "Shogun". Aqui eles estavam mais bonitos e as modelagens do cenário estavam mais atuais. Ou seja, "Medieval" vinha com a mesma fórmula do primeiro grande sucesso, o que resultou em mais um número grande de novos fãs.
Rome - Agradou à Maioria:
Após o sucesso espantoso dos dois primeiros games de uma nova série de estratégia, era basicamente óbvio que mais um título sairia para os PC's. Com isso veio "Rome: Total War". O terceiro capítulo da franquia, por total ironia, acabou sendo o mais bem sucedido na crítica, até mesmo hoje em dia. Claro que os fãs da série se deram por mais que satisfeitos com o resultado final. O jogo tinha como palco agora a República Romana, misturada com uma boa dose Grega.
"Rome" trazia um cenário cativante, novamente sendo original. Agora tanto a jogabilidade, quanto os gráficos, haviam melhorado mais que graduadamente, como no game anterior. O 'gameplay' estava mais flexível e ágil de ser usar, e por sua vez, os gráficos eram os mais lindos da série, obviamente, até aquele momento. Um excelente capítulo na franquia.
Empire - Mudança Completa de Cenário:
"Empire: Total War" foi, sem dúvida, o game que provou que a série realmente não tinha barreiras para retratar os seus cenários históricos. Isso foi visto graças ao fato de Empire, novamente como o próprio nome diz, se passasse anos a frente dos jogos antecessores. Aqui tínhamos o palco do século XVIII, perto da "Revolução Americana". Antes usávamos espadas, com cavalarias e tudo mais. Agora, até as batalhas mudaram de foco, com armas de fogo com grande destaque, lembrando assim, de qualquer maneira, "Company of Heroes".
Apesar da originalidade ter decaído um pouco, graças ao fato do cenário histórico já existir em outra série do mesmo gênero, "Empire" continuava sendo incrível, assim como os jogos anteriores da série. A jogabilidade estava mais divertida e respondia mais facilmente e os gráficos novamente haviam sido os mais bonitos, até aquele momento. Um ótimo game!
Rome II - Um jogo VICIANTE:
O último capítulo da série até então é "Total War: Rome II". O game é uma sequência não direta do primeiro "Rome", lançado em 2004 e marcado como sucesso de crítica. Eu digo "não direta", pois simplesmente o cenário histórico que se repetiu, além dos objetivos serem os mesmos. Aqui voltávamos as espadas e cavalos, para entrar em uma das experiências mais viciantes que a série "Total War" conseguiu criar. Isso acontece pois, apesar de certos defeitos, "Rome II" possuí muitos pontos divertidos.
A jogabilidade e gráficos obviamente que nunca foram tão bem feitas, porém agora vieram muitos bugs, algo que não existia tão frequente nos jogos anteriores. Além disso, o jogo apresenta o maior tempo de 'loads' que eu pessoalmente já vi em um jogo. Ao término de cada sessão, vão-se lá no mínimo, 2 a 3 minutos de espera. Realmente irritante. Mas, apesar dessas característica nada agradáveis, "Rome II" fez jus ao universo "Total War", e é um dos games mais viciantes da atualidade.
"Napoleon: Total War"
O jogo foi lançado em 2010. Este é o sexto jogo da Série Total War. (Wikipédia - Napoleon: Total War) Enredo: O game se passa no período da "França Napoleônica", na qual controlamos os exércitos reais do próprio Napoleão Bonaparte.
Confira um gameplay de Napoleão Total War:
Fonte: http://aplaceofgames.blogspot.com.br/
E aí já jogou algum dessa série de jogos? o que achou? deixe seu comentário!!!
Textos Antigos e Medievais Traduzidos
Uma coleção de textos antigos e medievais traduzidos para o português, pelo professor Ricardo da Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Confira no link abaixo:
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Acordo histórico no Oriente Médio: Bom para EUA e Irã, ruim para Israel
Hassan Rouhani presidente do Irã. |
Estou abrindo mais um leque aqui no blog, não só falarei de História (minha profissão e paixão) de agora em diante também falarei sobre Atualidades, |Geopolítica e Relações Internacionais, começando com o acordo histórico de um dos países mais fechados do Oriente Médio, o Irã veja a reportagem completa do site Opera Mundi:
Após três adiamentos do prazo para a elaboração do texto final de um acordo sobre o programa nuclear do Irã, o P5+1, grupo que reúne EUA, Rússia, China, França, Reino Unido, Alemanha e a União Europeia, anunciou na segunda-feira (14/07) ter chegado a um consenso. Os termos técnicos do acordo seguem o parâmetro do que foi discutido em Lausanne, no último mês de abril. As dúvidas permaneciam sobre como esses parâmetros seriam fiscalizados, quais as eventuais represálias por descumprimento do documento e as também possíveis benesses da negociação. Com o texto final anunciado e celebrado, é possível analisar quem perdeu e quem venceu com o que foi acordado em Viena.
Os pontos principais do acordo são, resumidamente, a redução e limitação do número de centrífugas para enriquecimento de urânio do Irã, além da limitação da capacidade de suas centrífugas existentes. A limitação do estoque de urânio também sofrerá cortes na capacidade de enriquecimento. Além disso, há o desmantelamento do atual reator nuclear de Arak e substituição por um modelo menos capaz de geração de plutônio. Finalmente, permissão de inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) em todas as instalações conhecidas e em “qualquer local suspeito”, segundo Barack Obama. O linguajar técnico e a necessidade de minúcias teria sido uma das razões para a demora na elaboração de um texto final considerado “seguro”, não apenas politicamente, mas também por cientistas.
As contrapartidas são o fim das sanções que o Irã sofre tanto dos EUA, quanto da ONU e da UE. Elas são vinculadas aos cumprimentos das demandas citadas, progressivamente. Também são vinculadas ao cronograma estabelecido, de acordo com cada tema, podendo ter um prazo de carência. Por exemplo, sanções sobre comércio de armamento possuem uma carência de cinco anos e sanções sobre mísseis balísticos possuem uma carência de oito anos. As sanções podem ser reaplicadas em até sessenta e cinco dias, pelo Conselho de Segurança da ONU, caso o Irã seja denunciado por descumprir o acordo. Isso foi feito com um mecanismo sem precedentes, que estabeleceu que as antigas sanções prevaleceriam novamente, sem a necessidade de novas deliberações e o risco de vetos ou travamento de agenda.
Vencedores: Obama e Rouhani
O acordo foi anunciado com uma declaração escrita do P5+1, além de entrevistas coletivas dos negociadores e anúncios em vídeo de Barack Obama e de Hassan Rouhani, presidente iraniano. Ambos, Obama e Rouhani, são os dois maiores vencedores com o acordo de Viena. Obama fez um anúncio de quinze minutos sobre o tema, acompanhado do vice, Joe Biden, que permaneceu o tempo todo em silêncio atrás do mandatário. O discurso foi tanto voltado para o mundo quanto para o público doméstico. Obama colocou seu país e seu governo como “líder do mundo unido” para um Oriente Médio — a região “mais volátil” do mundo — mais estável.
Obama afirmou que o acordo não é sedimentado em confiança, mas em verificação. A frase de efeito rapidamente ecoou pelos meios de comunicação, reafirmando a imagem de Obama como um líder mundial em diplomacia e diálogo, mas também com a mão firme. Mão firme também demonstrada ao dizer que vetaria qualquer tentativa do Congresso de interferir no acordo, aproveitando a ocasião para elogiar publicamente outros membros de seu governo, considerando as eleições do ano que vem. Obama também insistiu na ideia de que deseja uma grande discussão sobre o acordo, com participação de todos os partidos. Principalmente, focou no futuro, citando mais de uma vez como um “futuro presidente” poderia lidar com o atual acordo. O legado do Obama líder, que coloca “a América” em seu papel de protagonismo.
Obama também pode construir a obtenção de um novo aliado contra o autointitulado Estado Islâmico; no caso, o outro vencedor de Viena, o Irã. O país passa atualmente por uma crise de abastecimento e de infraestrutura, forçada pelas sanções. Caso cumpra, dentro do prazo, tudo o que foi acordado, no início de 2016 o país terá mais de US$ 100 bilhões descongelados no exterior e poderá voltar ao papel de um dos principais fornecedores de petróleo e de gás do mundo. O Irã pode, em curto prazo, vivenciar um boom econômico, além dos benefícios políticos de deixar de ser visto como um Estado isolado ou belicoso. No médio prazo, pode voltar ao mercado de armamentos e retomar o desenvolvimento de foguetes, a versão civil dos mísseis balísticos.
Um Irã recuperado econômica e militarmente retornaria plenamente ao posto de potência regional, um ator geopolítico de peso no Oriente Médio. Como dito, um eventual aliado importante contra o EI, inclusive em defesa de seu próprio projeto de influência xiita, em apoio, por exemplo, ao Hezbollah no Líbano. Algo diretamente relacionado aos dois perdedores com o acordo. O primeiro é a monarquia saudita: a Arábia Saudita é a potência regional antagônica ao Irã, com sua atuação sunita consolidada em quase todos seus vizinhos, incluindo os países do Golfo Pérsico, citados por Obama. A monarquia absolutista é virtualmente absoluta militarmente e conta também com um programa de mísseis balísticos, além de estar em conflito com milícias apoiadas pelo Irã no Iêmen e de ter financiado o rearmamento do Líbano para eventualmente conter o Hezbollah.
Israel isolada
Se a Arábia Saudita viu ressurgir seu principal rival, Israel ficou politicamente isolado. O país também foi citado no pronunciamento de Obama, provavelmente mais preocupado com o impacto eleitoral das relações entre EUA e Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu passou os últimos anos condenando e tentando minar as negociações com o Irã, incluindo seu mais recente pronunciamento na Assembleia-Geral da ONU, agressivo e direcionado especificamente ao Irã. Após o anúncio do acordo, Netanyahu afirmou que se tratava de um “erro histórico”, fruto de uma política dissimulada do Irã para conseguir armamento nuclear. Netanyahu critica até mesmo um eventual programa enérgico do Irã, algo permitido pelo Tratado de Não Proliferação, do qual o país islâmico é signatário.Netanyahu acumulou uma década condenando de forma intempestiva qualquer negociação com o Irã. Entrou em confronto direto com a Casa Branca ao ir, sem convite do Executivo, ao Congresso dos EUA, de maioria republicana, para pedir que o Legislativo trave qualquer acordo. O discurso de Netanyahu foi boicotado por políticos democratas e condenado por Nancy Pelosa, líder do partido no Congresso. Isaac Herzog, líder da oposição em Israel, declarou que o país não teve nenhuma influência em Viena por culpa de Netanyahu, que deteriorou as relações exteriores do país, inclusive com seu maior aliado. A última cartada do premiê israelense foi uma conta do Twitter em farsi, para criticar o Irã no idioma local. Netanyahu foi o grande perdedor de Viena, dentro e fora de seu país.
Texto de Filipe Figueiredo.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
"A cultura do Renascimento na Itália" de Jacob Burckhardt.
Em "A cultura do Renascimento na Itália" (1991, Cia das Letras, Trad. Sérgio Tellaroli e Int. Peter Burke, 448 págs) do suíço Jacob Burckhardt (1818-1897), um dos melhores e mais completos ensaios que, ao mesmo tempo, possui surpreendente qualidade literária em meio a profunda e ampla análise do período. E por isso se firmou como obra de referência na História e historiografia sobre o período do Renascimento dos séculos XIV ao XVI.
A obra dividida em 6 partes (1) "O Estado como obra de arte", (2) "O desenvolvimento do indivíduo", (3) "O redespertar da antiguidade", (4) "O descobrimento do mundo e do homem", (5) "A sociabilidade e as festividades" e (6) "Moral e religião" resulta do extraordinário trabalho de Burckhardt, tornando-se obra de incontestável valor e referência-marco obrigatório a toda e qualquer outra ou trabalho ou pesquisa que trate do Renascimento italiano.
Sinopse: "'A cultura do Renascimento na Itália', assinala um ponto crucial na historiografia moderna. Publicado em pequena tiragem em 1860, este livro viu sua importância crescer gradativamente, até se tornar, na virada do século, um texto fundamental de referência não só para historiadores, mas também para filósofos e críticos de arte. A Cultura do Renascimento na Itália, considerada a obra-prima de Burckhardt, assinala um ponto crucial na historiografia moderna. Publicado em 1860, este livro viu sua importância crescer gradativamente, até se tornar, na virada do século, um texto fundamental de referência não só para historiadores, mas também para filósofos e críticos de arte. O estilo fluente e expressivo de Burckhardt, sua concepção da historiografia como arte, sua confiança na própria intuição psicológica e estética, sua estraordinária capacidade de síntese foram decisivas para a geração que tentava se libertar das grandes tradições acadêmicas do século XIX, ou seja, o positivismo e o hegelianismo. Burckhardt recusava, da corrente positivista, a fé na coleta indiferenciada de pretensos dados objetivos; da tradição hegeliana, ainda que dela não recusasse o conceito de "espírito da época", o historiador suíço rejeitava a visão da história como progresso contínuo. Por isso, à narrativa diacrônica, Burckhardt prefere a pintura dos grandes afrescos, em que procura identificar os elementos de continuidade de períodos bastantes extensos. Neste ensaio, por exemplo, a história política, cultural e religiosa da Itália dos séculos XIV, XV e XVI é unificada por um fio condutor que nela identifica o surgimento do individualismo moderno, idéia central para muitas pesquisas posteriores, de Max Weber a Ernst Cassirer.A significativa influência de Burckhardt deveu-se também aos cursos que ele ministrou regularmente, primeiro em Zurique e depois na Basiléia, de 1855 até sua morte, em 1897. A suas aulas corriam alunos de todos os cantos da Europa - entre outros, Friedrich Nietzsche e Heinrich Wölfflin, o futuro fundador da escola crítica da "visibilidade pura". Burckhardt foi um conferencista brilhante, tanto que Nietzsche afirma ter se entusiasmado pela primeira vez numa palestra graças a ele. A extrema vivacidade da escrita desta Cultura do Renascimento parece reter algo da fala encantatória daquelas aulas."
sábado, 4 de julho de 2015
Dica de Livro: Dado Villa-Lobos: memórias de um legionário
O que é estudar História? Por quê estudar História? Para quê estudar História?
Perguntas espontâneas que surgem tanto para quem se interessa pelo curso de História quanto para os que desejam saber as razões que levam alguém a estudar História. Estudar História não é um privilégio universitário. Mas é na universidade que esse estudo ganha sua forma organizada, sistemática. Estudar História é descobrir e apropriar-se do resultado da ação dos homens no tempo, que se transforma em realidade concreta individual e social. Essa realidade, para a História, forma o passado. Esse passado é experimentado – no presente – como algo a ser conhecido, entendido, explicado. Por quê? Para alcançar-se uma compreensão adequada do presente. Para quê? Para entender o conjunto da realidade social humana e projetar a ação presente e futura. Todo ser humano, de uma forma ou de outra, lida com o passado para situar-se em seu espaço de identidade e no mundo em que vive. O estudante que deseja obter um diploma universitário de História objetiva alcançar uma capacitação profissional que o habilita a investigar o passado de acordo com procedimentos metódicos, com o fito de elaborar narrativa que apreenda, descreva e explique – cientificamente – o passado que é patrimônio comum dele, de sua comunidade e da humanidade. O estudante interessado em torna-se um historiador deve estar consciente de que a História é um dos mais antigos saberes constituídos pela civilização. Com a Filosofia e a Literatura (poesia e teatro) a História está presente desde os primeiros momentos da nossa tradição ocidental. O esforço sistemático de compreensão racional do passado, resultando em uma obra escrita, remonta ao grego Heródoto, no século V a.C. No século XIX, com o desenvolvimento de vários instrumentos de pesquisa e de análise do documento, a História ganhou assumiu sua pretensão metódica de cientificidade. Ao buscar estabelecer os fatores explicativos confiáveis da ação humana no passado, a História ganhou reconhecimento entre as chamadas Ciências Humanas e Sociais. Hoje em dia, a construção do saber histórico tem consciência das variáveis de sua produção, de que dependem a verdade e a objetividade sociais a que se candidata. Assim, os historiadores hoje dedicam-se também às formas de apresentar o resultado de suas pesquisas não só na historiografia, isto é, nas narrativas historiográficas, mas igualmente no ensino e na formação dos novos historiadores. A História, por ser científica, dialoga com os demais campos do saber, como a Literatura, a Filosofia, a Política, a Antropologia, a Sociologia, o Direito, a Economia, pois o produto final do trabalho do historiador é um texto científico de múltiplas facetas, uma composição literária, em estilo que permita ser lido com prazer. Os futuros historiadores, portanto, devem buscar não só a competência em lidar com as fontes documentais e de outra natureza (visuais, plásticas, arquitetônicas, etc.), com a bibliografia acumulada ao longo das tradições e presente nas bibliotecas e arquivos, mas igualmente desenvolver a habilidade narrativa, com o ofício do escritor. Em particular desde o século XIX, a História desempenha um papel relevante na construção da identidade de várias nações. Assim como cada indivíduo tem uma memória pessoal, cada sociedade constrói uma memória coletiva, cada Estado promove uma “marca” própria. Certamente, os historiadores estão entre os principais artífices da memória coletiva, responsáveis não só pela constituição de um passado coletivo, nacional, como pela vigilância dos usos e abusos que deste passado possam vir a ser feitos. Há quem diga que, em função da contemporânea globalização, as histórias nacionais estão em baixa. Não é verdade. Hoje, ao mesmo tempo em que se assiste à mundialização econômica e cultural, verifica-se o recrudescimento das identidades, étnicas, religiosas e também nacionais. A História, contudo, tem dentro de si várias Histórias. Ela é plural tanto pela diversidade das perspectivas, a partir das quais é produzida, quanto pela riqueza dos temas que aborda. A História pode ser política, econômica, religiosa, das ideias, das mentalidades, dos costumes, da cultura, do cotidiano, das relações internacionais, das regiões, dos municípios, do mundo, antiga, medieval, moderna, contemporânea. Ela pode ser recortada em diversos ângulos e em diversos períodos. Sem embargo, em todas permanece a matéria-prima básica do historiador: o tempo e a ação humana nele. Os ritmos das ações humanas no tempo não são uniformes. Há um tempo longo, sedimentado, cuja transformação é lenta, como o da geografia ou das mentalidades. Pode-se falar também de tempos intermediários, como os dos ciclos econômicos, dos regimes políticos, das organizações sociais. Não se pode esquecer do tempo volátil, curto, o do quotidiano imediato, dos jornais, dos acontecimentos políticos. O historiador, no fundo, é um tecelão de temporalidades. O tecido final: a História, sobre cuja trama temporal se destaca o bordado no agir humano pensado e narrado pelo historiador.
Áreas de Atuação
O profissional com formação em História encontra-se tradicionalmente ligado à área do magistério, podendo exercer essa atividade nas escolas de ensino fundamental e médio, no caso de ter alcançado a licenciatura na graduação, ou nos estabelecimentos de ensino superior, quando portador de diploma de pós-graduação. A experiência de pesquisa e a aptidão de realizá-la com qualidade e autonomia são requisitos para a atividade acadêmica em estabelecimentos de ensino superior. “... Ensinar História é ensinar a fazer História. É impossível ensinar História sem o domínio suficiente de como se dá a produção histórica. Ensinar não se perfaz com transmitir conhecimentos, muito menos informação. Nem é o professor mero revendedor de mercadoria disponível no estoque do curso, ou simples executante de um programa de distribuição (facilitada por técnicas didáticas) de noções consolidadas pelo uso. Ao contrário, a reconstrução do próprio processo de pesquisa deve participar, de uma forma ou outra, do processo pedagógico. Já se vê que esta perspectiva permite resolver também a falsa dicotomia de objetivos de um curso de História, indeciso entre a formação do pesquisador e do professor: as diferenças existem, é clero, mas são de grau, contexto e organização prática do trabalho, não de natureza.” Nos últimos tempos, entretanto, os historiadores têm encontrado formas novas de exercer suas competências. Além do ensino e da pesquisa universitária, importantes campos de atuação para o historiador são aqueles ligados aos mais variados tipos de informação: arquivos, museus, bibliotecas, administração pública, perícia técnica (demarcação de quilombos e áreas indígenas, por exemplo) etc. Nos últimos decênios, o campo da pesquisa tem aberto caminhos instigantes, um deles, a atuação em organizações (principalmente as não-governamentais - ONGs), interessadas em compreender fenômenos sociais atuais cuja perspectiva histórica esclarece nuanças que, de outra forma, permaneceriam imperceptíveis. Os historiadores são também requisitados para trabalhar como assessores políticos. A História é uma das formas em que as sociedades interrogam criticamente a si mesmas. Cada época faz a trajetória temporal dos homens as perguntas e solicitações que suas próprias realidades e necessidades sugerem. A busca de respostas às nossas inquietações, aos dilemas políticos e pedagógicos tem um alvo: a educação escolar. A escola, como lugar social, local de trabalho, espaço de conflitos, de formas culturais de resistência, exerce, um papel fundamental na formação da consciência histórica dos cidadãos. A História e o seu ensino são, fundamentalmente, formativos. Esta formação não se dá exclusivamente na educação escolar, mas é na escola que experienciamos as relações entre a formação, os saberes, as práticas, os discursos, os grupos e os trabalhos cotidianos. Os professores de História sujeitos do processo vivenciam uma situação extremamente complexa e ambígua: trata-se de uma disciplina que é ao mesmo tempo extremamente valorizada, estratégica para o poder e a sociedade e ao mesmo tempo desvalorizada pelos alunos e por diversos setores do aparato institucional e burocrática. É na instituição escolar que as relações entre os saberes docentes e os saberes dos alunos defrontam-se com as demandas da sociedade em relação à reprodução, transmissão e produção de saberes e valores históricos e culturais. Neste sentido, as práticas escolares exigem dos professores de História muito mais que o conhecimento específico da disciplina, adquirido na formação universitária. Ora, o que o professor de História ensina e deixa ensinar na sala de aula vai muito além da sua especialidade. Daí decorre, o que parece óbvio: a necessidade de articular diferentes saberes no processo de formação. No caso, do professor de História, as dimensões éticas e políticas da formação, são extremamente importantes, pois o objeto do ensino de História é constituído de tradições, ideias, símbolos e representações que dão sentido às diferentes experiências históricas vividas pelos homens nas diversas épocas. O profissional de História é aquele que, independentemente do fato de estar atuando neste ou naquele setor específico, deve estar capacitado a discernir criticamente entre as perguntas, as respostas, as modalidades diversas em que a disciplina que escolheu dialoga com o social de que emerge e que a sustenta (em todos os sentidos do verbo sustentar).
FONTE.: http://alexandrehistoria.blogspot.com.br/
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