quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Por que gostamos de História?


Entrevista com o Historiador Jaime Pinsky

Jaime Pinsky é historiador com muito orgulho. Mas é, igualmente, o principal nome por trás da editora Contexto. Jaime Pinsky é, portanto, editor e empresário. Como passou de um extremo ao outro, sem deixar o historiador de lado, e conciliando, ainda, família e trabalho é assunto desta Entrevista. Desde o comércio de seus pais em Sorocaba, e sua ligação ancestral com os livros, passando pela História, e até pela fundação da editora da Unicamp, Jaime Pinsky nos fala de uma vida de realizações, até a Contexto, até seu mais novo livro: Por que Gostamos de História? Como se não bastasse, e sem esquecer seu lado articulista de jornal, nos brinda com impressões sobre as recorrentes "manifestações de junho"... ― JDB


Em Por que Gostamos de História, você conta um pouco da venda de seus pais, em Sorocaba. Como foi nascer um historiador filho de comerciantes? Como você chegou na História?

Mesmo que eu não fosse historiador profissional precisaria recorrer muito à História. Nasci e cresci em um bairro operário de Sorocaba, ao lado de váriasindústrias. Os fregueses do meu pai eram, quase todos, trabalhadores têxteis ou das oficinas da então Estrada de Ferro Sorocabana. Apitos das fábricas regulavam meus dias, dias de pagamento dos operários determinavam o fluxo de caixa da loja do meu pai, feriados cristãos e festas judaicas, mais do que o registro dos meses, marcavam o ano para mim.

Compreender o que acontecera com a grande família dos meus pais na Europa (mais de 100 parentes foram trucidados pelos nazistas), entender as greves e os movimentos operários dos amigos do meu pai em Sorocaba, situar-me como ser histórico no meio disso tudo era fundamental. Seria estranho eu não ter me tornado historiador.

Depois, mais para frente, você monta e dirige a editora da Unicamp. Agora, gostaria de saber como o historiador foi se encaminhando para o trabalho editorial?

Quando, muito jovem, e defendi meu doutorado na USP, a Faculdade de Filosofia de Assis, onde eu trabalhava, decidiu publicar, entre outras teses, a minha. Uma gráfica de São Paulo foi encarregada de editar a obra. Foi quando me aproximei do trabalho editorial pela primeira vez (estou falando de livros; já havia colaborado em jornais de Sorocaba, escrito no jornal escolar e fundado um outro chamado A luta estudantil).

Depois disso colaborei com várias editoras como coordenador de coleções, selecionador de obras, conselheiro etc. Quando o reitor da Unicamp decidiu criar a editora da universidade e nomeou um conselho, fui escolhido pelos colegas para ser o diretor-executivo, cargo que exerci por quase 5 anos.

Mais adiante, você funda a sua própria editora, a Contexto. Então, desta vez, pergunto: como o historiador passou a editor e, finalmente, empresário do mercado editorial?

Com a mudança de reitor na Unicamp coloquei o cargo à disposição, permaneci (a pedido dele) mais alguns meses, mas já inoculado pelo vírus da atividade editorial, com um projeto claro na cabeça (aproximar os produtores do saber, principalmente na Universidade, do leitor; promover a circulação do saber) decidi colocar minhas economias no projeto de uma editora própria.

A ideia inicial era formar uma sociedade com colegas da Unicamp e da USP, mas estes preferiram não investir dinheiro ― trabalhando apenas como coordenadores de áreas.

Desta forma instalei a Contexto em minha própria casa, colocando uma máquina de composição em plena sala (em cujos cantos ficavam pilhas de livros recém-chegados da gráfica). Em nenhum momento tive medo, tinha certeza de que o projeto daria certo.

Hoje, como você se divide? Qual Jaime Pinsky prevalece? Sei que equilibrar trabalho intelectual com administração de uma empresa não é para qualquer um. Logo, qual é o seu segredo?

O mundo de hoje permite uma multiplicidade de identidades, desde que elas não sejam contraditórias.

Livre de atividades administrativas na universidade, sem obrigações de aulas, aos poucos deixei de participar de bancas de doutorado e parei de dar pareceres em projetos apresentados aos órgãos financiadores de pesquisa (isso toma muito tempo de quem leva essas tarefas a sério).

Durante alguns anos administrei sozinho a Contexto, mas, com seu crescimento, comecei a procurar um sócio. Depois de cogitar de alguns nomes, decidi convidar, para fazer parte da empresa, meu filho Daniel, que tinha estudado administração de empresas. Ele cuida das áreas comercial e administrativa.

Com isso posso me dedicar mais à área editorial e de produção. Dividimos, é claro, as grandes decisões em todas as áreas.

Ora, a área editorial consiste, primordialmente, em selecionar textos, ler e escolher, sugerir alterações. A editora tem quase 1000 autores, grande parte da nata dos produtores de conhecimento (os que produzem, não os que ficam fazendo fofoca nos corredores das faculdades). É um privilégio trocar ideias com essa gente.

Ainda sou muito convidado para palestras (aceito poucas, sou um pouco preguiçoso), mas com a leitura que faço dos originais, de textos apresentados para tradução, com as conversas que tenho com os autores, acho que sou hoje melhor historiador do que quando estava na ativa dando aulas.


Uma coisa que eu, particularmente, admiro na Contexto é o espírito familiar. Como se fosse uma continuação daquele espírito dos seus pais, que te fizeram participar da loja deles. Gostaria de saber como os Pinsky hoje se distribuem na editora e como preservam a harmonia familiar?

Quando escolhi a carreira acadêmica sabia que se tratava de um trabalho pessoal, não o de um negócio de família. Não imaginava ter familiares ligados à minha atividade profissional. Circunstâncias fizeram com que familiares entrassem na editora.

Mirna, mãe dos meu filhos, participou do projeto inicial da editora, coordenando a área de literatura juvenil, que acabou sendo desativada por conta do nosso divórcio. Daniel, como já disse, me deixa tranquilo com sua capacidade de administrar e sua criatividade na área comercial. Luciana, minha caçula, depois de trabalhar em revistas e jornais relevantes, também optou por trabalhar comigo e agora faz parte da sociedade. Ela é a editora, coordena todo o trabalho operacional. Sua formação de jornalista e historiadora (pela USP) e sua preocupação com a língua, garantem a qualidade final dos textos publicados. E Carla, minha mulher há vinte anos, é uma editora muito eficiente, além de fazer parte do Conselho Editorial interno, que se reúne semanalmente.

A harmonia é resultado de uma postura de respeito mútuo. Sou pai, sou marido, sou avô, mas nas relações de trabalho respeito a opinião de todos, o que é fácil de dizer, mas difícil de fazer. É preciso ter a modéstia de não se achar o único dono da verdade. É muito frequente encontrar pais que se afastam de seus filhos quando estes ficam adultos por não conseguirem lidar com espíritos independentes. Eles perdem muito. Acho que uma das minhas qualidades femininas é ser agregador...

Muitos dos textos de Por que Gostamos de História enfocam atualidades, pois foram originalmente escritos para jornal. Assim, tenho a curiosidade de saber a opinião do historiador Jaime Pinsky sobre a recente onda de protestos que eclodiu no Brasil.

Após mais de quinhentos anos, dos quais apenas alguns em ambiente democrático, ainda presenciamos um divórcio total entre a Nação e o Estado, entre as "autoridades" e a sociedade. Esta deseja que Executivo, Legislativo e Judiciário de fato representem a Nação, o que não ocorre atualmente.





Convulsões como essa poderão ser mais frequentes e mais intensas se aqueles que ocupam o poder não se derem conta de que devem abrir mão de parte de suas vantagens materiais ou simbólicas.

Isto significa democratizar o poder. Isto significa também dialogar de verdade. Isto significa acabar com práticas inconcebíveis em uma democracia, desde o assalto explícito aos cofres públicos até a emissão de passaportes diplomáticos para familiares de políticos ― assim como administração mais transparente e fim de atribuição de cidadania de segunda e até terceira classe para os que não possuem amigos no poder.

A internet tem essa vocação de "biblioteca" ― apesar de, muitas vezes, se aproximar mais da "Biblioteca de Babel", de Borges. Enfim, lindando com a internet todos os dias, você acha que o interesse dos jovens pela História tende a aumentar?

O Ocidente não está mais considerando as religiões como explicadoras do mundo. Enquanto Adão e Eva resolviam o assunto, a História não era tão importante. Agora é necessário recorrer a ela para nos entendermos como seres reais: pessoas que falam determinada língua, têm certo padrão de comportamento, possuem um universo de valores e não outro, e por aí afora.

A internet para mim não significa nada em si. É como se me perguntassem: "E o papel?". Creio que, aos poucos (não sei quanto tempo isso vai levar), vai haver uma depuração e as pessoas não vão mais dizer, idiotamente, que acharam "na internet", mas qual a fonte. Pela rapidez ― e pela frequente leviandade ― com que as coisas são colocadas na internet, fica muito mais difícil selecionar notícias relevantes (e fidedignas) das irrelevantes (e não fidedignas). De resto, notícia não é fato histórico. Temos, portanto, um longo caminho pela frente.



Alguém uma vez disse que a política é a História no dia a dia. Continuando o assunto mais quente do momento, você tem esperança de que as novas ferramentas de comunicação e organização social possam renovar ou mesmo refundar nossa democracia participativa?
A agilidade das ferramentas de comunicação atuais facilita a comunicação, o encontro das pessoas, o questionamento das relações poder/sociedade, o desmascaramento de atitudes populistas de governantes, sem dúvida. Mas a reorganização da Nação tem que ser estruturada a partir de novas formas de diálogo organizado, além da democracia representativa que temos.

Não há como transformar o Brasil em uma imensa ágora, como se estivéssemos vivendo em Atenas, há 25 séculos, em uma sociedade com escravos, cujo trabalho permitia que os cidadãos (só os homens) ficassem vários dias deliberando em praça pública. Mas é possível reforçar e valorizar Conselhos Municipais, organizações de bairro, redefinir o papel do Judiciário e do Legislativo, transformar essa democracia formal que temos em uma democracia real.

Por fim, gostaria que você endereçasse algumas palavras àqueles que nos lêem e que, muito provavelmente, se sentiram inspirados pela sua trajetória. O que dizer ao jovem historiador brasileiro? E ao jovem editor? E ao jovem empresário?
Todos gostam de História, como diz o título do meu livro ― só não gostam os que não tiveram bons professores.

Lembro-me de uma senhora, esposa de um médico famoso, que foi me procurar no intervalo de um concerto no antigo Teatro Cultura Artística. Ela dizia que seu filho desejava fazer faculdade de História e, "ser um Jaime Pinsky". "Queria lhe pedir", disse ela, "que o dissuadisse dessa intenção, pois isso não dá dinheiro", ela acrescentou. Eu indiquei a ela a plateia, cheia de empresários, economistas, administradores, todos profissionais bem sucedidos e lhe disse: "Peça isso a qualquer um, qualquer pessoa da plateia, menos a mim. Eu nunca dissuadiria ninguém de querer ser historiador."

Há dois meses um jornalista de importante órgão de imprensa me entrevistou. No final da entrevista disse estar fazendo doutorado em História. Era, por incrível coincidência (ou não) o filho daquela senhora...

Vivemos o fim da era de Gutemberg. Novas mídias solicitam novos editores. Mas não adianta muito ser um técnico. Conhecer, de modo organizado e coerente, parte do patrimônio cultural da humanidade é fundamental para um editor, cuja função é estruturar e passar adiante esse patrimônio. Saber selecionar, fazer escolhas, adequar é quase um trabalho de professor, estabelecer conexão entre o que a humanidade já produziu e o que o aluno (ou o leitor) conhece.

Quem ficar apenas com a tecnologia poderá ganhar dinheiro, mas não terá nenhuma importância como editor. E editor desimportante é editor dispensável.

Fonte: www.digestivocultural.com

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Demonstração de combate medieval



Esqueça tudo o que você viu nos filmes. O Museu da Idade Média de Cluny fez um vídeo para simular como eram os combates em armaduras pesadas no século XV. O vídeo mostra que a armadura permitia uma certa mobilidade, o que até surpreende, mas que os combates não eram bem, como dizer, cinematográficos.
O que não deixa de ser sensacional. Veja:

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

5 "heranças" da Grécia Antiga para a nossa atualidade



A civilização que floresceu na Grécia Antiga teve implicações enormes sobre o desenvolvimento da humanidade. Em todos os setores da vida, seja nas leis ou na política, esporte ou terminologia, as inovações daquele período são importantes até hoje. Na verdade, é justo dizer que a civilização ocidental que conhecemos só existe por causa dos avanços feitos pelos nossos ancestrais gregos.


Jogos Olímpicos


O maior festival de esportes do mundo data da Grécia Antiga, do festival em Olímpia, em honra ao deus Zeus. Atletas de todo o mundo grego eram escolhidos para competir por honrarias. Os eventos dos Jogos Olímpicos originais incluíam arremesso de disco e lança, os quais são praticados até hoje.

Democracia



A palavra democracia tem sua origem na Grécia Antiga (demo=povo e kracia=governo). Este sistema de governo foi desenvolvido em Atenas (uma das principais cidades da Grécia Antiga). Embora tenha sido o berço da democracia, nem todos podiam participar nesta cidade. Mulheres, estrangeiros, escravos e crianças não participavam das decisões políticas da cidade. Portanto, esta forma antiga de democracia era bem limitada. Atualmente a democracia é exercida, na maioria dos países, de forma mais participativa. É uma forma de governo do povo e para o povo.

Filosofia


São vários filósofos que passaram pela Grécia mas a 3 de grande expressão para o hoje:
Sócrates foi o primeiro filósofo. Ele se importava com a natureza da beleza, com a sabedoria e com o que era certo. Seu método era fazer perguntas, tentar expor a fraqueza das noções preconcebidas pelos atenienses. Sócrates foi o mestre de Platão, o segundo grande filósofo ateniense.

Platão examinou a natureza da filosofia e a estabeleceu como uma ferramenta para analisar a ética da época. Ele concebeu algumas ideias abstratas (por exemplo, beleza, justiça, igualdade) que vão além do mundo físico. Ele ensinou ainda que para ser boas, as pessoas devem estudar e entender a natureza própria da bondade.


Aristóteles estudou na Academia de Platão, e foi tutor do então futuro imperador Alexandre, o Grande. Ele foi o responsável pelo primeiro jardim botânico e o primeiro zoológico do mundo. Aristóteles realizou questionamentos filosóficos sobre a natureza humana, concluindo que o maior bem na vida é a felicidade, à que todos deveríamos aspirar.

Teatro



O teatro constituía enorme parte da cultura grega. Havia teatros em toda cidade e competições premiavam os melhores escritores e atores. A palavra teatro vem do grego "Theatron", que descreve a parte da arena em que ficam os assentos ao ar livre, onde as pessoas assistiam às peças. As peças de comédia, tragédia e peças satíricas foram todas inventadas pelos gregos.

Julgamento com júri


Os atenienses antigos inventaram o julgamento com júri. Os jurados tinham que ser cidadãos de pelo menos 30 anos de idade. Um júri podia ter até 500 pessoas para garantir que fosse impossível subornar a maioria. Ao ouvir os dois lados de um caso, o júri decidia se o réu era culpado ou inocente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Enigma de Kaspar Haus: O filme e o caso real



O Enigma de Kaspar Hauser é uma das mais famosas obras cinematográficas do diretor Werner Herzog (Alemanha, 1974). Kaspar Hauser, em tradução literal, significa "cada um por si e Deus contra todos". É um filme denso, que nos mostra uma visão sobre a humanidade e faz uma reflexão sobre a unicidade do ser humano, da história de vida e experiências de cada um, e sobre o quanto linguagem e cultura representam para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1828, com supostamente 15 anos, quase não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano, pois desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. Sua trajetória de vida é o triste resultado de sua carência de cultura e do não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.

Muito tempo após sua reintegração na sociedade, já com a linguagem mais desenvolvida, percebe-se ainda a dificuldade de Kaspar Hauser em entender às pessoas e suas reações. Enquanto privado do convívio social, o silêncio era sua única companhia. Não somente a ausência de vozes externas, mas o silêncio interno, da mente vazia. Kaspar Hauser não poderia conhecer a si mesmo sem ter alguma relação interpessoal, sem referências. Não havia a linguagem para que ele pudesse definir as coisas que via e experimentava no cativeiro.

Sinopse
O filme apresenta Kasper Hauser em diversos momentos de sua vida e como se dá o desenvolvimento mental após o cativeiro.

No cativeiro, Kaspar Hauser aparece acorrentado, vítima de um homem com capuz, cujo rosto não pode ser visto, que lhe alimenta com pão e água e lhe ensina algumas palavras. Kaspar Hauser viveu nessa situação até o dia que esse homem, única figura humana com quem tinha contato, decide tirá-lo do cativeiro e ele então começa a aprender a andar. Esse mesmo homem o abandona em uma praça de Nuremberg, Alemanha. Kaspar Hauser fica atônito até ser encontrado por outro homem que lhe faz uma série de perguntas que ele não consegue compreender.


Logo a notícia da presença estranha daquele rapaz se espalha e Kaspar Hauser se torna alvo da curiosidade dos habitantes da cidade. Como as autoridades não conseguiram decifrar o enigma, Kaspar Hauser passa a viver em um estábulo sob a contínua observação das autoridades que só tinham as informações que o rapaz portava ao ser encontrado: um rosário, umas orações católicas manuscritas e uma carta que mencionava seu nome, a data de seu nascimento e a indicação de que ele deveria se tornar um cavaleiro tal como seu pai, cuja identidade não é revelada.

Em outro momento do filme, inicia o contato de Kaspar Hauser com a sociedade. As autoridades perceberam que ele só se alimentava de pão e água e que seus pés estavam feridos. Descobriram também que ele era capaz de reproduzir seu nome (um rudimento de escrita). Diagnosticaram seu caso como uma mente confusa que não poderia ser submetida a um inquérito policial e decidiram mandá-lo para a prisão junto com outros vagabundos.
Seu primeiro contato em um ambiente social é com a família do guarda do presídio e se dá através do filho do guarda, que o ensina a pronunciar as palavras com auxílio de um espelho. É com essa família que Kaspar Hauser toma seu primeiro banho e aprende a usar os talheres. A filha do casal tenta ensinar música para Kaspar Hauser e, apesar da dificuldade com a letra da melodia, ele se identifica com os sons. Kaspar Hauser tinha mais afinidades com animais e crianças.
As autoridades continuaram a investigação para saber mais sobre Kaspar Hauser, mas os gastos para mantê-lo longe da sociedade estavam altos e, então, decidiram enviá-lo para um circo.

Nesse novo momento, o filme apresenta as agruras e humilhações pelas quais passou Kaspar Hauser durante o tempo que esteve no circo. Ele é apresentado em espetáculos como uma aberração junto com outros indivíduos que também são especiais, cada um de uma forma diferente. Todos conseguem fugir do circo, correndo das pessoas que querem caçá-los. Kasper Hauser se esconde em uma cabana e é encontrado por um professor.

Após esse primeiro encontro com o professor Daumer, passam-se dois anos e Kaspar Hauser aparece como filho adotivo do professor. A cena mostra o professor e Kaspar Hauser assistindo a um jovem cego, Florian, tocar piano. Kaspar chora de emoção, pois a música o sensibiliza. Kaspar Hauser se sente envelhecido e cansado de tentar aprender coisas que para ele são difíceis e muitas vezes, sem sentido. O professor o consola e tenta reanimá-lo dando como exemplo o jovem Florian, que apesar de cego e de ter perdido toda a família em um acidente, não desanimou e toca piano o dia todo.

Após esse episódio, o filme passa a outro momento e Kaspar Hauser aparece tomando chá com os padres. Os religiosos estão interessados em saber o quanto o rapaz conhece de Deus. Kaspar Hauser os surpreende dizendo que não consegue imaginar que Deus tivesse criado tudo o que existe no mundo a partir do nada. Os padres tentam convencê-lo a crer através da fé e mais uma vez Karpar Hauser, em sua simplicidade e inocência, esclarece com muito bom senso, que precisará melhorar sua leitura e sua escrita para, posteriormente, compreender o restante.

Em todos os momentos do filme em que Kaspar Hauser é confrontado por alguém, ele se mostra muito mais sensato e lógico do que os homens educados. Quando Kaspar Hauser é convidado para sua primeira festa, mais uma vez se torna uma atração para os convidados. Kaspar é informado que o lorde que o convidou tem a intenção de adotá-lo e levá-lo para a Inglaterra. Porém, Kaspar Hauser não consegue causar uma boa impressão ao lorde e não se sente bem no ambiente festivo.

Em outro momento importante da trama, Kaspar Hauser sofre um atentado. Sua fama começa a incomodar algumas pessoas. Durante o atentado, Kaspar não se defende e nem pede ajuda. Machucado, procura um local escuro para se esconder, como se quisesse retornar ao seu tempo de cativeiro, quando não era atormentado pelos homens. Mais uma vez, Kaspar Hauser é auxiliado pelo professor Daumer, que o leva para casa e cuida para que ele se recupere. Kaspar Hauser tem delírios onde se encontra com a morte.

Pouco tempo depois, Kasper Hauser sofre um segundo atentado. Mesmo machucado, procura pelo professor Daumer e conta o que se passou. No local do episódio, o professor encontra um saco com um bilhete que sugeria o motivo pelo qual Kaspar Hauser havia sido atacado e fica subentendido que o atacante poderia ser seu pai. A verdade sobre a origem de Kaspar Hauser fica para sempre em segredo.

Essa obra do diretor Herzog é repleta de simbolismos. Podemos estudar as experiências vividas por Kaspar Hauser pela ótica tanto das ciências médicas como das sociais. A importância do aprendizado da linguagem para o bom relacionamento interpessoal é o fator que mais chama a atenção. Kaspar Hauser menciona em uma de suas falas:
- Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender.

Agora vamos ao caso real:





Trecho da 1º carta datada de 1828 e endereçada ao Capitão da Cavalaria:

“Honorável Capitão, envio a você esse rapaz que deseja servir ao seu Rei no exército. Ele me foi trazido no dia 7 de Outubro de 1812, eu sou somente um pobre trabalhador e já possuo os meus próprios filhos para criar. A mãe dele me pediu para cuidar dele como se fosse um filho meu. Desde então eu não o deixei dar um passo para fora de casa e assim ninguém sabe que eu o criei. Ele mesmo não sabe o nome do lugar ou onde se encontra. Você pode perguntá-lo honorável Capitão, mas ele não sabe onde eu moro. Eu o levei a cidade durante à noite, ele não saberá achar o caminho de volta. Ele não tem nenhum centavo, pois eu também não tenho nada. Se você não ficar com ele, você deve fuzilá-lo ou enforcá-lo.”
Junto com esta carta, havia também outra carta que o remetente anexou como se quisesse comprovar a sua história, supostamente a carta era da mãe da Kaspar, destinada ao remetente da primeira carta e datada de 1812, 16 anos antes da primeira carta. Trechos da 2ª carta:

“Essa criança foi batizada, seu nome é Kaspar. Você deve dá-lo um sobrenome que quiser. Peço que cuide dele, seu pai foi um soldado da cavalaria, quando ele fizer 17 anos leve-o para Nuremberg, para o 6º Regimento de Cavalaria, a mesma onde serviu o pai dele, eu lhe imploro que fique com ele até que complete 17 anos. Ele nasceu em 30 de abril de 1812, eu sou só uma pobre garota e não posso cuidar dele, o pai está morto.”


Ambas as cartas eram anônimas. Agora não só tinham um rapaz estranho, mas também duas cartas mais estranhas ainda. As autoridades resolveram estudar estas cartas mais atentamente e depois de várias análises, chegaram a uma conclusão que iria deixar tudo mais confuso e intrigante ainda. As cartas de acordo com as análises foram escritas pelas mesmas mãos, utilizando o mesmo tipo de papel e a mesma tinta. Estavam num beco sem saída, eles precisam fazer ou ensinar Kaspar a falar, ele talvez fosse a única chance de resolver seu próprio mistério.

Um médico real forense foi chamado para analisar Kaspar Hauser, que diagnosticou que o rapaz não era insano e nem possuía doenças mentais, mas que fora forçadamente desprovido de qualquer contato humano social e educacional. Notou também um anormalidade nos ossos dos joelhos de Kaspar, indicando que ele quase nunca ficou de pé. Com o passar dos dias sua dieta continuava se limitando a pão e água, qualquer outra coisa que ele comesse era imediatamente vomitada.

Kaspar começou a chamar a atenção dos médicos e pessoas à sua volta por diversas peculiaridades, ele era sempre gentil, carinho e ingênuo, não machucava sequer o menor inseto. Quando começou a mostrar reações, parecia as de uma criança vendo o mundo pela primeira vez. Ele não se reconhecia no espelho e era atraído por qualquer objeto brilhante. Seus conceitos de humanos e animais eram nulos e aos poucos começou a diferenciar, chamando todo e qualquer animal de ‘cavalo’. Enquanto estava na casa do carcereiro, lhe deram pequenos cavalos de madeira com os quais passava horas brincando sem notar sequer qualquer pessoa à sua volta. Rapidamente o seu caso começou a ganhar interesse público, muitos pensaram que ele era uma espécie de criança selvagem.

Junto com este interesse público, aumentou o número de visitas de curiosos que Kaspar recebia. Ele parecia não se sentir bem com isso e apresentou sintomas de depressão. Foi então que designaram um médico criminologista para tratar do jovem. O médico o visitou várias vezes na torre em que ele permanecia e constatou que Kaspar não agüentaria a pressão pública enquanto estivesse na torre. Ele precisava de um tutor e uma família. Então em 18 de Julho de 1828, se mudou para a casa de um professor universitário que tinha enorme reputação na área educacional e filosófica e recebeu a guarda do rapaz. Estudou Kaspar e manteve um diário do tempo em que passou com ele. Suas descobertas sobre comportamento e a capacidade de Kaspar Hauser mostraram-se mais intrigantes ainda. Em suas observações ele mostrou que Kaspar aprendia tudo rapidamente. A falar o alemão, a ler, escrever e foi nesse ponto da história que podendo se comunicar ele pôde contar o pouco que sabia de sua vida. Sua história emocionou a todos.

Ele disse que nunca tinha visto a luz do Sol, sempre viveu no escuro trancado numa cela suja de um metro de largura por um metro de comprimento e apenas meio metro de altura. A cela era trancada por uma pequena porta onde ele não conseguia ouvir nenhum barulho externo. Dormia sentado com as costas na parede e sempre que acordava via um pedaço de pão e um copo de água a sua frente, ele nunca comeu nada mais além disso. Algumas vezes a água tinha gosto estranho e ele então caía num sono profundo e ao acordar novamente via que seus cabelos e unhas tinham sido cortados e sua roupa trocada, raras vezes tentou se levantar e nunca viu claramente o rosto do homem que o aprisionava, que poucas vezes entrou na cela e ordenava que Kaspar ficasse de costas antes de abrir a portinhola para lhe ensinar algumas palavras e a escrever seu nome. Até que um dia durante a noite, o homem entrou e disse que levaria Kaspar para ver seu pai. Kaspar adormeceu devido a droga colocada em sua água e só acordou já perto de Nuremberg, onde o homem ordenou que continuasse andando sozinho sempre olhando para o chão. A caminhada com os frágeis pés e pernas foi torturante, até que ele foi encontrado pelo sapateiro na praça.

Mas as anotações do professor revelaram coisas mais extraordinárias ainda, Kaspar era capaz de enxergar no escuro, ele diferenciava cores e até mesmo lia a bíblia perfeitamente na mais absoluta escuridão. Sua capacidade de falar alemão aumentava rapidamente. Os músculos de seu rosto quase nunca se moviam o que foi melhorando gradativamente. Kaspar guiado pelo professor começou a se desenvolver psicologicamente e a se questionar sobre seu estado mental e também não conseguir entender como nunca imaginou que existisse outros seres humanos e tantas outras coisas no mundo. Kaspar começou a comer carne e sua dorça aumentava dia após dia, absorvia toda e qualquer ensinamento de forma esplêndido, aprendeu ler, escrever e tocar piano muito bem. E havia algo de mais extraordinário ainda em Kaspar, sua sensibilidade a eletricidade e aos metais, durante uma tempestade de raios ele sentia muita dor devido a eletricidade estática do ar. Conseguia distinguir vários tipos de metais simplesmente segurando um tecido que tivesse coberto o metal. Ao segurar um magneto ele sabia com precisão qual era o pólo positivo e o negativo, ele dizia que o lado positivo empurrava ele e o negativo fazia algo sair de seu corpo. Conseguia identificar os pólos também através de cores diferentes que via em cada um, coisa impossível para uma pessoa normal.

Essas peculiaridades foram suficientes para encher os jornais de toda a Europa. Recebia visitas de estudiosos de várias áreas de toda parte do continente. Pouco depois de Setembro ele começou a escrever sua autobiografia e isto foi motivo para mais artigos e grande expectativa por parte das pessoas. Ele passou a ser chamado de “O filho da Europa”.

17 de Outubro de 1829

O professor que adotara Kaspar saiu de casa para caminhar e Kaspar Hauser ficara sozinho em casa. Um homem vestido com uma capa preta entrou discretamente e foi até um cômodo até onde Kaspar sentado. Sem perceber o estranho invasor, o homem ergueu uma faca e foi rápido em direção a Kaspar. O Jovem olhou para trás e quando tentou reagir já era tarde demais, o homem já estava a meio metro de distância e num rápido movimento cravou a faca nas costas de Kaspar que caiu no chão e ouviu seu agressor gritar : “Você deve morrer antes de deixar Nuremberg”.

Kaspar Hauser sobreviveu. Ele fora encontrado inconsciente na adega da casa, local onde se arrastou para se esconder para caso o assassino voltasse. Ele sobrevivera graças a sua pequena reação ao ataque, fazendo a faca atingir uma região menos critica das costas, enquanto era tratado em febre, delirava dizendo frases intrigantes – Porque você mato eu? Eu nunca fiz nada pra você! Não me mata, eu implorar pra você não trancar eu. Você me matou antes de eu entender o que é a vida. Você precisa dizer pra eu porque me prendeu!

Estava claro que o homem que tentara assassinar Kaspar Hauser era o mesmo homem que o aprisionara por todos esses anos. Kaspar confirmou isso quando voltou a si, disse que a voz do atacante era a mesma voz que ouvira durante seu encarceramento. Nenhuma pista deste homem foi encontrada pela polícia, a não ser que alguns relatos de que um homem desconhecido vestido de preto havia perguntado para algumas pessoas sobre o estado de Kaspar. Cinco dias depois o grande Duque de Baden, morre e logo em seguida chega um aristocrata inglês amigo da família Baden em Nuremberg que estranhamente começou a perguntar e reunir todo tipo de informação sobre Kaspar Hauser.

Tempos depois o professor que cuidava de Kaspar ficou seriamente doente o que fez com que Kaspar precisasse se mudar. Kaspar muda-se para a casa do Barã Von Tucker que obteve a guarda legal de Kaspar. O Barão fez um grande trabalho na restauração física e emocional de Kaspar se tornando um excelente tutor.

Em Maio de 1831 o aristocrata amigo da família Baden começou a visitar Kaspar regularmente, ele sempre trazia muitos presentes e prometia levar Kaspar para morar em seu castelo na Inglaterra e isso começou a distanciar Kaspar das pessoas que realmente queriam ajudá-lo. O aristocrata ofereceu muito dinheiro a cidade de Nuremberg por ter cuidado de Kaspar e logo pediu sua guarda o que foi prontamente atendido que levou Kaspar consigo.

O aristocrata escrevia muitas cartas para sua família, mas não citou Kaspar em sequer uma delas, mais estranhamente ainda ele recebeu uma carta da grã-duquesa de Baden pedindo para encontrá-la na cidade de Mannheim e levar Kaspar Hauser que ela precisava desesperadamente conhecer. Mas estranhamente o aristocrata passou a guarda para um tal de Doutor Meyer, e partiu para Mannheim sem o jovem. Ele prometeu para Kaspar que voltaria para adotá-lo mas nunca mais se viram. Seu novo tutor era um homem severo que vivia chamando Kaspar de mentiroso e burro e tentava forçá-lo a ser um cristão de fé.

Na tarde de 14 de Dezembro de 1832 Kaspar recebeu um bilhete dizendo para ele ir para os desertos jardins de Hofgarten, onde alguém o estava aguardando para dar informações sobre sua mãe. Kaspar deu uma desculpa qualquer para seu tutor e foi para Hofgarten. Ao chegar lá um homem foi até ele e perguntou se ele era Kaspar Hauser. O jovem confirmou. O homem lhe deu uma bolsa e disse que dentro da mesma, estavam documentos que lhe esclareceriam tudo. Kaspar abriu a bolsa e quando tentou colocar a mão o homem sacou um punhal e perfurou o pulmão de Kaspar para logo em seguida cravar novamente o punhal no fígado dele e imediatamente fugiu.

Kaspar conseguiu ainda chegar a casa do Doutor Meyer que não acreditou na seriedade dos ferimentos e não chamou o médico de imediato. E então três dias depois, em 17 de Dezembro de 1832, Kaspar Hauser morre aos 21 anos de idade.

As últimas palavras de Kaspar foram ouvidas pelas pessoas que conviveram com ele.

Quando lhe perguntam se queria revelar algo “que lhe estivesse a pesar no coração”, Kaspar disse apenas que tinha uma história, mas apenas sabia o começo” Desta vez ninguém impediu que Kaspar contasse a sua enigmática narrativa incompleta “É sobre uma caravana e o deserto…”. “Vejo uma caravana grande que vem do deserto, através da areia… E esta caravana é conduzida por um velho berbere. Este velho é cego. A caravana para, porque alguns pensam que se enganaram, porque vêm montanhas à sua frente. Eles medem com o compasso e não sabem como continuar. Então, o guia cego pega numa mão cheia de areia, prova-a como se fosse comida. `Meus filhos´, diz o cego, vocês estão enganados, isto aqui à nossa frente não são montanhas. É unicamente a vossa imaginação. Vamos continuar para norte.´ Sim, e depois seguem, sem hesitação e chegam à cidade. E é aí que começa a história. Mas como continua a história nessa cidade, eu não sei… Agradeço por me terem ouvido. Agora, estou cansado”.

Assim poderia terminar a história de Kaspar Hauser, uma criança que sofreu maus tratos e apresentava peculiaridades devido ao cárcere e que certo dia foi assassinado por um maníaco. Mas a história de Kaspar Hauser não termina assim. Sua vida pode até ter terminado, mas sua história toma proporções muito maiores. E a pergunta chave que pode ser respondida juntando as peças do quebra-cabeça é : Quem foi Kaspar Hauser?

E quais são as peças do quebra-cabeça? São várias.

Por quê alguém trancaria uma criança por tantos anos e de repente devolveria ela para a sociedade?

Por que esse alguém, depois de descobrir que Kaspar não se tornou um soldado anônimo e ficou muito conhecido bem como sua história, volta a Nuremberg para tentar assassiná-lo?

E por quê essa tentativa de assassinato ocorreu logo que o Duque de Baden estava em seu leito de morte?

Por quê o súbito e obcecado interesse do aristocrata por Kaspar?

Por quê a Grã-duquesa de Baden queria se encontrar com Kaspar desesperadamente?

E por que o aristocrata impediu este encontro?


Dizem que muitas perguntas ligadas formam uma resposta. Ainda mais quando mais peças do quebra-cabeça surgem após a morte do jovem.

Uma semana após a morte de Kaspar o aristocrata envia uma carta para o próprio Kaspar. Era óbvio que já sabia da morte do jovem e então por que enviaria esta carta? O Rei da Baviera ofereceu uma enorme recompensa para quem entregasse o assassino de Kaspar Hauser. Imediatamente o aristocrata começou a espalhar que o jovem fora uma fraude, apoiado por Meyer que dizia que o jovem não tinha sido assassinado e sim cometido suicídio. O aristocrata chegou a ponto de ir a Nuremberg e tentar convencer as pessoas que conheceram Kaspar em seus primeiros dias de liberdade a mudar suas histórias e afirmar que o jovem era um impostor. Por que ele iria tão longe para tentar desmentir o jovem? A resposta pode estar na origem de Kaspar.

Antes mesmo dele morrer, boatos e até jornais da Europa alegavam uma suposta ligação de Kaspar com a nobreza. Depois de sua morte as coisas começaram a se ligar de uma forma que estas suposições iam se tornando certeza. E assim o criminologista que havia acompanhado Kaspar em Nuremberg, tomou frente das investigações. Não demorou muita para que concluísse que Kaspar não só era da nobreza como era o herdeiro do Duque de Baden. O Duque e a Duquesa eram seus pais, ele enviou os resultados de suas investigações numa carta particular para a Rainha Mãe da Bavária, tinha um relatório de 8 páginas alegando certeza dessa ligação.

Em 29 de Maio de 1832 o criminologista morre, ao que tudo indica, envenenado. Dois descendentes seus que também tomaram frente nas investigações também foram envenenados, mas não para por ai. Várias pessoas que tiveram contato direto com Kaspar morreram misteriosamente assim como o próprio Duque.

Tudo ficava mais intrigante, a teoria é de que quando a Duquesa deu a luz a Kaspar, a Condessa trocou os bebês levando um bebê doente prestes a morrer e deu um sumiço em Kaspar. E quando o bebê impostor morreu que todos pensaram se tratar de Kaspar o Duque ficou sem herdeiros o que significaria que o filho da Condessa seria o herdeiro. Essa teoria se fortalece quando o segundo filho da Duquesa também morre depois de nascer, mas nenhuma das outras filhas mulheres morre. O Caminho estava livre para Leopold, filho da Condessa, teoricamente era para Kaspar estar morto, mas a pessoa para qual foi entregue, por algum motivo não matou a criança e resolveu escondê-la em longo cárcere.

Mas anos depois quando Kaspar ressurge e sua fama pela Europa cresce com rumores de ligação nobre, Leopold se sente ameaçado e maquina junto com o aristocrata uma conspiração para por fim a vida de Kaspar. Falhando à primeira tentativa, o próprio Duque é assassinado para Leopold reclamar o trono. Quando finalmente conseguem matar Kaspar os reforços da casa Baden para ocultar pistas, destruir provas e documentos para abafar o caso, fortaleceram ainda mais essa teoria.

Essa é somente a teoria mais aceita com várias outras hipóteses. Existem aqueles que afirmam que Kaspar era um impostor, realmente, mas que tudo indicava o contrário. Também existem aqueles que dizem que a história de Kaspar era real e que ele não tinha nenhuma relação com a família de Baden, se for assim ele foi assassinado não por ser um herdeiro, mas porque acharam que ele fosse o herdeiro.

Com a tecnologia dos dias de hoje, finalmente conseguiram dar um passo a frente, ou atrás.

Em 1996 fizeram testes de DNA numa das calças de Kaspar e compararam com amostras de DNA de uma descendente direta da Duquesa, o resultado foi de que Kaspar não tinha ligações com a família de Baden e conseqüentemente que sua história era falsa, mas rapidamente descobriram que a calça utilizada não pertencia a Kaspar e novos testes foram feitos, e desta vez com roupas que certamente lhe pertenceram e o resultado foi unânime, Kaspar era sim descendente da Duquesa.

Muitos ainda não dão créditos a este último teste e o mistério continua a navegar pela história Kaspar Hauser foi enterrado atrás de uma calma Igreja e em sua lápide está escrito :

Aqui jaz Kaspar Hauser, enigma de seu tempo. Nascimento desconhecido, morte oculta.



Créditos do post para Escriba Café. 



sábado, 30 de agosto de 2014

"O Surrealismo sou Eu" a genealidade e as controversias de Salvador Dali




Os quadros de Dalí chamam a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, como nos sonhos, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e foi um artista com grande talento e imaginação. Era conhecido por fazer coisas extravagantes para chamar a atenção, o que por vezes incomodava os seus críticos. Salvador Domenec Felip Jacint Dalí Domenech era filho de Salvador Dalí i Cusí (de remota origem árabe), de classe média e figura popular da cidade, e de Felipa Domenech, uma dona-de-casa católica. Iniciou sua educação artística na Escola de Desenho Municipal. Em 1916, durante férias de verão em Cadaquès, descobriu a pintura impressionista. Sua primeira exposição pública foi no Teatro Municipal de Figueres, em 1919. Em 1921, sua mãe morreu e, passado um ano, o pai casou-se com Tieta, irmã de Felipa.

Em 1922, Dalí foi viver em Madri, onde estudou na Academia de Artes de San Fernando. Nessa época, ele já chamava a atenção nas ruas como um excêntrico, usando cabelo comprido, longos casacos, um grande laço no pescoço, calças até o joelho e meias altas. Nos quadros fazia experiências com o cubismo e o dadaísmo. Tornou-se amigo do poeta Federico García Lorca e do cineasta Luis Buñuel. Dalí foi expulso da Academia de Artes em 1926, depois de declarar que ninguém ali era suficientemente competente para avaliá-lo. Foi nesse mesmo ano que Dalí fez sua primeira viagem a Paris, onde se encontrou com Pablo Picasso. Nos anos seguintes, realizou uma série de trabalhos influenciados por Picasso e Miró, enquanto ia desenvolvendo seu estilo próprio.

O ano de 1929 foi importante para Dalí. Ele colaborou com Luis Buñuel no curta-metragem "Un Chien Andalou" e conheceu, em agosto, sua musa e futura mulher, Gala Éluard (Elena Ivanovna Diakonova, uma imigrante russa, na época casada com o poeta Paul Éluard). Ainda em 1929, Dalí fez exposições importantes e juntou-se ao grupo surrealista no bairro parisiense de Montparnasse. Em 1934 Dalí e Gala, que já viviam juntos, casaram-se numa cerimônia civil. Em 1939 os membros do grupo surrealista expulsaram Dalí por motivos políticos, já que o marxismo era a doutrina preferida no movimento e Dalí se declarava "anarco-monárquico". Dalí respondeu à sua expulsão declarando: "O surrealismo sou eu".

Quando do início da Segunda Guerra, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos, onde viveram durante oito anos. Em 1942, Dalí publicou sua autobiografia "A Vida Secreta de Salvador Dalí". Na Catalunha Dalí viveu o resto da vida. Em 1960, o pintor começou a trabalhar no Teatro-Museu Gala Salvador Dalí, em Figueres. Foi o projeto de maior vulto de toda a sua carreira e seu principal foco até 1974. Os últimos anos de vida com Gala foram turbulentos. Ela fazia com que Dalí tomasse antidepressivos e calmantes em altas doses, o que lhe danificaria o sistema nervoso. Gala morreu em 10 de junho de 1982. Dalí ficou profundamente deprimido, perdendo toda a vontade de viver.

Mudou-se de Figueres para um castelo em Pubol. Em 1984, deflagrou um incêndio no seu quarto, em circunstâncias pouco claras. Dalí foi salvo e levado para Figueres, onde um grupo de amigos assegurou que o pintor vivesse confortavelmente seus últimos anos no teatro-museu. Salvador Dalí morreu de pneumonia e falha cardíaca na cidade onde nasceu e foi sepultado no átrio principal de seu teatro-museu. As duas maiores coleções de trabalhos de Dalí são o museu Salvador Dalí em Saint Petersbourg, na Flórida, Estados Unidos, e o Teatro-Museu Gala Salvador Dalí, em Figueres, na Catalunha, Espanha.

A Persistência da Memória

 

Uma das mais conhecidas obras de Dali é esta acima, na tela encontram-se representados três relógios que marcam diferentes horas tendo como fundo a paisagem de Porto Lligat, localizado no norte de Espanha, (memória de infância de Dalí). Segundo o próprio autor, a solução formal dos relógios derivam de um queijo camembert que Dalí se encontrava a observar enquanto pintava. As suas formas sensuais têm uma evidente conotação sexual, nomeadamente o que se encontra no centro do quadro, estendido sobre uma pedra que simula o retrato do artista.

Dali via os relógios como instrumentos normalizados e exatos que traduziam de forma objetiva a passagem do tempo. O facto de os dotar de formas orgânicas remete-os para o universo de prazer, recordando a dimensão fugidía do tempo e o sentido de ambiguidade que a evolução temporal introduz pelo cruzamento da percepção da realidade com a casualidade e inexplicabilidade da memória.
Esta pintura traduz o interesse do pintor pelas conquistas da ciência moderna, cruzando teorias mais abstratas de física, nomeadamente a relatividade de Einstein, que colocou em causa a ideia de espaço e tempo fixos, com as pesquisas de Freud relativamente ao inconsciente e à importância dos fenómenos dos sonhos. A duplicidade de sentido das imagens e as inúmeras interpretações que promovem assim como a tendência para a criação de cenas absurdas repletas de signos indecifráveis, levaram a Dalí a designar esta forma de arte de crítica paranoica, em tudo oposta a uma visão racional do mundo.
De um ponto de vista técnico, esta pintura, assim como grande parte das criações de Dalí, perseguem um enorme virtuosismo e meticulosidade no desenho das formas e na representação dos pormenores, com objetivo de obter atmosferas dotadas de grande realismo, daí o frequente alinhamento desta fase criativa com o grupo dos surrealistas ilusionistas ou veristas.

Contém uma grande quantidade de referências de carácter historicista, particularmente as referentes à pintura maneirista ou à enigmática e fantástica obra do flamengo Jerónimo Bosch.
O quadro Persistência da Memória (também conhecida por Relógios Moles), foi pintado a óleo, aplicado sobre tela com 24,1 por 33 cm. Encontra-se exposto no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.

Walt Disney e Salvador Dalí

 

Escondido nos Arquivos dos Estúdios Disney, estava um projeto de um curta com a arte de Waltey Elias Disney com Salvador Dali. Em meados dos anos 40, Disney esquematizou com Dali para promoverem um curta baseado em suas artes surrealistas. Porém Disney não tinha dinheiro o suficiente para continuar, então só foram produzidos 17 segundos do curta original.

Agora, seu sobrinho, Roy Edward Disney, encontrou esse projeto esquecido e o finalizou com a equipe de animação dos Estúdios Disney.


Outras Obras

 

Sonho Causado Pelo Voo de uma Abelha ao Redor de Uma Romã um Segundo Antes de Acordar
(1944)

Os Elefantes (1948)


 Natureza Morta-Viva (1956)


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Neointegralismo: Cuidado o Fascismo ainda está vivo e escondido.



Este post faz parte do inicio da pesquisa sobre o Integralismo que faz parte da conclusão da graduação em História, aqui tento ver por simples pesquisa na internet, de artigo e sites, como o Integralismo ainda adere pessoas mais de 80 anos depois de sua fundação e ascensão(?), de ideologia influenciada pelo fascismo de Mussolini e se assemelhando com o nazismo de Hitler.

A Ação Integralista Brasileira foi fundado no ano de 1932, por Plínio Salgado, que era um escritor e jornalista, juntamente com Gustavo Barroso e Miguel Reale, foi através de uma visita à Itália que Plínio trouxe os ideais vistos em Mussolini e os camisas pretas. Com forte influencia nacionalista e com o Brasil vivendo um período turbulento na política nacional (estamos falando da Era Vargas) a ascensão de AIB foi rápida, aderindo muitos imigrantes, com sua maioria de italianos e alemães.

Nesta (rápida) introdução, em outro post vou falar mais sobre o Integralismo na década de 30, e vou me concentrar sobre ele hoje, sim ainda há uma gama de pessoas que seguem sua doutrina e participação de reuniões para discussão sobre os escritos de Plínio Salgado.

Com a extinção da AIB em 1937, nasceu em 2004 a Frente Integralista Brasileira a FIB, em sua página do Facebook, que tem mais de 5.000 curtidas, diz o seguinte:

"O Integralismo não é um partido, é um movimento.
É uma atitude nacional, um despertar de consciências.
É a marcha gloriosa de um povo"



Com extensa propaganda contra o estado atual do governo nacional, e contra democracia, pede para seus seguidores distribuir panfletos que questionam e menosprezam a inteligencia de quem lê (e pra deixar claro não sou petista, não sou direitista, nem nada dessas fajutos conceitos que o ser humano adora apontar para os outros). Num destes panfletos em pdf que a página do Facebook distribui está questionando a atual democracia do estado brasileiro com perguntas como: Nossa amada Pátria é independente? Não há escravidão aqui? Somos livres? Vivemos em um país democrático? 

Veja aqui o panfleto!

Vindo de um, como eles mesmo definem "movimento", que tem forte influencia Fascista, e que já tentara um golpe de Estado, com um lema "Deus, Pátria e Família" podemos dizer que essa ideologia nos nossos tempos não traz benefício político e social para o Brasil, afirmam que o nosso sistema político não é "para o povo", qual povo? deles? isso me preocupa bastante de ainda existir uma extrema direita mesmo minoria hoje, difundindo ataques a nossa democracia. Se dizem nacionalistas mais atacam o Brasil de forma desinteligente e grosseira, se a direita estivesse no poder atacariam da mesma forma? O problema é ver esse grupo nas manifestações de 2013, na Marcha da Família, Marcha da Ditadura(?) e o que mais chama a atenção é essa "cruzada" contra o "comunismo" e o "liberalismo", o mascote é um galo verde, espero que ele cante sozinho na fazenda, e vire passado como já era para virar.





quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Filmes com conteúdo Histórico




Estou trabalhando em um artigo para comunicação oral na UDESC e nele contem uma lista de filmes com conteúdo histórico, falo dessa maneira para deixar claro que os filmes são uma representação do passado, mas com uma visão do presente de seus diretores e de sua época, penso os filmes como o quadro de Rene Magritte (que é um dos meus artistas preferidos ao lado do grande Salvador Dali) O quadro que está acima se chama "A Traição das Imagens" que é um desenho de um cachimbo simples mais a legenda embaixo dele é que traz um grande enigma: “Ceci n´est pas une pipe” ou "Isso não é um cachimbo" ele apresenta a imagem e a nega logo em seguida, Magritte sempre trouxe em seus quadros, filosofias que fazem nos pensar na percepções das coisas, este quadro de 1929 foi muito criticado por apresentar uma imagem e logo disser que ela não é o que é(com certeza não), é isso que sempre me atraiu nas obras dos surrealistas que trazem traições(?) de visão.
Os filmes históricos são assim(para mim, lógico) mostram um lado da história que na tela pensamos ser daquele jeito, mais não o é, pode ser que aquelas histórias sejam entendiantes aos olhos de hoje, mais na tela grande, muda de conceito, o que podemos fazer é criticá-la para que os nossos alunos não o vejam como verdade absoluta (digo verdade para o conteúdo da ciência História) e isso é passar uma visão não positivista, mais humana, sobre determinado período.
Abaixo listei alguns filmes de conteúdo histórico. Confira:

FILME
TEMPO HISTÓRICO

300,
diretor: Zack Snyder
ano:2007

História Antiga, Batalha das Termópilas
CRUZADA,
Diretor: Ridley Scott
ano: 2005

História Medieval, Cruzadas
TROIA,
Diretor: Wolfgang Petersen
ano: 2005
História Antiga, Grécia, Guerra de Troia.
GLADIADOR,
Diretor: Ridley Scott,
ano 2000
História Antiga, Roma.

O RESGATE DO SOLDADO RYAN, Diretor: Steven Spienberg
Ano: 1998
História Contemporânea, II Guerra Mundial.
O NOME DA ROSA,
Diretor:Jean-Jacques Annoud
Ano:1986
Idade Média, Inquisição.
VATEL,
Diretor: Roland Joffé
Ano: 2000
História Moderna, Luís XIV.
RESTAURAÇÃO – O OUTRO LADO DA NOBREZA.
Diretor: Michael Hoffman
História Moderna, Pragas.
APOCALYPTO
Diretor: Mel Gibson
Ano: 2006
História da América, Incas, Descobrimento.
GUERRA DE CANUDOS,
Diretor: Sergio Rezende
Ano:1997
História do Brasil, Guerra de Canudos.
O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS
Diretor:Sylvio Back
Ano:2012
História de Santa Catarina, Guerra Contestado.

É obvio que há muito mais filmes que estes, mas na frente farei um post com muito mais filmes.