Kaspar Hauser, um personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1828, com supostamente 15 anos, quase não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano, pois desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. Sua trajetória de vida é o triste resultado de sua carência de cultura e do não desenvolvimento da linguagem. O total isolamento na caverna por tanto tempo, impactou fortemente sua formação como indivíduo.
Muito tempo após sua reintegração na sociedade, já com a linguagem mais desenvolvida, percebe-se ainda a dificuldade de Kaspar Hauser em entender às pessoas e suas reações. Enquanto privado do convívio social, o silêncio era sua única companhia. Não somente a ausência de vozes externas, mas o silêncio interno, da mente vazia. Kaspar Hauser não poderia conhecer a si mesmo sem ter alguma relação interpessoal, sem referências. Não havia a linguagem para que ele pudesse definir as coisas que via e experimentava no cativeiro.
Sinopse
O filme apresenta Kasper Hauser em diversos momentos de sua vida e como se dá o desenvolvimento mental após o cativeiro.
No cativeiro, Kaspar Hauser aparece acorrentado, vítima de um homem com capuz, cujo rosto não pode ser visto, que lhe alimenta com pão e água e lhe ensina algumas palavras. Kaspar Hauser viveu nessa situação até o dia que esse homem, única figura humana com quem tinha contato, decide tirá-lo do cativeiro e ele então começa a aprender a andar. Esse mesmo homem o abandona em uma praça de Nuremberg, Alemanha. Kaspar Hauser fica atônito até ser encontrado por outro homem que lhe faz uma série de perguntas que ele não consegue compreender.
Logo a notícia da presença estranha daquele rapaz se espalha e Kaspar Hauser se torna alvo da curiosidade dos habitantes da cidade. Como as autoridades não conseguiram decifrar o enigma, Kaspar Hauser passa a viver em um estábulo sob a contínua observação das autoridades que só tinham as informações que o rapaz portava ao ser encontrado: um rosário, umas orações católicas manuscritas e uma carta que mencionava seu nome, a data de seu nascimento e a indicação de que ele deveria se tornar um cavaleiro tal como seu pai, cuja identidade não é revelada.
Em outro momento do filme, inicia o contato de Kaspar Hauser com a sociedade. As autoridades perceberam que ele só se alimentava de pão e água e que seus pés estavam feridos. Descobriram também que ele era capaz de reproduzir seu nome (um rudimento de escrita). Diagnosticaram seu caso como uma mente confusa que não poderia ser submetida a um inquérito policial e decidiram mandá-lo para a prisão junto com outros vagabundos.
Seu primeiro contato em um ambiente social é com a família do guarda do presídio e se dá através do filho do guarda, que o ensina a pronunciar as palavras com auxílio de um espelho. É com essa família que Kaspar Hauser toma seu primeiro banho e aprende a usar os talheres. A filha do casal tenta ensinar música para Kaspar Hauser e, apesar da dificuldade com a letra da melodia, ele se identifica com os sons. Kaspar Hauser tinha mais afinidades com animais e crianças.
As autoridades continuaram a investigação para saber mais sobre Kaspar Hauser, mas os gastos para mantê-lo longe da sociedade estavam altos e, então, decidiram enviá-lo para um circo.
Nesse novo momento, o filme apresenta as agruras e humilhações pelas quais passou Kaspar Hauser durante o tempo que esteve no circo. Ele é apresentado em espetáculos como uma aberração junto com outros indivíduos que também são especiais, cada um de uma forma diferente. Todos conseguem fugir do circo, correndo das pessoas que querem caçá-los. Kasper Hauser se esconde em uma cabana e é encontrado por um professor.
Após esse primeiro encontro com o professor Daumer, passam-se dois anos e Kaspar Hauser aparece como filho adotivo do professor. A cena mostra o professor e Kaspar Hauser assistindo a um jovem cego, Florian, tocar piano. Kaspar chora de emoção, pois a música o sensibiliza. Kaspar Hauser se sente envelhecido e cansado de tentar aprender coisas que para ele são difíceis e muitas vezes, sem sentido. O professor o consola e tenta reanimá-lo dando como exemplo o jovem Florian, que apesar de cego e de ter perdido toda a família em um acidente, não desanimou e toca piano o dia todo.
Após esse episódio, o filme passa a outro momento e Kaspar Hauser aparece tomando chá com os padres. Os religiosos estão interessados em saber o quanto o rapaz conhece de Deus. Kaspar Hauser os surpreende dizendo que não consegue imaginar que Deus tivesse criado tudo o que existe no mundo a partir do nada. Os padres tentam convencê-lo a crer através da fé e mais uma vez Karpar Hauser, em sua simplicidade e inocência, esclarece com muito bom senso, que precisará melhorar sua leitura e sua escrita para, posteriormente, compreender o restante.
Em todos os momentos do filme em que Kaspar Hauser é confrontado por alguém, ele se mostra muito mais sensato e lógico do que os homens educados. Quando Kaspar Hauser é convidado para sua primeira festa, mais uma vez se torna uma atração para os convidados. Kaspar é informado que o lorde que o convidou tem a intenção de adotá-lo e levá-lo para a Inglaterra. Porém, Kaspar Hauser não consegue causar uma boa impressão ao lorde e não se sente bem no ambiente festivo.
Em outro momento importante da trama, Kaspar Hauser sofre um atentado. Sua fama começa a incomodar algumas pessoas. Durante o atentado, Kaspar não se defende e nem pede ajuda. Machucado, procura um local escuro para se esconder, como se quisesse retornar ao seu tempo de cativeiro, quando não era atormentado pelos homens. Mais uma vez, Kaspar Hauser é auxiliado pelo professor Daumer, que o leva para casa e cuida para que ele se recupere. Kaspar Hauser tem delírios onde se encontra com a morte.
Pouco tempo depois, Kasper Hauser sofre um segundo atentado. Mesmo machucado, procura pelo professor Daumer e conta o que se passou. No local do episódio, o professor encontra um saco com um bilhete que sugeria o motivo pelo qual Kaspar Hauser havia sido atacado e fica subentendido que o atacante poderia ser seu pai. A verdade sobre a origem de Kaspar Hauser fica para sempre em segredo.
Essa obra do diretor Herzog é repleta de simbolismos. Podemos estudar as experiências vividas por Kaspar Hauser pela ótica tanto das ciências médicas como das sociais. A importância do aprendizado da linguagem para o bom relacionamento interpessoal é o fator que mais chama a atenção. Kaspar Hauser menciona em uma de suas falas:
- Tenho que aprender a ler e a escrever para depois poder compreender.
Agora vamos ao caso real:
Trecho da 1º carta datada de 1828 e endereçada ao Capitão da Cavalaria:
“Honorável Capitão, envio a você esse rapaz que deseja servir ao seu Rei no exército. Ele me foi trazido no dia 7 de Outubro de 1812, eu sou somente um pobre trabalhador e já possuo os meus próprios filhos para criar. A mãe dele me pediu para cuidar dele como se fosse um filho meu. Desde então eu não o deixei dar um passo para fora de casa e assim ninguém sabe que eu o criei. Ele mesmo não sabe o nome do lugar ou onde se encontra. Você pode perguntá-lo honorável Capitão, mas ele não sabe onde eu moro. Eu o levei a cidade durante à noite, ele não saberá achar o caminho de volta. Ele não tem nenhum centavo, pois eu também não tenho nada. Se você não ficar com ele, você deve fuzilá-lo ou enforcá-lo.”
Junto com esta carta, havia também outra carta que o remetente anexou como se quisesse comprovar a sua história, supostamente a carta era da mãe da Kaspar, destinada ao remetente da primeira carta e datada de 1812, 16 anos antes da primeira carta. Trechos da 2ª carta:
“Essa criança foi batizada, seu nome é Kaspar. Você deve dá-lo um sobrenome que quiser. Peço que cuide dele, seu pai foi um soldado da cavalaria, quando ele fizer 17 anos leve-o para Nuremberg, para o 6º Regimento de Cavalaria, a mesma onde serviu o pai dele, eu lhe imploro que fique com ele até que complete 17 anos. Ele nasceu em 30 de abril de 1812, eu sou só uma pobre garota e não posso cuidar dele, o pai está morto.”
Ambas as cartas eram anônimas. Agora não só tinham um rapaz estranho, mas também duas cartas mais estranhas ainda. As autoridades resolveram estudar estas cartas mais atentamente e depois de várias análises, chegaram a uma conclusão que iria deixar tudo mais confuso e intrigante ainda. As cartas de acordo com as análises foram escritas pelas mesmas mãos, utilizando o mesmo tipo de papel e a mesma tinta. Estavam num beco sem saída, eles precisam fazer ou ensinar Kaspar a falar, ele talvez fosse a única chance de resolver seu próprio mistério.
Um médico real forense foi chamado para analisar Kaspar Hauser, que diagnosticou que o rapaz não era insano e nem possuía doenças mentais, mas que fora forçadamente desprovido de qualquer contato humano social e educacional. Notou também um anormalidade nos ossos dos joelhos de Kaspar, indicando que ele quase nunca ficou de pé. Com o passar dos dias sua dieta continuava se limitando a pão e água, qualquer outra coisa que ele comesse era imediatamente vomitada.
Kaspar começou a chamar a atenção dos médicos e pessoas à sua volta por diversas peculiaridades, ele era sempre gentil, carinho e ingênuo, não machucava sequer o menor inseto. Quando começou a mostrar reações, parecia as de uma criança vendo o mundo pela primeira vez. Ele não se reconhecia no espelho e era atraído por qualquer objeto brilhante. Seus conceitos de humanos e animais eram nulos e aos poucos começou a diferenciar, chamando todo e qualquer animal de ‘cavalo’. Enquanto estava na casa do carcereiro, lhe deram pequenos cavalos de madeira com os quais passava horas brincando sem notar sequer qualquer pessoa à sua volta. Rapidamente o seu caso começou a ganhar interesse público, muitos pensaram que ele era uma espécie de criança selvagem.
Junto com este interesse público, aumentou o número de visitas de curiosos que Kaspar recebia. Ele parecia não se sentir bem com isso e apresentou sintomas de depressão. Foi então que designaram um médico criminologista para tratar do jovem. O médico o visitou várias vezes na torre em que ele permanecia e constatou que Kaspar não agüentaria a pressão pública enquanto estivesse na torre. Ele precisava de um tutor e uma família. Então em 18 de Julho de 1828, se mudou para a casa de um professor universitário que tinha enorme reputação na área educacional e filosófica e recebeu a guarda do rapaz. Estudou Kaspar e manteve um diário do tempo em que passou com ele. Suas descobertas sobre comportamento e a capacidade de Kaspar Hauser mostraram-se mais intrigantes ainda. Em suas observações ele mostrou que Kaspar aprendia tudo rapidamente. A falar o alemão, a ler, escrever e foi nesse ponto da história que podendo se comunicar ele pôde contar o pouco que sabia de sua vida. Sua história emocionou a todos.
Ele disse que nunca tinha visto a luz do Sol, sempre viveu no escuro trancado numa cela suja de um metro de largura por um metro de comprimento e apenas meio metro de altura. A cela era trancada por uma pequena porta onde ele não conseguia ouvir nenhum barulho externo. Dormia sentado com as costas na parede e sempre que acordava via um pedaço de pão e um copo de água a sua frente, ele nunca comeu nada mais além disso. Algumas vezes a água tinha gosto estranho e ele então caía num sono profundo e ao acordar novamente via que seus cabelos e unhas tinham sido cortados e sua roupa trocada, raras vezes tentou se levantar e nunca viu claramente o rosto do homem que o aprisionava, que poucas vezes entrou na cela e ordenava que Kaspar ficasse de costas antes de abrir a portinhola para lhe ensinar algumas palavras e a escrever seu nome. Até que um dia durante a noite, o homem entrou e disse que levaria Kaspar para ver seu pai. Kaspar adormeceu devido a droga colocada em sua água e só acordou já perto de Nuremberg, onde o homem ordenou que continuasse andando sozinho sempre olhando para o chão. A caminhada com os frágeis pés e pernas foi torturante, até que ele foi encontrado pelo sapateiro na praça.
Mas as anotações do professor revelaram coisas mais extraordinárias ainda, Kaspar era capaz de enxergar no escuro, ele diferenciava cores e até mesmo lia a bíblia perfeitamente na mais absoluta escuridão. Sua capacidade de falar alemão aumentava rapidamente. Os músculos de seu rosto quase nunca se moviam o que foi melhorando gradativamente. Kaspar guiado pelo professor começou a se desenvolver psicologicamente e a se questionar sobre seu estado mental e também não conseguir entender como nunca imaginou que existisse outros seres humanos e tantas outras coisas no mundo. Kaspar começou a comer carne e sua dorça aumentava dia após dia, absorvia toda e qualquer ensinamento de forma esplêndido, aprendeu ler, escrever e tocar piano muito bem. E havia algo de mais extraordinário ainda em Kaspar, sua sensibilidade a eletricidade e aos metais, durante uma tempestade de raios ele sentia muita dor devido a eletricidade estática do ar. Conseguia distinguir vários tipos de metais simplesmente segurando um tecido que tivesse coberto o metal. Ao segurar um magneto ele sabia com precisão qual era o pólo positivo e o negativo, ele dizia que o lado positivo empurrava ele e o negativo fazia algo sair de seu corpo. Conseguia identificar os pólos também através de cores diferentes que via em cada um, coisa impossível para uma pessoa normal.
Essas peculiaridades foram suficientes para encher os jornais de toda a Europa. Recebia visitas de estudiosos de várias áreas de toda parte do continente. Pouco depois de Setembro ele começou a escrever sua autobiografia e isto foi motivo para mais artigos e grande expectativa por parte das pessoas. Ele passou a ser chamado de “O filho da Europa”.
17 de Outubro de 1829
O professor que adotara Kaspar saiu de casa para caminhar e Kaspar Hauser ficara sozinho em casa. Um homem vestido com uma capa preta entrou discretamente e foi até um cômodo até onde Kaspar sentado. Sem perceber o estranho invasor, o homem ergueu uma faca e foi rápido em direção a Kaspar. O Jovem olhou para trás e quando tentou reagir já era tarde demais, o homem já estava a meio metro de distância e num rápido movimento cravou a faca nas costas de Kaspar que caiu no chão e ouviu seu agressor gritar : “Você deve morrer antes de deixar Nuremberg”.
Kaspar Hauser sobreviveu. Ele fora encontrado inconsciente na adega da casa, local onde se arrastou para se esconder para caso o assassino voltasse. Ele sobrevivera graças a sua pequena reação ao ataque, fazendo a faca atingir uma região menos critica das costas, enquanto era tratado em febre, delirava dizendo frases intrigantes – Porque você mato eu? Eu nunca fiz nada pra você! Não me mata, eu implorar pra você não trancar eu. Você me matou antes de eu entender o que é a vida. Você precisa dizer pra eu porque me prendeu!
Estava claro que o homem que tentara assassinar Kaspar Hauser era o mesmo homem que o aprisionara por todos esses anos. Kaspar confirmou isso quando voltou a si, disse que a voz do atacante era a mesma voz que ouvira durante seu encarceramento. Nenhuma pista deste homem foi encontrada pela polícia, a não ser que alguns relatos de que um homem desconhecido vestido de preto havia perguntado para algumas pessoas sobre o estado de Kaspar. Cinco dias depois o grande Duque de Baden, morre e logo em seguida chega um aristocrata inglês amigo da família Baden em Nuremberg que estranhamente começou a perguntar e reunir todo tipo de informação sobre Kaspar Hauser.
Tempos depois o professor que cuidava de Kaspar ficou seriamente doente o que fez com que Kaspar precisasse se mudar. Kaspar muda-se para a casa do Barã Von Tucker que obteve a guarda legal de Kaspar. O Barão fez um grande trabalho na restauração física e emocional de Kaspar se tornando um excelente tutor.
Em Maio de 1831 o aristocrata amigo da família Baden começou a visitar Kaspar regularmente, ele sempre trazia muitos presentes e prometia levar Kaspar para morar em seu castelo na Inglaterra e isso começou a distanciar Kaspar das pessoas que realmente queriam ajudá-lo. O aristocrata ofereceu muito dinheiro a cidade de Nuremberg por ter cuidado de Kaspar e logo pediu sua guarda o que foi prontamente atendido que levou Kaspar consigo.
O aristocrata escrevia muitas cartas para sua família, mas não citou Kaspar em sequer uma delas, mais estranhamente ainda ele recebeu uma carta da grã-duquesa de Baden pedindo para encontrá-la na cidade de Mannheim e levar Kaspar Hauser que ela precisava desesperadamente conhecer. Mas estranhamente o aristocrata passou a guarda para um tal de Doutor Meyer, e partiu para Mannheim sem o jovem. Ele prometeu para Kaspar que voltaria para adotá-lo mas nunca mais se viram. Seu novo tutor era um homem severo que vivia chamando Kaspar de mentiroso e burro e tentava forçá-lo a ser um cristão de fé.
Na tarde de 14 de Dezembro de 1832 Kaspar recebeu um bilhete dizendo para ele ir para os desertos jardins de Hofgarten, onde alguém o estava aguardando para dar informações sobre sua mãe. Kaspar deu uma desculpa qualquer para seu tutor e foi para Hofgarten. Ao chegar lá um homem foi até ele e perguntou se ele era Kaspar Hauser. O jovem confirmou. O homem lhe deu uma bolsa e disse que dentro da mesma, estavam documentos que lhe esclareceriam tudo. Kaspar abriu a bolsa e quando tentou colocar a mão o homem sacou um punhal e perfurou o pulmão de Kaspar para logo em seguida cravar novamente o punhal no fígado dele e imediatamente fugiu.
Kaspar conseguiu ainda chegar a casa do Doutor Meyer que não acreditou na seriedade dos ferimentos e não chamou o médico de imediato. E então três dias depois, em 17 de Dezembro de 1832, Kaspar Hauser morre aos 21 anos de idade.
As últimas palavras de Kaspar foram ouvidas pelas pessoas que conviveram com ele.
Quando lhe perguntam se queria revelar algo “que lhe estivesse a pesar no coração”, Kaspar disse apenas que tinha uma história, mas apenas sabia o começo” Desta vez ninguém impediu que Kaspar contasse a sua enigmática narrativa incompleta “É sobre uma caravana e o deserto…”. “Vejo uma caravana grande que vem do deserto, através da areia… E esta caravana é conduzida por um velho berbere. Este velho é cego. A caravana para, porque alguns pensam que se enganaram, porque vêm montanhas à sua frente. Eles medem com o compasso e não sabem como continuar. Então, o guia cego pega numa mão cheia de areia, prova-a como se fosse comida. `Meus filhos´, diz o cego, vocês estão enganados, isto aqui à nossa frente não são montanhas. É unicamente a vossa imaginação. Vamos continuar para norte.´ Sim, e depois seguem, sem hesitação e chegam à cidade. E é aí que começa a história. Mas como continua a história nessa cidade, eu não sei… Agradeço por me terem ouvido. Agora, estou cansado”.
Assim poderia terminar a história de Kaspar Hauser, uma criança que sofreu maus tratos e apresentava peculiaridades devido ao cárcere e que certo dia foi assassinado por um maníaco. Mas a história de Kaspar Hauser não termina assim. Sua vida pode até ter terminado, mas sua história toma proporções muito maiores. E a pergunta chave que pode ser respondida juntando as peças do quebra-cabeça é : Quem foi Kaspar Hauser?
E quais são as peças do quebra-cabeça? São várias.
Por quê alguém trancaria uma criança por tantos anos e de repente devolveria ela para a sociedade?
Por que esse alguém, depois de descobrir que Kaspar não se tornou um soldado anônimo e ficou muito conhecido bem como sua história, volta a Nuremberg para tentar assassiná-lo?
E por quê essa tentativa de assassinato ocorreu logo que o Duque de Baden estava em seu leito de morte?
Por quê o súbito e obcecado interesse do aristocrata por Kaspar?
Por quê a Grã-duquesa de Baden queria se encontrar com Kaspar desesperadamente?
E por que o aristocrata impediu este encontro?
Dizem que muitas perguntas ligadas formam uma resposta. Ainda mais quando mais peças do quebra-cabeça surgem após a morte do jovem.
Uma semana após a morte de Kaspar o aristocrata envia uma carta para o próprio Kaspar. Era óbvio que já sabia da morte do jovem e então por que enviaria esta carta? O Rei da Baviera ofereceu uma enorme recompensa para quem entregasse o assassino de Kaspar Hauser. Imediatamente o aristocrata começou a espalhar que o jovem fora uma fraude, apoiado por Meyer que dizia que o jovem não tinha sido assassinado e sim cometido suicídio. O aristocrata chegou a ponto de ir a Nuremberg e tentar convencer as pessoas que conheceram Kaspar em seus primeiros dias de liberdade a mudar suas histórias e afirmar que o jovem era um impostor. Por que ele iria tão longe para tentar desmentir o jovem? A resposta pode estar na origem de Kaspar.
Antes mesmo dele morrer, boatos e até jornais da Europa alegavam uma suposta ligação de Kaspar com a nobreza. Depois de sua morte as coisas começaram a se ligar de uma forma que estas suposições iam se tornando certeza. E assim o criminologista que havia acompanhado Kaspar em Nuremberg, tomou frente das investigações. Não demorou muita para que concluísse que Kaspar não só era da nobreza como era o herdeiro do Duque de Baden. O Duque e a Duquesa eram seus pais, ele enviou os resultados de suas investigações numa carta particular para a Rainha Mãe da Bavária, tinha um relatório de 8 páginas alegando certeza dessa ligação.
Em 29 de Maio de 1832 o criminologista morre, ao que tudo indica, envenenado. Dois descendentes seus que também tomaram frente nas investigações também foram envenenados, mas não para por ai. Várias pessoas que tiveram contato direto com Kaspar morreram misteriosamente assim como o próprio Duque.
Tudo ficava mais intrigante, a teoria é de que quando a Duquesa deu a luz a Kaspar, a Condessa trocou os bebês levando um bebê doente prestes a morrer e deu um sumiço em Kaspar. E quando o bebê impostor morreu que todos pensaram se tratar de Kaspar o Duque ficou sem herdeiros o que significaria que o filho da Condessa seria o herdeiro. Essa teoria se fortalece quando o segundo filho da Duquesa também morre depois de nascer, mas nenhuma das outras filhas mulheres morre. O Caminho estava livre para Leopold, filho da Condessa, teoricamente era para Kaspar estar morto, mas a pessoa para qual foi entregue, por algum motivo não matou a criança e resolveu escondê-la em longo cárcere.
Mas anos depois quando Kaspar ressurge e sua fama pela Europa cresce com rumores de ligação nobre, Leopold se sente ameaçado e maquina junto com o aristocrata uma conspiração para por fim a vida de Kaspar. Falhando à primeira tentativa, o próprio Duque é assassinado para Leopold reclamar o trono. Quando finalmente conseguem matar Kaspar os reforços da casa Baden para ocultar pistas, destruir provas e documentos para abafar o caso, fortaleceram ainda mais essa teoria.
Essa é somente a teoria mais aceita com várias outras hipóteses. Existem aqueles que afirmam que Kaspar era um impostor, realmente, mas que tudo indicava o contrário. Também existem aqueles que dizem que a história de Kaspar era real e que ele não tinha nenhuma relação com a família de Baden, se for assim ele foi assassinado não por ser um herdeiro, mas porque acharam que ele fosse o herdeiro.
Com a tecnologia dos dias de hoje, finalmente conseguiram dar um passo a frente, ou atrás.
Em 1996 fizeram testes de DNA numa das calças de Kaspar e compararam com amostras de DNA de uma descendente direta da Duquesa, o resultado foi de que Kaspar não tinha ligações com a família de Baden e conseqüentemente que sua história era falsa, mas rapidamente descobriram que a calça utilizada não pertencia a Kaspar e novos testes foram feitos, e desta vez com roupas que certamente lhe pertenceram e o resultado foi unânime, Kaspar era sim descendente da Duquesa.
Muitos ainda não dão créditos a este último teste e o mistério continua a navegar pela história Kaspar Hauser foi enterrado atrás de uma calma Igreja e em sua lápide está escrito :
Créditos do post para Escriba Café.
Bah... estou com o filme baixado a mais de um ano e ainda não assisti...
ResponderExcluirBaita a leituraaaa